“O cliente pode ser pequeno ou grande, mas ele precisa ter uma mentalidade na tecnologia. Ele busca na tecnologia o retorno que ela dá”, diz Christian Gonzalez, vice-presidente da Case IH para as Américas do Sul, Central e Caribe, uma das maiores fabricantes de máquinas agrícolas que pertence ao grupo multinacional CNH Industrial. “Isso gera todos os nossos investimentos.” À frente de um time gigante de técnicos, Gonzalez comandou os trabalhos de um dos principais momentos da marca, todos os anos: a participação na Agrishow – Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação, que começou no dia 1 de maio e terminou nesta sexta-feira (5).
Entre 2019 e 2021, o grupo investiu globalmente em novas estruturas e tecnologias US$ 2,2 bilhões, destinando para o período de 2022 a 2024 mais US$ 4 bilhões (cerca de R$ 22 bilhões na cotação atual). No final da tarde de hoje, os organizadores da Agrishow informaram um volume recorde de R$ 13,290 bilhões em negócios gerados e intenções de compra em máquinas agrícolas, de irrigação e de armazenagem, em relação à feira de 2022, com R$ 11,243 bilhões. O crescimento foi de 18,2%.
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No caso da Case IH, Gonzalez parece ter um mantra sobre as apostas da marca em digitalização e produtividade, tomando por base a conectividade, a IA (inteligência artificial), a automação e a eletrificação dos processos nas lavouras. Insumos com todas essas ferramentas foram mostradas na Agrishow. “Softwares e hardwares estão internalizando tecnologias”, diz o executivo. “Neste ano, 100% de nossas máquinas já estão saindo de fábrica conectadas. Não é uma opção.”
Até 2024, a frota de máquinas conectadas e da marca, como tratores, colheitadeiras, entre outras, deve chegar a 50 mil operando no Brasil. Um ranking global da Case IH coloca o Mato Grosso como o estado que mais adota tecnologias entre os top 5, o dobro do segundo lugar, o estado do Illinois, seguido do Arkansas, ambos nos EUA. “A gente dizia que o Brasil ia ser um dos pioneiros e isso estamos vendo agora, na prática”, afirma Gonzalez.
Do mesmo grupo, a CNH Industrial, o italiano Carlo Lambro, presidente da New Holland Agriculture e CEO da CNH Industrial naquele país, é figura constante na Agrishow e neste ano não foi diferente. Nos próximos dois anos, a New Holland deve colocar no mercado novos 50 produtos, entre 10 e 15 por ano. No último período, a marca investiu US$ 900 milhões em soluções tecnológicas visando conectividade, automação e energias limpas, como tratores a biometano. E anunciou que investirá R$ 340 milhões no país.
No ano passado, a marca vendeu globalmente 150 mil tratores, 8 mil colheitadeiras e 15 mil enfardadeiras de feno. “O Brasil está se tornando o primeiro mercado de colheitadeiras no mundo para a marca”, diz Lambro.
Eduardo Kerbauy, vice-presidente da New Holland para a América Latina, lembra de um tempo hoje remoto para o agro. “Quando se falava em piloto automático parecia algo quase inacessível e hoje ele é standard”, afirma ele. Questionado qual a próxima tecnologia que se tornará padrão, ele é rápido na resposta: “telemetria vai ser padrão, basta ver a quantidade de centros de inteligência para o agro”. Outras tendências nesse rumo são o metaverso e a tokenização para os grãos.
Para a norte-americana John Deere, do grupo Deere & Company, o aumento da conectividade do campo, sob a sua batuta no Brasil, está ligado ao esforço para que os produtores se engajem no projeto Campo Conectado, uma colaboração com a Claro e a startup SOL que visa a adoção da chamada agricultura 5.0. De acordo com a empresa, já foram entregues 4 milhões de hectares de cobertura 3G e 4G no país e há outros 3 milhões em negociação.
Campo está mudando as suas demandas
Na Massey Fergusson, o executivo Luis Felli , vice-presidente e head global da AGCO Corporation, que também é dona de marcas fortes no agro, como Valtra e Fendt, disse na Agrishow que há uma mudança nítida no mercado de máquinas. Não por acaso, o Brasil foi alvo de investimentos da ordem de R$ 340 milhões em infraestrutura, o que fez a marca sair do patamar de 14 mil máquinas fabricadas localmente em 2019, para 29 mil máquinas no ano passado. “Aumento do número de máquinas é importante, mas o tamanho hoje importa”, afirma.
Felli diz que os motivos da procura dos produtores por máquinas mais robustas, como colheitadeiras, tratores e pulverizadores, são dois: se o produtor pode fazer o serviço com uma, ele economiza; e as segundas safras, que no Centro-Oeste é uma realidade, agora avançam para áreas do Matopiba (região que compreende o encontro dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), que compreende 337 municípios, 31 microrregiões e cerca de 73,1 milhões de hectares. “Hoje, a segunda safra no Piauí e Tocantins vem crescendo e não vai parar”, aposta Felli.
A Fendt, marca que desembarcou no Brasil em 2019 e que está indo também para o Paraguai, chegou ao país trazendo uma das maiores colheitadeiras do mercado e, segundo seus executivos, é a maior em operação no país, ao custo de cerca de R$ 4,5 milhões. Fábio Dotto, diretor de produto da Fendt e Valtra, afirma que, embora neste momento haja uma redução dos preços da commodities, principalmente na soja, a safra de grãos deve bater recorde em 2022/23, com 330 milhões de toneladas, e já está posto novo recorde para 2023/24.
“Janelas curtas pedem equipamentos eficientes”, afirma o executivo. “Entre produtividade e custo, tudo que fica no meio é margem. Toneladas por hectare, hora/dia de máquina parada pesam.” A Fendt, por exemplo, está investindo neste ano e no próximo R$ 660 milhões para sair de 22 lojas e chegar a 40 lojas, além da aposta nas operações on line. No caso da Valtra, no país desde os anos 1960, Dotto diz que a estimativa é sair dos atuais 168 pontos de vendas, para 200, nos próximos três anos. “As tecnologias estão chegando mais rapidamente e nos últimos anos estamos muito atentos à experiência do cliente na sua adoção”, afirma.