Tem crescido exponencialmente a participação feminina em todos os segmentos do agronegócio brasileiro. Os dados do Censo Agropecuário do IBGE de 2017 (são os mais recentes disponíveis) diziam que 19% dos estabelecimentos rurais do Brasil eram comandados por mulheres.
A maioria na Região Nordeste (57%), seguida pelo Sudeste (14%), Norte (12%), Sul (11%) e Centro-Oeste (6%). A faixa etária predominante das produtoras rurais era entre 45 e 54 anos; 60% tinham ensino superior completo e 28% tinham terminado o curso médio. Os estabelecimentos rurais dirigidos por elas somavam 30 milhões de hectares (8,5% da área total trabalhada em 2017).
Por outro lado, pesquisa realizada pela Fundação Getulio Vargas, em 2018 mostrou que as mulheres ocupavam 34% dos cargos gerenciais do agronegócio, bem mais que os 19% da atividade rural.
Mas não é só no setor empresarial – no campo ou nas cadeias produtivas do agro – que esse sucesso vem ocorrendo. Nos últimos 10 anos, duas mulheres exerceram a função de ministra da Agricultura: Kátia Abreu e Tereza Cristina, ambas produtoras rurais. A primeira está terminando seu mandato de senadora por Tocantins. A segunda acaba de ser eleita para o Senado com expressiva votação por Mato Grosso do Sul.
No Meio Ambiente, tivemos Izabella Teixeira (como ministra de 2010 a 2016) e Marina Silva (ministra de 2003 a 2008 e atual ministra, depois de ser eleita como deputada federal). Nas unidades da federação, esse fenômeno também vem acontecendo: em São Paulo, que não é exatamente um estado agrícola, mas tem enorme peso no agronegócio, foi secretária da Agricultura a engenheira agrônoma Mônika Bergamaschi. Em Minas Gerais, foi Ana Valentini, também agrônoma.
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Na ciência e no desenvolvimento tecnológico, a atuação feminina é relevante há muito tempo. Victoria Rossetti, primeira mulher formada pela Esalq em 1937, foi presidente da importante instituição mundial de virologia de citrus, tendo recebido dezenas de prêmios e homenagens, como a medalha Sigma da Universidade da Califórnia, o título de professora honorária da Universidade da Flórida, a Grã- -Cruz do Mérito Científico da Presidência da República e muitos outros.
Johanna Döbereiner, tcheca, naturalizada brasileira em 1956, liderou o programa de fixação biológica do nitrogênio no solo, fator determinante para o crescimento espetacular da cultura de soja no Brasil. Teve assento na Academia de Ciências do Vaticano e recebeu inúmeros prêmios e reconhecimentos.
Mariangela Hungria, engenheira agrônoma e pesquisadora da Embrapa Soja, em Londrina, está na relação dos pesquisadores mais influentes do mundo, de acordo com a Universidade de Stanford (EUA). A lista de grandes cientistas não tem fim.
Na área de economia e sociologia rural, há grandes destaques, bem como no meio ambiente e sustentabilidade, na mídia especializada, no ensino e extensão rural. Na liderança de organizações de representação, o céu é o limite: são tantas as estrelas de primeira grandeza que seria necessário um firmamento só para elas.
Pode-se dizer que o agro deixou de ser, há muito tempo, um setor masculino. Felizmente!
Roberto Rodrigues é engenheiro agrônomo, agricultor, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV e embaixador especial da FAO para Cooperativas. Participa de diversos conselhos empresariais, institucionais e acadêmicos.
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Artigo publicado na edição 105, de janeiro de 2023.