As emissões globais de carbono atingiram outro recorde em 2023 – mesmo depois de os EUA e a UE, grandes fontes de gases de efeito estufa, terem atingido um novo recorde de redução das emissões de combustíveis fósseis, de acordo com um estudo publicado recentemente, enquanto acontece a COP28.
As emissões globais de carbono provenientes de combustíveis fósseis deste ano deverão totalizar 36,8 bilhões de toneladas – um aumento de 1,1% em relação a 2022, de acordo com o estudo publicado pelo Global Carbon Budget. O relatório, compilado por uma equipe internacional de investigadores climáticos de mais de 90 universidades, determinou que o tempo “está se esgotando rapidamente” para evitar os piores impactos das alterações climáticas. O Global Carbon Budget Office é liderado pelo professor Pierre Friedlingstein, do Global Systems Institute da Universidade de Exeter, com o apoio de 70 organizações em 18 países.
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O aumento global ocorreu mesmo após uma redução considerável nas emissões da União Europeia e dos Estados Unidos, diminuindo 7,4% e 3%, respectivamente. No entanto, prevê-se que as emissões da Índia aumentem 8,2% e que as emissões da China aumentem 4%. Para o resto do mundo (onde o Brasil está incluído), a estimativa é de uma diminuição de 0,4 %. Prevê-se que a aviação e o transporte marítimo internacional aumentem as emissões em 11,9 %.
As emissões globais de CO2 provenientes do uso da terra, mudança no uso da terra e silvicultura foram em média 1,3 gigatoneladas de CO2 por ano, entre 2013 e 2022, com uma projeção preliminar para 2023 de 1,1 gigatoneladas. No entanto, o estudo diz que uma pequena diminuição nas últimas duas décadas não é robusta, dada a grande incerteza do modelo. As emissões provenientes da desflorestação, o principal impulsionador das fontes brutas globais, permanecem elevadas, destacando o forte potencial de travar a desflorestação visando reduzir as emissões.
O sequestro de 1,3 gigatoneladas-ano, por meio do reflorestamento e silvicultura compensaria dois terços das emissões do desmatamento. As emissões provenientes de outras transições de uso do solo e da drenagem de turfa e dos incêndios de turfa acrescentam contribuições ainda menores. Os maiores emissores durante 2013-2022, em ordem decrescente, foram o Brasil, a Indonésia e a República Democrática do Congo, com estes três países contribuindo com mais de metade das emissões globais de CO2 provenientes do uso do solo.
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De acordo com o Orçamento Global de Carbono, as emissões estagnaram em grande parte nos últimos 10 anos. O mundo não viu um aumento significativo em relação a 2022, que também viu as emissões aumentarem 1%. No entanto, os especialistas dizem que esta estabilização não será suficiente para garantir que as emissões ultrapassem o limite de 1,5ºC – após o qual a Terra poderá sofrer danos irreversíveis decorrentes das alterações climáticas. O Orçamento Global de Carbono estima agora que há 50% de probabilidade de o mundo ultrapassar o limite de 1,5ºC em apenas sete anos.
A professora Corinne Le Quéré, da Escola de Ciências Ambientais da Universidade de East Anglia, disse que as mudanças anuais “não são suficientemente profundas ou generalizadas” para impedir as alterações climáticas. “Todos os países precisam de descarbonizar as suas economias mais rapidamente do que o fazem atualmente para evitar os piores impactos das alterações climáticas”, disse Le Quéré.
O que acontece na COP28
O estudo foi divulgado no momento em que a conferência anual da ONU sobre o clima, COP28, acontece nos Emirados Árabes Unidos. O presidente-delegado da COP28, Sultan Al Jaber, CEO das empresas estatais de petróleo e energia alternativa dos Emirados Árabes Unidos, tem enfrentado duras críticas desde o início da conferência. Na semana passada, memorandos vazados pareciam mostrar que Al Jaber estava usando a conferência para buscar mais negócios de petróleo e gás natural.
No domingo (3), os comentários feitos por Al Jaber na cimeira She Changes Climate, em 21 de novembro, atraíram mais críticas. “Não há nenhuma ciência por aí, ou nenhum cenário por aí, que diga que a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis é o que vai atingir 1,5ºC”, disse Al Jaber, em comentários relatados pela primeira vez pelo jornal Guardian.
As crenças do presidente da COP28 parecem entrar em conflito direto com a posição declarada da ONU sobre o cumprimento do limiar. “A ciência é clara: o limite de 1,5 graus só é possível se pararmos de queimar todos os combustíveis fósseis”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, num discurso na COP28. “Não reduzir. Não diminuir. Acabar.”
*Zachary Folk é colaborador da Forbes EUA. Também escreve para Metro e New York Post (traduzido e adaptado por ForbesAgro)