Em 2017, a Smallhold nasceu em um contêiner de transporte no Brooklyn, em Nova York, onde abrigava cogumelos cultivados por Andrew Carter e Adam DeMartino. Eles se lançaram com uma missão em mente: oferecer um tipo de alimento que atrai as pessoas. Seis anos depois, a Smallhold fatura US$ 2 milhões (quase R$ 10 milhões na cotação atual) por ano, possui grandes fazendas em Los Angeles, na Califórnia, e em Austin, no Texas, e as chamadas mini fazendas que podem ser instaladas em pequenos espaços. Hoje, os produtos podem ser encontrados em grandes supermercados e restaurantes conhecidos. E no mês passado, a Smallhold anunciou sua certificação B-Corp (conceito criado em 2006 no país, pela B-Labs, para modelo de negócio focado em desenvolvimento social e ambiental).
Andrew Carter, CEO e cofundador da Smallhold, falou com a Forbes sobre os desafios e oportunidades do mercado, o crescimento da empresa e o que está por vir. Carter diz que sua missão é tornar os cogumelos especiais e orgânicos mais acessíveis e compreendidos pelo mercado e que eles vieram para ficar. Confira:
Forbes: Onde e quando você teve a ideia de criar a Smallhold e qual foi o primeiro passo concreto que tomou para dar vida a ela?
Andrew Carter: Sempre fui obcecado com a ideia de cultivar alimentos em ambientes fechados. O clima está mudando rapidamente e é inevitável que iremos cultivar parte de nossa comida em ambientes internos. Eu quero ajudar a tornar isso uma realidade. Passei uma década da minha vida trabalhando em projetos de hortaliças e tomates, e eventualmente encontrei meu caminho até os cogumelos. Eles crescem em ambientes internos, podem se desenvolver em resíduos orgânicos e ser uma das fontes mais sustentáveis de calorias no planeta.
Ao mesmo tempo, sentíamos que os produtores tradicionais de cogumelos não estavam inovando o suficiente em termos de tecnologia, variedades, qualidade e impacto ambiental. Em 2017, Adam DeMartino, cofundador, e eu, deixamos nossos empregos e começamos a cultivar cogumelos em um contêiner de transporte no Brooklyn, onde começamos a estruturar a base do que é a Smallhold hoje. Iniciamos fornecendo cogumelos para restaurantes e supermercados em Nova York, e rapidamente expandimos com as Minifarms (“pequenas fazendas”, em português) que poderiam ser instaladas em hotéis e restaurantes para nossos parceiros cultivarem seus próprios cogumelos. Assim como todos os outros, fizemos de tudo para sobreviver à pandemia, inclusive oferecendo kits de cultivo de cogumelos para que as pessoas pudessem cultivá-los em casa.
Em um momento de incerteza, nossos cogumelos trouxeram um pouco de leveza: os clientes ficaram encantados com as formas e cores únicas dos cogumelos à medida que cresciam e se divertiram experimentando receitas e novos sabores na cozinha. Foi uma ótima maneira para as pessoas aprenderem sobre seu cultivo e benefícios. Quando as pessoas começaram a voltar aos supermercados, houve, mais do que nunca, um interesse maior em alimentos saudáveis, e os varejistas estavam em busca de fazendas inovadoras que oferecessem novas variedades de cogumelos aos clientes. Começamos a construir nossas fazendas em 2020 e agora temos propriedades em todo o país, alimentando milhões de pessoas anualmente com nossos cogumelos.
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F: Por que escolheu investir em cogumelos, em vez de outros alimentos sustentáveis, como fazendas de vegetais de folhas verdes em ambientes internos ou alternativas de carne processada?
AC: Passei a maior parte da minha carreira cultivando vegetais de folhas verdes, em vez de cogumelos. Há muita inovação necessária para os vegetais de folhas verdes, mas os cogumelos são mais adequados ao cultivo em ambientes fechados.
Eles não precisam de muita luz, são tradicionalmente cultivados verticalmente e exigem controles ambientais muito mais rigorosos, o que torna o cultivo ao ar livre difícil. Isso nos permite ser muito mais competitivos do que os produtores de vegetais de folhas verdes que competem com cultivadores ao ar livre.
Há uma vantagem em usar o que a terra já produz (um reino inteiro de fungos) – estamos apenas aperfeiçoando o processo. A tecnologia em toda a nossa rede de fazendas distribuídas produz rendimentos e qualidade mais elevados em comparação com as práticas convencionais, sendo um elemento chave na mitigação da perda de colheitas e da superprodução, eliminando o potencial desperdício desde o início. Na Smallhold, somos capazes de produzir milhões de libras de cogumelos a cada ano e atender à crescente demanda em todo o país. Acreditamos que os consumidores também desejam algo simples e natural. Por que comer um hambúrguer de vegetais com muitos ingredientes quando se pode comer um cogumelo saboroso, nutritivo e saboroso que atende ao mesmo desejo?
Há tanto valor nutricional nos cogumelos que muitas pessoas não conhecem, como fibra, potássio e a pouco conhecida ergotioneína. Não oferecemos os cogumelos típicos encontrados em um supermercado. Nossos cogumelos especiais são orgânicos e naturalmente ricos em proteínas, vitaminas, minerais e antioxidantes – estamos introduzindo as pessoas a um novo universo de sabores, texturas e nutrição.
Além de tudo isso, existe um mistério intrigante por trás do reino dos fungos – eles constituem um reino biológico próprio, separado das plantas e dos animais – que atrai e inspira a criação deste sistema alimentar.
F: Pode falar um pouco sobre as tendências no consumo de cogumelos e como a Smallhold está ajudando a moldar isso?
AC: Recentemente, a indústria alimentícia observou um aumento no consumo de cogumelos, especialmente com os cogumelos especiais que a Smallhold cultiva. Os norte-americanos estão aos poucos se familiarizando com a sustentabilidade e o valor culinário do reino dos fungos. Estamos atendendo à demanda dos consumidores e aumentando a diversidade dos alimentos que os americanos consomem. Os cogumelos não apenas podem moldar as dietas das pessoas, mas também podem auxiliar comunidades e outras plantas. Nós até colaboramos com pesquisadores em um projeto de micorremediação – utilizando resíduos de nossas fazendas para ajudar a decompor problemas de óleo, como hidrocarbonetos, e absorver metais pesados – assim, limpando ambientes poluídos. A comida precisa ser sustentável, mas também precisa ser saborosa e divertida.
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F: O que diferencia a Smallhold de outros produtores de cogumelos?
AC: Nossas fazendas estão distribuídas por todo os Estados Unidos, ao contrário das fazendas de cogumelos em geral, que são centralizadas. Também cultivamos variedades que a maioria das fazendas de cogumelos em grande escala não cultiva. Nossas fazendas são certificadas como orgânicas. Construímos fazendas limpas e eficientes, com menor consumo de água e energia do que o comum na indústria.
Tudo isso nos permite ter nossos cogumelos nas prateleiras mais rapidamente do que em outras empresas e em embalagens compostáveis. Todos esses fatores são essenciais para nós, mas os consumidores agora também estão se identificando com eles.
Também não oferecemos apenas cogumelos que a maioria dos consumidores americanos está acostumada a ver. Temos cerca de 10 variedades, cada uma com seu próprio sabor distinto, textura e benefícios nutricionais.
E agora, nos tornarmos uma empresa B-Corp também define um padrão importante para a indústria. Enquanto mantemos em mente a saúde futura do nosso planeta, estamos criando mais acesso a cogumelos e melhores escolhas alimentares.
F: Como CEO de uma empresa B-Corp, quais os desafios e as recompensas de administrar um negócio desse, e como equilibra as necessidades financeiras de um negócio em crescimento com o compromisso com a sustentabilidade?
AC: Não mudamos quase nada na Smallhold para nos tornarmos uma empresa B-Corp. Já estávamos fazendo todas essas coisas: salários dignos, eficiência energética, circularidade, sustentabilidade, isso está no DNA do que sempre fizemos. O processo de certificação como empresa B-Corp nos permitiu quantificar isso, explicar ao público e encontrar maneiras de melhorar nos anos seguintes. Porque tornar-se uma empresa B-Corp certificada é uma jornada contínua, o que significa que há uma necessidade constante de avaliação, adaptação e colaboração – e é um caminho que vale a pena seguir.
*Christopher Marquis é colaborador da Forbes EUA, professor Sinyi de Gestão Chinesa na Judge Business School, da Universidade de Cambridge. Já foi professor na Harvard Business School por 10 anos (tradução: João Pedro Isola).