Carla Leal, BU de digital da Way Carbon, diz que investidores institucionais estão no jogo climático
O principal compromisso da agenda desta quarta-feira (17), da administradora e doutora em finanças, Carla Leal, 52 anos, BU de digital da Way Carbon, era receber cerca de 80 clientes em São Paulo para um encontro fechado na sede do banco Santander, que no ano passado comprou 80% de participação na consultoria que atende a cerca de 500 clientes em 40 países, incluindo o Brasil, sendo boa parte deles agentes do mercado de capitais.
BU é a sigla que o mercado arrumou para designar uma pessoa multitarefas. No caso de Carla, ela atende pelas posições de CTO (chief technology officer ou diretora de tecnologia), CMO (chief marketing officer ou diretora de marketing), diretora de vendas e diretora de serviços de implementação e suporte da Way Carbon, especializada em tecnologias ESG e mudanças climáticas. Sua missão? Fazer o mercado entender como um módulo da plataforma “Climas”, da consultoria, e batizado de Net Zero, pode contribuir com a gestão de compromissos que as grandes empresas elaboraram para si próprias e que estão em linha com o Acordo de Paris de redução das emissões de GEEs (gases de efeito estufa). Os nomes dos clientes quase dispensam apresentações, como Magalu, Aliansce Sonae, BTG Pactual, Dexco e MRV, entre outros.
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De olho no mercado de capitais, cabe à gestão de Carla levá-lo para dentro do sistema. “O novo módulo permite que as empresas tragam as suas estratégias de descarbonização para nossa plataforma”, afirma a executiva. “A gente tem o que chamamos de contabilização ou inventário de emissões de GEEs que, para um simples entendimento, é como prover a uma empresa além do balanço de sua construção de resultados.” Carla explica que grupos como Renner, Soma, Magalu, ou metade das empresas no ISE, o Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3, já utilizam essa solução.
“O que a gente está lançando é diferente. O que o software faz é um planejamento estratégico”, afirma ela. Explicando em miúdos é assim: se uma empresa expandir suas operações, o programa faz uma projeção das emissões futuras dessa determinada empresa com base nas emissões atuais, ao mesmo tempo em que cria um cenário de mitigação e redução dessas emissões baseada em ciência. “O que eu faço é identificar o GAP entre as emissões atuais e as projetadas. Ou seja, onde está exatamente uma operação em relação a onde ela deveria chegar, por exemplo, em 2030”, diz Carla.
O novo instrumento vai em linha com o fluxo global de capitais e a necessidade das empresas em busca de recursos para expandirem as suas operações. Ao fazerem esse movimento, questões de sustentabilidade se tornam mandatórias nos dias atuais. “Se uma empresa tem no seu planejamento estratégico alguma meta de crescimento, geralmente ela dispõe de três formas de se financiar: por meio do seu próprio fluxo de caixa; financiamento bancário ou por IPO e follow on”, afirma ela. “O que está crescendo muito é o fluxo de capitais para o financiamento de tecnologias verdes ou para as empresas que tenham um financiamento atrelado a metas climáticas.”
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No primeiro semestre deste ano, o financiamento bancário ou por IPO e follow on responderam por valores globais da ordem de US$ 200 bilhões (quase R$ 1 trilhão na cotação atual), valor acima de igual período em 2022. É nesse ponto que o círculo começa a se fechar.
Os provedores desse capital são grandes investidores institucionais que colocam a descarbonização como elemento de decisão. Um dos exemplos de organização nesse sentido é a iniciativa Net Zero Asset Managers, grupo internacional de gestores e parceiro da campanha Race to Zero da UNFCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima), que reúne cerca de 310 signatários e atualmente possui US$ 59 trilhões (R$ 294 trilhões) em ativos sob gestão. Para ter uma ideia o poder desse grupo, no ano passado, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro foi de R$ 9,9 trilhões).
Dos sete maiores assets globais, cinco estão na iniciativa, incluindo o maior do mundo, o Black Rock, que neste mês de julho informou sob sua gestão o valor de US$ 9,4 trilhões (R$ 46,9 trilhões), um aumento de 4% em relação ao primeiro trimestre de 2023. “Esses investidores institucionais assumiram o compromisso de fazer com que o capital esteja alinhado à meta de Paris, ou seja, eles trabalham para reduzir as emissões de seu portfólio de investimentos”, afirma Carla. “O principal caminho é fomentar que empresas nas quais eles investem adotem metas de descarbonização e que elas estejam alinhadas ao que diz a ciência.”
No mundo, cerca de 4 mil empresas já assumiram algum compromisso nesse sentido. “Esse público tem crescido, as empresas têm evoluído bastante e a América Latina não está fora. Acreditamos na intensificação desse movimento” que, segundo Carla, tem sido fomentado pelos conselhos de administração. A executiva diz que o top três na lista de temas de conselheiros, de acordo com o IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), são mudança do clima, segurança cibernética e inteligência artificial.
