O trabalho da mulher no agro sempre existiu, elas administravam suas casas e famílias. Nos últimos 40 anos, entretanto, as mulheres deixaram de estar à sombra dos seus pais, maridos e irmãos para estar do lado e até mesmo na liderança, administrando os negócios.
Em outubro de 2022 a Forbes me desafiou com um novo projeto muito interessante: presidir o Grupo Forbes Mulher Agro, um grupo de networking forte e exclusivo voltado a mulheres em posição de liderança dentro do setor do agronegócio.
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Vivo o agro diariamente morando, trabalhando e criando meus filhos na fazenda pelos últimos 25 anos e no início, esta jornada era um pouco solitária, eram raras as mulheres na rotina diária das propriedades, seja tocando uma lavoura, encarregada da parte administrativa e contábil, comandando leilões de gado, participando de julgamento de gado em pista, acompanhando dias de campo, aprendendo sobre novos cultivares ou em cursos especializados, eventos, feiras e seminários. Felizmente isso fez parte da minha rotina nas últimas décadas, aprendi demais!
Sempre houveram as mulheres que foram como tratores, abrindo caminhos, sendo exemplo, outras que foram pontes, conectando estradas e aos poucos, nestes anos, o cenário foi se transformando, as mulheres que sempre se interessaram, começaram a participar cada vez mais deste mundo rural e hoje somos um número expressivo e estamos ocupando cada vez mais posições de liderança. Devido a mudança de cenário, surgiram inúmeros grupos de mulheres pelo país, visando apoiar este movimento, entre eles, o Forbes Mulher Agro, que reunirá mulheres em posições semelhantes de suas carreiras a fim de permitir que elas compartilhem desafios profissionais.
Na próxima semana, no dia 8 de março, é comemorado o Dia Internacional da Mulher, que foi oficializado pela ONU em 1975 como a data em que se celebram as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres, aproveitando a data, mergulhamos neste universo feminino e discutiremos a inserção da mulher no agronegócio brasileiro, suas conquistas e objetivos.
De acordo com o recém lançado Observatório das Mulheres Rurais do Brasil, parceria entre a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) e o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), que centraliza informações sobre o universo das mulheres que se dedicam ao agro, o número de estabelecimentos comandado por mulheres cresceu 44% entre os dois últimos Censos Agropecuários (2006-2017). Saindo de 656,255 propriedades, alcançando quase 1 milhão de estabelecimentos comandados por mulheres (946,075).
Portanto, quase 20% do total das propriedades rurais brasileiras, 947 mil de 5,07 milhões, são administradas por mulheres. Segundo o IBGE (2019), com base nos dados do Censo 2017, juntas, elas administram cerca de 30 milhões de hectares, o que corresponde a 8,5% da área total ocupada pela agropecuária no país.
Ainda segundo a Embrapa, 63% são trabalhadoras rurais, 12% vendedoras, 11% ocupam funções administrativas, 6% ocupam cargos de produção e indústria, 2,5% são profissionais especializadas, 2,3% técnicas e apenas 1,42% dirigentes. Os salários variam de R$ 4.329 a R$1.185,00. Ainda segundo a Embrapa, o tempo médio de estudo é 9 anos, a remuneração média é de R$1.693,00 e a diferença salarial entre homens e mulheres é de R$ 240, em média.
As mulheres respondem por pouco mais de um terço da população ocupada no agronegócio. 34,2%, portanto a participação das mulheres no setor do agronegócio ainda é menor do que na média da economia brasileira (43,7%).
Como podemos observar, apesar do aumento da participação feminina, nem tudo são flores, de acordo com o IBGE, as mulheres ocupam cerca de 37,4% dos cargos de liderança no Brasil, entretanto a participação feminina na administração das empresas no agro é de apenas 19%. Ainda existe um longo caminho a ser percorrido pelas empresas do agro para atingirmos a equidade na liderança.
Participei recentemente do programa Jornada do Feminino da colunista da Forbes e especialista em desenvolvimento humano Flavia Camanho e anotei uma frase “Nunca foi tão oportuno ser mulher no mundo como agora” eu me aproprio da frase e a adapto “Nunca foi tão oportuno ser mulher no agro como agora! São muitas oportunidades, muitos caminhos e pontes a serem construídas, vamos juntas!
*Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio.
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