Uma dúzia de pequenas cânulas injetam a marinada doce e salgada diretamente na carne do frango. O movimento rápido leva apenas um segundo e, em seguida, o frango segue na esteira transportadora. Em seguida, o próximo desliza para absorver a poção secreta — descrita pela Forbes, no chão do frigorífico, como “pó de pirlimpimpim“.
Apenas algumas horas antes, as aves eram transportadas vivas. Depois que os são frangos abatidos, eles seguem para o resfriamento por algumas horas. Em seguida, algo raro em um frigorífico de frangos acontece neste caso: as asas e as pernas são fixadas e preparadas com um barbante para que fiquem prontas a receberem a marinada. Mas isso não ocorre como encomenda de para qualquer rotisserie: elas são destinadas à mais icônica do varejo norte-americano.
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Os aromáticos frangos de rotisserie da Costco, para serem assados em casa, por U$ 4,99 (R$ 24 na cotação atual), provocam água na boca dos clientes de suas lojas nos EUA. É por isso que a varejista investiu cerca de US$ 1 bilhão (R$ 4,8 bilhões) para construir um frigorífico de última geração, que envia ao mercado 1 milhão de frangos por semana, e expandir sua própria rede de avicultores parceiros. Essa conta, paga nos últimos oito anos, ajudou a Costco a se tornar a única varejista a possuir um frigorífico de frangos.
Fundada em 1983, em Seattle, a Costco é a maior operadora de atacado dos Estados Unidos e atende atualmente a mais de 110 milhões de clientes no varejo, em cerca de 800 lojas. Hoje, a empresa de capital aberto está tentando garantir seu próprio suprimento de frangos de rotisserie, em um momento no qual os preços das aves despencaram, a maioria dos processadores da indústria avícola está sofrendo com acordos de fixação de preços e um surto sem precedentes de gripe aviária matou quase 59 milhões de aves em todo os Estados Unidos. Em meio a essa turbulência da indústria, a Costco conta com o perfume agridoce das aves embaladas para continuar sendo um atrativo popular importante na escolha do consumidor.
“Nós preparamos, marinamos, nós fazemos tudo isso”, diz Walt Shafer, diretor de operações da Lincoln Premium Processing, subsidiária integral da Costco, que, após 45 anos na indústria avícola, recebeu a tarefa de construir a planta e sua rede de produtores do zero. “O frango não é apenas uma super compra para o consumidor. Ele se tornou o centro da loja, literalmente, e o destaque da Costco. É por isso que estamos aqui. É por isso que existimos.”
Caminho desbravado para o frango
Para chegar até aqui houve muitos obstáculos. A Costco escolheu Nebraska, um estado produtor de carne bovina e com poucos produtores de frango, e que está no centro da zona migratória de aves selvagens que impulsiona a gripe mortal. Também há o crescente apelo para proibir novas granjas, da Organização das Nações Unidas à American Public Health Association. A Tyson, o maior produtor de aves do país, tentou construir uma nova planta, mas não conseguiu.
A Costco já mostrou ao mercado que fará praticamente qualquer coisa para manter suas pequenas preciosidades rotativas. Sob a Lincoln Premium Processing, a varejista garantiu cerca de 100 milhões, dos 400 milhões de frangos que se estima vender anualmente. Aproximadamente metade do frango batido por essa unidade tem como destino os espetos de rotisserie nas lojas da Costco, enquanto o restante é porcionado, embalado e enviado para lojas no meio-oeste e na costa oeste do país.
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A Costco faz essa aposta por ser altamente lucrativa e apresentar um desempenho consistente entre varejistas, como BJ’s, Target e Kroger. Os ganhos da empresa para o terceiro trimestre fiscal de 2023 superaram as expectativas. O lucro do ano passado ultrapassou os US$ 5,8 bilhões (R$ 28 bilhões), um aumento de quase 200% desde 2003. A Costco afirma que manteve os aumentos de preços para o consumidor abaixo da taxa de inflação e que os frangos de rotisserie têm permanecido com o mesmo preço por anos.
Embora os executivos da Costco sejam discretos ao compartilhar detalhes de como seu abatedouro de frangos afetou o resultado final, os analistas afirmam que há benefícios claros. “Poder comprar um frango por US$ 4,99 é uma ótima maneira de atrair pessoas para a loja”, diz o analista da consultoria Jeffries, Corey Tarlowe. Ele estima que controlar sua própria cadeia de suprimentos economiza 35 centavos, por frango, para a Costco. “Está funcionando para a empresa e está funcionando para os consumidores, que claramente apreciam isso. Ajuda a Costco a economizar dinheiro e os consumidores a pagarem menos.”
Mas, como a Costco convenceu as comunidades rurais do Nebraska a permitir que grandes granjas se instalassem em suas vizinhanças, em um momento no qual as organizações de saúde pública pediram a proibição de todas as novas operações? O frigorífico de frangos da Costco é o primeiro a ser construído em anos, enquanto segue a tentativa fracassada da Tyson de fazer o mesmo em Kansas.
Alguns vizinhos temiam a poluição da água, a discriminação dos trabalhadores e o esgotamento da riqueza das comunidades rurais. A Lincoln Premium Processing até teve que cancelar seu primeiro projeto, na comunidade de Nickerson, depois que os moradores protestaram veementemente.
Granjas em construção
Walt Shafer e sua vice, a veterana lobista Jessica Kolterman, passaram dois anos apresentando o projeto aos vizinhos, em reuniões públicas, usando uma estratégia semelhante à de uma campanha política. Em reuniões abertas à cidade, Shafer e Kolterman focaram no impacto comunitário — não nas finanças ou na dura realidade econômica do país, como a Tyson fez quando perdeu a batalha para abrir sua planta de US$ 320 milhões (R$ 1,5 bilhão).
A operação da Costco, em Fremont, a 45 minutos a noroeste de Omaha, seria classificada como uma fazenda industrial ou uma operação média de alimentação, concentrada em animais, de acordo com a definição da Agência de Proteção Ambiental. Após a construção de quatro a 16 galpões de criação das aves — US$ 2,5 milhões (R$ 12 milhões) para quatro galpões — cerca de 42 mil frangos seriam criados em cada galpão.
O custo do terreno, de 161 hectares, e a planta frigorífica de 37 mil metros quadrados ultrapassou os US$ 450 milhões (R$ 2,1 bilhões). Desde a abertura em 2019, a Lincoln Premium desembolsou dezenas de milhões de dólares adicionais para cobrir custos adicionais que surgiram. “Os insumos estão aumentando o tempo todo”, diz Shafer. “O que a Costco considerou é garantir que seus parceiros sempre tenham suprimentos.”
Começar do zero deu uma vantagem à operação, diz a especialista em bem-estar animal, Temple Grandin, que já consultou a maioria das fábricas de processamento de carne e os principais fornecedores de carne em todo o país. “Eles estão tentando fazer um bom trabalho”, diz Grandin, que no ano passado visitou o frigorífico e as granjas e retornou no início deste mês de junho para nova verificação. “Há vantagens em começar do zero. Quando você começa do zero, há ideias antigas que você não precisa manter.” (Grandin, que já esteve no Brasil algumas vezes, é uma das maiores autoridades globais em bem-estar animal.)
Mas a oposição ao projeto da Costco era apenas um dos obstáculos. No ano passado, um surto de gripe aviária começou perto de onde alguns frangos da Costco são criados, e um milhão de aves, ou metade da produção semanal da planta, tiveram que ser abatidas como medida sanitária preventiva. Neste ano, não houve surto nas proximidades da Lincoln Premium, mas a ameaça permanece. A Lincoln Premium também estabeleceu o precedente de que compensaria os produtores por perdas causadas pela gripe com recursos próprios, o que teria custado milhões de dólares.
Outro desafio a ser transposto era o da mão de obra: como atrair e contratar 800 trabalhadores. Para tornar o emprego mais atrativo, a Lincoln Premium afirma que mantém a velocidade da linha em 140 frangos por minuto e não solicitou autorização oficial para ir mais rápido, como concorrentes como Tyson e Pilgrim’s Pride fizeram. Para isso, a automação substitui 500 funcionários, reduzindo trabalhos perigosos como levantar caixas pesadas de carne e desossar as aves, que no passado causavam lesões crônicas nos trabalhadores. Para a Costco, máquinas desossam coxas e peitos do osso com precisão. A planta emite um zumbido alto, acentuado por sons mais agudos, à medida que dezenas de engrenagens da máquina funcionam simultaneamente.
Mais um detalhe dessa jornada: mais difícil do que reunir trabalhadores suficientes para a planta foi conseguir os avicultores parceiros. Em um estado historicamente conhecido por carne bovina e milho, a empresa teve que encontrar fazendas dispostas a criar frangos, muitas vezes pela primeira vez. Na região, a maioria são de fazendeiros de grãos que ganham a vida com a agricultura em Nebraska, Kansas e Iowa.
Muitos deles estão preocupados com a concentração do poder econômico, já que a avicultura é altamente verticalizada e comandada por gigantes, como Tyson, Pilgrim’s Pride e Sanderson Farms. No entanto, a Lincoln Premium afirma que permite que os agricultores sejam donos de seus frangos e quebrem o ciclo de dívidas e controle que algumas famílias de fazendeiros lutam para escapar.
“O modelo de contrato é projetado para dar ao agricultor a melhor oportunidade para o sucesso“, diz Kolterman, cujo marido é senador do estado e cuja família possui fazendas na área. “Eles são proprietários de suas casas e de suas fazendas, não proprietários de sua dívida.”
A Lincoln Premium investiu US$ 8 milhões (R$ 38,5 milhões) para construir uma fazenda modelo da empresa, destinada a mostrar aos agricultores como os frangos podem ser criados de maneira eficiente e com regras de bem-estar animal e humana, e em breve abrirá uma academia para treinar os fazendeiros sobre os detalhes do negócio com criação de aves.
Mas os agricultores ainda estão cautelosos. “Nunca se sabe se isso vai funcionar”, diz Bob Bohlken, fazendeiro de grãos de quarta geração que construiu quatro galpões de frangos para a Lincoln Premium. “Eu estava morrendo de medo. É o primeiro empreendimento de qualquer tipo que fiz fora da agricultura. Será que funciona? Vou conseguir dinheiro suficiente? Vai dar certo? Até que estejamos lá, acho que todos terão essa mesma mentalidade.”
Com tudo encaixado, a Lincoln Premium considera estar pronta para crescer. A Costco vai construir uma segunda planta de processamento de carne de suínos, no lado oposto ao projeto de Fremont. A Lincoln Premium também vai administrar essa unidade, assim como a primeira, de acordo com documentos de planejamento da cidade e executivos familiarizados com o assunto.
Foi o sucesso do frango que levou a Costco a expandir sua oferta de carnes assadas em rotisserie. Agora, a empresa começou a testar carne suína assada em rotisserie, em algumas lojas na região de Omaha, e planeja expandir para a Califórnia, um movimento que poderia colocá-la em conflito com empresas como a brasileira Seara e a líder nacional, Smithfield Foods. A Costco também está trabalhando em uma versão de peru assado em rotisserie. “Acreditamos poder ganhar em tudo”, diz Shafer. “Nossos consumidores querem uma refeição preparada, e podemos entregá-la com qualidade e valor excepcional.”