A safra de soja do Brasil 2023/24 foi estimada nesta quinta-feira (7) ainda em recorde de 160,2 milhões de toneladas pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), com uma redução de 1,4% na comparação com a previsão divulgada no mês passado, devido a adversidades climáticas.
Segundo a estatal, a revisão das expectativas para o maior produtor e exportador global da oleaginosa decorre do fato de que, em alguns estados produtores, chuvas irregulares e altas temperaturas já impactaram o potencial produtivo das lavouras.
-
Siga a Forbes no WhatsApp e receba as principais notícias sobre negócios, carreira, tecnologia e estilo de vida
Mesmo com a diminuição da projeção, a expectativa é de que a produção da oleaginosa cresça 3,6% em relação à safra anterior, quando o Brasil colheu uma safra jamais vista no país. Isso aconteceria com um esperado crescimento de área plantada e um salto na produtividade esperada no Rio Grande do Sul, grande produtor brasileiro que sofreu com a seca na temporada anterior.
O número da Conab, contudo, está acima da maioria das projeções de analistas privados. Muitos já consideram a produção abaixo de 160 milhões de toneladas, outros acreditam em uma certa estabilidade ante 2022/23 e já há quem veja uma redução em relação à temporada passada, apesar de um crescimento de área de 2,8%, para 45,3 milhões de hectares.
A própria Conab sinalizou que eventuais mudanças na projeção de soja, uma vez que o plantio ainda está sendo finalizado, não podem ser descartadas.
“Estamos atentos e redobraremos o monitoramento das áreas produtoras. O comportamento do clima este ano é o fator mais determinante para as culturas que estão em plantio e em desenvolvimento, em função do El Niño”, disse o diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Sílvio Porto.
Na previsão de janeiro da Conab, “este número pode ter um sinal diferente do que estamos vendo hoje, por conta da continuidade dessas crises climáticas”, disse o diretor do Departamento de Comercialização do Ministério da Agricultura, Silvio Farnese, ao comentar as estimativas em uma transmissão pela internet.
Para o analista econômico da cooperativa de crédito Sicredi Filipe Kalikoski, o viés dos próximos levantamentos de soja da Conab continuará sendo de “revisões de baixa”, ainda que a melhora climática a partir de dezembro possa limitar o tamanho das reduções.
“É preciso lembrar que a Conab só realiza cortes das projeções quando estes já estão absolutamente consolidados, então ainda temos margem para reduções maiores à medida que vamos apurando mais perdas”, disse ele.
As projeções do Sicredi apontam para uma safra de soja estimada na faixa de 159,3 milhões de toneladas.
Kalikoski ainda alertou sobre uma melhora climática esperada para dezembro. “Parece que as notícias ruins tendem a se reverter daqui para frente: o retorno das chuvas no Centro-Norte do país, ainda que de forma irregular, aliado ao prognóstico de chuvas suficientes em dezembro e janeiro, deve entregar condições de clima que tendem a mitigar maiores danos à safra nacional, que ainda tem o potencial para ser uma safra recorde”, acrescentou.
Para o Mato Grosso, maior produtor brasileiro de soja, a Conab vê uma safra em torno de 43,5 milhões de toneladas, queda anual de 4,6%, enquanto outros Estados do Centro-Oeste também devem ter redução.
Já o Rio Grande do Sul deverá ampliar a produção em 68%, para 21,9 milhões de toneladas, apesar de um atraso inicial do plantio pelo excesso de chuva, segundo a Conab. O Paraná, que teve uma safra recorde no ciclo anterior, verá sua produção cair 2,7%, para 21,8 milhões de toneladas, de acordo com a estatal.
Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul costumam ser os maiores produtores do Brasil.
Considerando a projeção de safra atual, a Conab projeta as exportações brasileiras de soja em 2024 em recorde de 101,6 milhões de toneladas, ainda superando as estimadas para 2023 (100 milhões de toneladas).
Milho
Porto, da Conab, lembrou que os atrasos no plantio da soja por conta do clima adverso “abrem incertezas para o milho segunda safra”.
A Conab também reduziu sua estimativa para a produção total de milho a 118,53 milhões de toneladas, ante 119,1 milhões estimadas no relatório passado. Frente à safra anterior, o volume esperado para o milho representa uma queda de 10,2%.
Essa redução, contudo, deve-se por ora a uma menor expectativa para o milho primeira safra, para 25,3 milhões de toneladas, enquanto a segunda safra, só plantada após a colheita de soja, ficou praticamente estável em 91,2 milhões de toneladas ante a previsão de novembro.
Apesar da redução da colheita total de milho, a Conab manteve a expectativa de exportação do cereal do Brasil na temporada 2023/24 em 38 milhões de toneladas, versus recorde de 56 milhões do ciclo anterior, quando o Brasil se tornou o maior exportador global.