Nos resultados dos investimentos realizados na pecuária de corte, entre 2020 e 2021, já se vão 8,4% de aumento para o volume de animais abatidos no Brasil, de janeiro a junho de 2023 em relação ao mesmo período de 2022, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os animais abatidos agora começaram a ser produzidos naquele período (2020/21) e hoje nós temos o reflexo desse aumento produtivo sobre a oferta.
Já considerando a sazonalidade, a redução dos investimentos nas operações de confinamento para o segundo semestre, a projeção conservadora é de um aumento de quase 7% para a produção de carne bovina brasileira em 2023. Confirmando os números, isso levaria a uma oferta de 9,6 milhões de toneladas a serem absorvidas tanto domesticamente quanto pelos nossos clientes internacionais.
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Internamente, temos enormes desafios de mercado. O poder de compra das classes C, D e E, que voltou a patamares vistos em 2010 é um deles. Apesar do desemprego em 8% e em níveis civilizados, de 4% no acumulado dos últimos 12 meses, é importante compreender que esses são os extratos da população que mais apresentam elasticidade em seu consumo, visto que, em caso de aperto no orçamento, acabam migrando rapidamente para proteínas mais baratas (como o frango por exemplo).
Assim, um rápido olhar para o número de cestas básicas adquiridas com o salário mínimo, mostra níveis de poder de compra tão baixos quanto em 2005 para a população mais dependente desse salário. Além disso, o arrocho de emprego de renda vivido durante o período de pandemia, elevou sobremaneira o nível de endividamento do brasileiro, que agora se vê às voltas com uma fatia maior do orçamento comprometida com as dívidas, em patamar recorde.
Oferta maior e demanda interna sensível tem feito com que o aumento da disponibilidade doméstica de carne bovina seja acompanhado por quedas de preço no varejo. Ou seja, o consumo de carne bovina está aumentando em reflexo da maior disponibilidade do produto, mas apenas dentro de uma acomodação do preço em níveis mais baixos
De acordo com o IEA (Instituto de Economia Agrícola), o preço da carne no varejo paulista já acumula queda de 8% em 2023, mas nada comparado ao preço da matéria prima, que caiu 30%. Um dos motivos é o fato de não adiantar aumentar demasiadamente a oferta no varejo, visto que a carne é um produto perecível e que uma sobre oferta para fins apenas de escoamento poderia implodir as margens de comercialização do elo do setor.
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O efeito, portanto, é o de pressão forte sobre a arroba do boi gordo com oferta folgada aos frigoríficos, e isso faz com que o mico fique na mão do pecuarista neste momento. Ou seja, há uma transferência de margem dentro da dinâmica da cadeia em relação ao cenário da temporada de 202o e 2021.
* Lygia Pimentel é médica veterinária, economista e consultora para o mercado de commodities. Atualmente é CEO da AgriFatto. Desde 2007 atua no setor do agronegócio ocupando cargos como analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operação de commodities na XP Investimentos e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.
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