A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, pode meio da unidade Instrumentação, localizada em São Carlos (SP), desenvolveu em parceria com a agfintech Agrorobótica, a AGLIBS, uma plataforma de IA (Inteligência Artificial), uma tecnologia que integra diferentes softwares e sensores avançados que permitem a digitalização do solo e das atividades agrícolas.
A inovação viabiliza o acesso à agricultura de precisão e à comercialização de crédito de carbono no mercado voluntário internacional. A tecnologia permite financeiramente medir, reportar, verificar e comercializar (MRVC) o carbono na agricultura, ao mesmo tempo em que faz a gestão da fertilidade do solo e nutrição das plantas, para o gerenciamento de indicadores de sustentabilidade e produtividade agrícola.
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O anúncio da tecnologia ocorreu nesta semana, como parte das comemorações dos 50 anos da Embrapa e estará disponível ao público durante a Agrishow, feira de tecnologias que acontece na próxima semana, de 1º a 5 de maio, em Ribeirão Preto (SP). Vale registrar que a Agrorobótica é uma spin-off da Embrapa Instrumentação criada em 2015, que começou com um funcionário e três estagiários e hoje conta com equipe multidisciplinar de 30 funcionários. A startup é o primeiro centro fotônico no país, voltado para agricultura em operação comercial e escalável.
Tecnologia vai em busca de carbono mensurável
A AGLIBS foi desenvolvida alinhada a critérios científicos aceitos internacionalmente e tem como base a tecnologia LIBS (Laser Induced Breakdown Spectroscopy), a mesma técnica que a Nasa (Agência Espacial norte-americana) embarcou nos robôs para avaliação do solo do Planeta Marte.
No segundo semestre de 2022, a tecnologia LIBS foi aprovada mundialmente pela certificadora americana Verra, que gerencia o principal programa voluntário de mercados de carbono do mundo, o VCS (Programa Verified Carbon Standard).
De acordo com a pesquisadora da Embrapa, Débora Milori, que coordena o Lanaf (Laboratório Nacional de Agrofotônica), a LIBS é uma técnica espectro analítica rápida, reprodutível e limpa. “Ela usa pulsos laser de alta energia para criar um microplasma na superfície da amostra, e assim, determinar a sua composição química. Por ser uma técnica analítica direta, ela pode ser aplicada a uma grande variedade de amostras em diferentes estados físicos da matéria”, explica Milori.
Segundo a pesquisadora, na agricultura, o LIBS permite analisar a composição química de solos sem a necessidade de um laborioso preparo de amostras e qualquer geração de resíduos químicos. Portanto, o uso do LIBS na Agricultura e Meio Ambiente é tão inovador e sustentável.
De acordo com o CEO da Agrorobótica, Fábio Angelis, a tecnologia faz análises de 22 parâmetros do solo e que seus hardware e software estão em fase de patenteamento. Entre os parâmetros medidos estão: carbono quantitativo e qualitativo dos solos, textura (teores de areia, silte e argila), estoque de carbono no solo (em tonelada por hectare), densidade do solo, pH, macro e micronutrientes, tudo de forma rápida, econômica e precisa, sem gerar resíduos químicos.
“É diferente dos métodos de análise de solos convencionais que utilizam vários reagentes químicos para extrair esses nutrientes do solo e usam mais de dez métodos de medidas diferentes para obter a mesma informação que o LIBS mensura com um único tiro laser”, afirma Angelis.
A empresa aposta em um modelo de prestação de serviços diferenciado para a nova tecnologia, oferecendo consultoria aos agricultores que fazem adesão ao programa de carbono. Segundo Angelis, os serviços têm início com o envio do CAR (Cadastro Ambiental Rural) da propriedade sobre o qual todo o planejamento amostral estratégico do projeto é realizado. Esse trabalho leva em consideração múltiplas informações para uma amostragem inteligente representativa.
“Esses dados são enviados para a equipe de coleta no campo que acessam as informações via aplicativo de celular. A coleta de solo é georreferenciada e cada amostra de solo é identificada com QRcode único. As informações do campo são enviadas para a nuvem e acessadas antecipadamente pela equipe da Agrorobótica. Em seguida essas amostras são transportadas para o Centro Fotônico da Agrorobótica onde cada amostra é rastreada e identificada,” diz Angelis.
Ele lembra que a plataforma está alinhada às orientações das metodologias da certificadora internacional Verra, o que permite a certificação do carbono e da fertilidade no solo. O crédito de carbono será gerado e convertido em VCU (sigla em inglês para Unidades de Carbono Verificadas), que pode ser negociado no mercado voluntário internacional e prover uma monetização inovadora para o agricultor. (Com Embrapa)