A maior exportadora global de suco de laranja, a brasileira Citrosuco quer mais. Mas ela quer mais não apenas em fatias de mercado, mas pensando em satisfazer um consumidor de suco antenado com o que vai para o seu copo. A empresa pertence ao Grupo Votorantim,conglomerado multinacional controlado pela família Ermírio de Moraes que no ano passado faturou R$ 52,9 bilhões. Com sede em Matão (SP), a Citrosuco responde por 25% do mercado global de suco de laranja e por 45% do mercado brasileiro da bebida.
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“Esse é um setor em que a gente consegue criar valor”, afirma Marcelo Abud, 48 anos, presidente da Citrosuco. “É um setor em que lideramos e, ao mesmo tempo, levamos o Brasil a crescer economicamente por ser relevante demais para o próprio país e para o mundo.” A empresa é dona de 25 fazendas que produzem laranja nos estados de São Paulo e Minas Gerais. São cerca de 80 mil hectares de pomares, mais os agricultores parceiros que entregam a fruta em três unidades industriais. Para movimentar cargas no mundo, a Citrosuco possui terminais portuários no Brasil, EUA, Bélgica, Japão e Austrália, sendo que os carregamentos de suco são transportados em seis navios próprios.
A previsão para 2023 é de que o setor global da laranja movimente US$ 3,67 bilhões, devendo atingir US$ 4,58 bilhões até 2028, crescendo a um CAGR de 4,53% durante esses cinco anos, segundo a consultoria Mordor Intelligence. Para Abud, entender o que o consumidor global deseja ajuda a empresa a entender as mudanças que precisa fazer, como investir em fazendas mais sustentáveis e digitalizadas, em processos industriais personalizados e atender demandas específicas. Não por acaso, no fim do ano passado, a Citrosuco criou a Evera, uma empresa dedicada a ingredientes da laranja, após investir cerca de US$ 10 milhões em pesquisas, desenvolvimento e instalações nos últimos anos. “Sempre temos no radar os desafios, por exemplo, elevando a barra da rastreabilidade dos produtos dentro da cadeia do suco”, afirma Abud.
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Os principais novos consumidores em que a companhia está de olho ficam nos Estados Unidos e na China, embora a Europa seja um mercado tradicional e relevante. Os EUA são os maiores consumidores da bebida, com cerca de 1,5 bilhão de litros por ano. Mas esse volume já foi maior. “O mercado norte-americano não está crescendo, mas está saindo do consumo de suco diluído para o suco 100% puro e integral”, revela Abud. “Esse consumidor valoriza muito a laranja brasileira porque sabe da qualidade do produto. No ano passado, a demanda cresceu algo em torno de 25%, porque há uma mudança de hábito para um produto mais caro, mais premium e, por isso, falamos de crescimento de valor da Citrosuco no mercado.” De acordo com o executivo, embora haja uma mini pasteurização, “é como se esse consumidor lá dos EUA estivesse tomando um suco espremido numa padaria de São Paulo, de qualidade e feito na hora, e isso traz margens melhores para a cadeia inteira”.
Outro mercado movido por mudanças de hábito é o chinês. Na safra 2022/23, encerrada em 30 de junho, foram 81,2 mil toneladas, comercializadas por US$ 242 milhões, valor 154% superior ao do período anterior. Abud conta que a política da Citrosuco no país asiático é complexa e depende da ajuda de um parceiro local. “Porque ele conhece o consumidor e a gente vai trabalhando um produto para ficar mais ajustado ao paladar local”, afirma. O chinês, ao contrário de outros povos, não bebe suco no café da manhã ou nas refeições, mas como um lanche no meio do dia, com o papel de um energético. E mais: além do suco puro, tem crescido na China o consumo de blends de suco de laranja com chá. “Estamos aprendendo com o consumidor para poder customizar esse mercado. A China tem um ecossistema incrível, onde você pode lançar um novo produto, pesquisar qual a sua demanda, por exemplo no Alibaba, e depois de fato produzir.” Para Abud, as pesquisas da empresa mostram que existe espaço potencial para o suco de laranja no café da manhã do chinês, ou seja, perspectiva de mudança de hábito. “A gente dobra de tamanho a cada ano, em relação ao volume vendido na China. Vamos com calma, mas esse é o caminho.”
No ano passado, o Brasil exportou 2,488 milhões de toneladas de sucos de laranja (concentrado e congelado, FCOJ na sigla em inglês, e a bebida pronta para beber, a NFC), por US$ 1,975 bilhão, valor 21% acima do total do ano anterior. No primeiro semestre de 2023, os embarques somaram 1,277 milhão de toneladas, por US$ 1,003 bilhão, valor 19,2% acima do total do mesmo período de 2022, de acordo com dados do Ministério da Agricultura (Mapa). O país responde por cerca de 80% das exportações globais e quer ampliar ainda mais a sua presença no mundo.