Com um recorde de 800 milhões de reais disponíveis para crédito ao produtor brasileiro em 2023, a multinacional de químicos agrícolas Syngenta está lançando uma estratégia que de certa forma inverte a lógica do “barter”, com o objetivo de impulsionar vendas de agricultores das safras 2022/23 e 2023/24, em momento em que eles lidam com preços baixos e menor interesse de comercialização.
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Normalmente, o agricultor brasileiro adquire agroquímicos com compromisso de entrega futura de produtos agrícolas, travando parte de seus custos de produção. Mas, no caso da campanha “Barter em Campo” lançada agora, a Syngenta vai receber, por exemplo, o milho que está sendo colhido como pagamento pelos insumos que serão usados apenas na próxima safra, a ser semeada a partir de meados de setembro.
“Inverteu o ciclo… normalmente, faço ‘barter’ para o que vai ser colhido no ano que vem, mas agora ele (produtor) pode usar o produto disponível dele hoje para pagar o ano que vem, ele está pagando (o insumo) antecipado”, disse o diretor de Agriculture Value Chain da Syngenta, Eduardo Menegario, em entrevista à Reuters.
Assim, o “Barter em Campo” vem ao encontro das necessidades do produtor brasileiro, que demorou mais a vender sua safra 2022/23, tanto a de soja, já colhida, quanto a de milho, que está em colheita para o cereal de inverno, destacou o executivo. Além disso, as vendas de produtos agrícolas para 2023/24, que também começaram mais lentas, podem igualmente receber algum impulso do novo esquema.
Mais capitalizados após bons resultados nas últimas temporadas, boa parte dos produtores do Brasil aguardaram mais tempo para comercializar, o que gerou uma atraso e acentuou um problema de déficit de armazenagem, já que o país fechou a safra 2022/23 com recordes de produção de soja e milho.
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“Até um mês atrás, a commodity caiu, mas o preço do insumo caiu mais. Então a relação de troca estava melhor. Mesmo assim, o produtor na sua grande maioria não quis fazer, porque ele estava olhando só para o preço da commodity. E ele perdeu a janela da relação de troca”, contou Menegario, acrescentando que a cotação do agroquímico não tem mais espaço para cair.
O novo esquema é possível também porque a companhia tem a singularidade de contar com trading própria que opera com grãos, café e algodão, a Nutrade, cujo principal objetivo é apoiar os negócios de agroquímicos da Syngenta, que foi comprada pela ChemChina em 2017.
O sistema que viabiliza esse atendimento ao produtor em conjunturas como essa, disse o diretor da Syngenta, vem forte porque a companhia também tem apoio de seu proprietário chinês para permitir ainda financiamentos de fertilizantes e garantir a originação de produtos agrícolas.
Os 800 milhões de reais do orçamento de crédito, que fazem parte do “Barter em Campo”, possibilitam que a Syngenta ofereça recursos ao agricultor para a compra de adubos, desde que ele se comprometa a comprar os agroquímicos da companhia.
Trading
“Como nosso acionista é chinês, a gente tem esse foco maior… Que está sendo dado agora também no algodão”, disse o executivo, destacando que a atuação da Nutrade permite em geral a exportação direta do produto agrícola ao mercado da China, uma vez que a empresa é de propriedade dos chineses.
Ele disse esperar comercializar bons volumes de milho à China, após o país asiático fechar um novo protocolo para comprar maiores volumes do cereal do Brasil no ano passado.
A atuação da Nutrade começou há cerca de 15 anos, com foco no café. Na soja, a companhia projeta volumes de cerca de 900 mil toneladas em 2023, versus 240 mil toneladas no ano passado e 110 mil toneladas no anterior, revelou o executivo.
Em café, no ano passado, foram 400 mil sacas de 60 kg, com destino ao mercado interno e países como Estados Unidos e Japão, enquanto no algodão, 46 mil toneladas de pluma.
Para 2023, como as campanhas estão em andamento para milho, algodão e café, ainda não há projeções para essas commodities.