Um grupo de produtores de leite no Brasil, além de profissionais que atuam na área, visitaram a Itália para uma das mais importantes feiras do setor na Europa, a 78ª Zootecniche Cremona International Exhibition, realizada entre o final de novembro e início deste mês de dezembro, em Cremona.
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A Lombardia, onde está Cremona, é uma das principais regiões produtoras. Não à toa, é famosa pela produção de iguarias como o grana padano, um queijo inventado por monges há mais de 1.000 anos, sendo um dos mais famosos da Itália, e o parmigiano reggiano, feito na região de Emilia Romagna, na cidade de Parma, e um dos produtos símbolos do país. De modo geral, as peças desses queijos são grandes, redondas e muito pesadas.
“Esse evento está se tornando cada vez mais internacional com visitantes de países produtores importantes, como o Brasil”, diz Roberto Biloni, presidente da Zootecniche Cremona. “Essa feira é muito importante para Cremona porque traz destaque para a produção local. Nosso objetivo é promover o setor por meio de novidades para o pecuarista, não só de Cremona ou Lombardia, mas de todo o mundo.”
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A feira é um espaço de celebração para os produtores de leite e uma disputa árdua em busca do melhores animais do país. Neste ano, participaram das avaliações cerca de 700 fêmeas, a maior parte animais da raça holandesa, mais jersey e bruna italiana. Além dos criadores do país, a mostra também recebe pecuaristas do bloco europeu. Foi uma vaca de genética espanhola a escolhida suprema grande campeã. Llinde Ariel Jordan, de 12 anos, da raça holandesa. Ela saiu da criação do espanhol Agapito Fernández, em Sat Ceceño di El Tello, um vilarejo da Cantábria. A vaca ganhou o título pelo segundo ano consecutivo.
As disputas são árduas porque a Itália é um dos principais produtores de leite da Europa, com uma produção baseada em animais de alta genética e de longa tradição queijeira. Em 2022, o país processou 13,4 milhões de toneladas de leite, ante 13 milhões de litros no ano anterior. Junto com a região do Piemonte, a Lombardia responde por cerca de 70% de todo o leite do país. Em relação ao destino, 52% do leite italiano é consumido in natura ou utilizado na produção de queijos e o restante vai para outros produtos lácteos, como manteiga, iogurtes, cremes, entre outros.
Mas ainda tem participação pequena de vendas ao Brasil. Em 2022, os brasileiros consumiram 5,3 mil toneladas de queijos importados da Europa, por US$ 26,1 milhões. Desse total, foram apenas 433 mil quilos, por US$ 3,9 milhões. A maior parte dos queijos europeus que entram no Brasil vem da França e é isso que os italianos miram.
Em todos os países da União Europeia o leite tem um significativo do valor para a produção local. O bloco produz cerca de 155 milhões de toneladas por ano, sendo os principais a Alemanha, a França, a Polónia, os Países Baixos, mais a Itália e a Irlanda, nesta ordem. Esse grupo de países representa cerca de 70 % da produção de leite da UE.
Para Antonio Monge, analista de mercado e responsável pela comitiva brasileira convidada pela ITA (Italian Trade Agency), órgão ligado ao Ministério das Relações Exteriores e Cooperação Internacional da Itália, com sede em São Paulo (SP), “a exportação é um dos principais geradores do PIB italiano e o Brasil é um importante cliente potencial para essa parceria”. Mas ele salienta que por ora, principalmente, o potencial maior está no “setor de máquinas e ferramentas para a agropecuária”. Segundo o executivo, o governo italiano tem interesse em estreitar os negócios e esse intercâmbio pode abrir mercado também para o Brasil.
O que a Itália pode ensinar ao Brasil
Edna Matsuda, diretora de exportação do grupo brasileiro Matsuda, que tem entre os negócios a produção de sementes e forrageiras para pastagem, diz que é importante observar as diferenças entres os mercados dos dois países, com características muito peculiares de clima e solo. “Estar de olho no que está acontecendo em todo o mundo e nos concorrentes é fundamental para o negócio”, afirma ela.
O Brasil é um grande produtor de leite, com 34,6 bilhões de litros estimados para 2022, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Porém, o leite é basicamente para consumo interno e a tradição queijeira ainda é de nicho.
O produtor de leite Roberto Jank, diretor-presidente na Agrindus S/A, de Descalvado (SP), detentora da marca Letti A², esteve na Itália com um propósito bem específico: depois da feira de Cremona ver nas propriedades os detalhes da produção do mundialmente apreciado queijo grana padano. A Agrindus, hoje na terceira geração, foi criada em 1945 e é referência em melhoramento genético da raça holandesa.
“Eu e a Diana, minha filha, que é a responsável pelo marketing, estamos estudando a fabricação do nosso próprio grana padano”, diz Jank. “Um ponto que observamos e pode ser um desafio no Brasil, é que esses produtos são caros e ficam armazenados por muito tempo, o que necessita de um seguro alto, são ‘milhões de reais’ nesses espaços, mas vamos encontrar um jeito.” A fabricação brasileira ainda não tem data marcada, mas Jank garante que não deve demorar muito. “Quem sabe a empresa receba encomendas já para 2024”.