Investidores de impacto, que são aqueles que buscam resultados socioambientais mensuráveis além de retorno financeiro, estão direcionando capital para mercados emergentes, atendendo as necessidades básicas das comunidades dessas regiões. Esta é uma mudança em relação ao cenário anterior, em que as apostas se concentraram em países mais desenvolvidos.
É o que mostra o mais recente levantamento do Emerging Trends in Impact Investing da GIIN (Global Impact Investing Network). O relatório final da série de quatro partes, publicadas em 2023, examina as opiniões dos investidores sobre o progresso da indústria, os desafios atuais e o efeito de eventos globais nas estratégias de impacto e no desempenho do mercado. O documento também mostra a pesquisa sobre regiões e setores que devem ser acessados nos próximos cinco anos.
Mercados emergentes na mira
As regiões que mais atraem interesse, segundo o relatório, são a África Subsariana (56%), seguida por países da América Latina e Caraíbas, Sudeste Asiático e Sul da Ásia. No ano passado, 29% dos ativos sob gestão foram atribuídos aos EUA e ao Canadá, 23% à Europa Ocidental, do Sul e do Norte.
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Sophia Sunderji, diretora de pesquisa do GIIN, aponta para um histórico crescente de investimentos bem-sucedidos em mercados emergentes como uma das razões para a mudança. Outro dado importante é o impacto dos macroeventos globais nos desafios sociais e ambientais. “Os investidores de impacto estão respondendo aos dados”, diz ela. “Faz sentido para os negócios. A satisfação das necessidades básicas é normalmente mais estável, menos discricionária e por vezes pode ser vista como anticíclica.”
Quais os setores atrativos
Os setores de energia, alimentação, agricultura e infra-estruturas são os que mais devem receber investimentos. Embora as áreas não estejam necessariamente relacionadas com as alterações climáticas, Sunderji explica que há uma relação na escolha dos ativos e esse movimento é chamado de “lente climática”. Mais de 80% dos investidores visam a mitigação ou adaptação e resiliência das alterações climáticas.
Ainda de acordo com Sunderji, para os investimentos centrados no clima, o foco são aqueles voltados para inovação, que incluem o ambiente construído, como tecnologia de aquecimento e refrigeração energeticamente eficiente, captura e armazenamento de carbono, geração de energia limpa (solar, hídrica, térmica e outras) e sistemas alimentares, com ênfase em agricultura alternativa e regenerativa, além de proteínas não animal. No geral, há mais investimentos direcionados diretamente para empresas ou projetos, embora alguns visem fundos.
Crescimento e desafios globais
Os entrevistados também citaram que a área de crescimento mais significativa é a da disponibilidade de profissionais com competências relevantes. Isso significa habilidades como medição e gestão de impacto, estruturação de acordos de investimento de impacto e capacidades jurídicas.
Cerca de 86% dos participantes relataram ter visto algum progresso ou progresso significativo das empresas. São notícias positivas que animam os investidores a apostarem em ativos bem-sucedidos nos mercados emergentes, diz Sunderji.
Já o maior desafio a ser enfrentado deve ser a capacidade de comparar os resultados do impacto com os dos pares. Na pesquisa, 91% enxergam essa deficiência como um obstáculo. “Eles estão dizendo que precisamos de inteligência de impacto e infraestrutura para ajudar a desenvolver a indústria”, diz Sunderji. “Isso significa pensar em integrar dados em todas as fases do processo de investimento, pensar em um comparativo para definir uma estratégia, selecionar um fundo, averiguar e gerir o desempenho.”
* Anne Field é colaboradora da Forbes EUA. Também escreve para The New York Times, Bloomberg Businessweek, Crain’s New York Business, Inc. (tradução: ForbesAgro)