A Destilaria Kingsbarns foi ideia do caddie de golfe escocês Douglas Clement. No golfe, o caddie é aquele garoto que carrega tacos e bolas para os jogadores. Como caddie de longa data em Kingsbarns Links, em East Neuk of Fife, na Escócia, Clement estava constantemente entretendo ricos jogadores de golfe que chegavam de todo o mundo para jogar golfe em St Andrews. E mais do que isso, seus clientes sempre quiseram ir a uma destilaria para degustação de uísque, mas não havia nada por perto. Foi então que ele começou a traçar um plano. Hoje, a Destilaria Kingsbarns é um dos destaques da Rota do Whisky na Escócia, com suas bebidas classificadas entre as melhores do mundo.
-
Siga a Forbes no WhatsApp e receba as principais notícias sobre negócios, carreira, tecnologia e estilo de vida
Transformar o seu sonho em realidade foi um trabalho de paixão para o jovem caddie, nascido em St Andrews e criado numa quinta perto de Anstruther. Durante a década de 1980, Clement visitava frequentemente uma quinta abandonada do século 18, em uma localidade chamada Cambo, que sempre considerou o local perfeito para uma destilaria. Ele fica a poucos quilômetros de St Andrews, a cerca de 20 minutos de carro. Desde a sua concepção, em 2009, foram necessários cinco anos para que a ideia se transformasse numa destilaria pronta para operar na East Newhall Farm.
Inicialmente, Clement levantou 100 mil libras esterlinas (cerca de R$ 620 mil na cotação atual), de 15 investidores, muitos deles jogadores de golfe que Clement conhecia. Ele passou mais dois anos arrecadando fundos, bem como um subsídio do governo escocês de 670 mil libras esterlinas (R$ 4 milhões), embora ainda estivesse bem aquém da quantia de dinheiro necessária para construir a destilaria.
Leia também:
- A revolução que mistura vinho, arte e turismo na Chapada Diamantina
- 5 verdades que você precisa saber antes de investir em uísque
- Conheça o bilionário por trás do requisitado bourbon Pappy Van Winkle
Incapaz de atingir seu objetivo sozinho, Clement acabou vendendo o negócio para a Wemyss Distillery Ltd, que pertence à família Wemyss, fundadora da engarrafadora independente Wemyss Malts, em 2013. Seis meses depois, começou a construção da destilaria, que ficou pronta no final de 2014.
“Sempre adorei este local com vista para o campo de golfe, porque estava abandonado há 20 anos”, disse Clement, em entrevista à Forbes. “Quando eu era pequeno, a fazenda se parecia com um zoológico, com uma loja e um café. Frequentava a fazenda e adorava brincar no local. Quando surgiu a ideia da destilaria, contactei o proprietário, que concordou com um arrendamento, aguardando uma oferta de compra. Em 2009, formei a empresa Kingsbarns Company of Distillers e consegui os cerca de 15 investidores. Mas também tive muitos nãos tentando arrecadar o dinheiro. Então, em 2012, decidi me concentrar em engarrafadores independentes, como a Wemyss, que encontravam dificuldades em obter uísques para engarrafar.”
Nessa mesma época, o dono do negócio, William Wemyss, estava pensando em comprar uma destilaria de single malte e foi aí que tudo começou a andar. “Fife era nosso condado natal, então o local ressoou como um cântico para nós”, disse ele. “E gostamos da ideia da proximidade com o Old Course – o campo mais velho do mundo – e da combinação de uísque single malt e golfe. Achamos que era uma venda bastante atraente. Lembro que ainda antes disso, quando a Glenmorangie assinou o acordo para ser o espírito do Open, essa combinação passou a ser muito impulsionada pelo mercado dos EUA. Foi mais ou menos na mesma época que nos envolvemos com a Kingsbarns.”
Wemyss assumiu a produção e Clement foi mantido como gerente do centro de visitantes que, reconhecidamente, nunca criou a empresa para enriquecer. “Foi mais uma ideia romântica”, admite ele. “Fui caddie durante toda a minha vida. Então, não era realmente sobre dinheiro, mas se tratava de tentar me desafiar. Sempre achei que era uma decepção para minha mãe porque fui para a universidade, obtive um diploma de administração de primeira classe e realmente não havia feito nada com ele, até aquele momento. Quando esse plano surgiu, estava realmente determinado a fazer acontecer.”
Do campo para a garrafa de uísque
Hoje, em Kingsbarns, a maioria dos ingredientes para o whisky é de origem local, produzidos na fazenda, sendo as únicas importações são de leveduras e de barris de bourbon norte-americano.
O solo da região é perfeito para o cultivo do ingrediente principal, a cevada, e o abastecimento de água local vem de um poço perfurado há cerca de 60 anos. A água é armazenada em arenito, que tem 330 milhões de anos, absorvendo as características da rocha e tornando-a rica em minerais. Isso é uma coisa única, visto que a maioria das destilarias escocesas retira água de lagos ou riachos das Terras Altas. O uísque tem sabor de single malte Lowland, mais leve que seu primo Highland, com fragrância frutada. O primeiro barril fica em um pombal de 300 anos – que hoje é a peça central da destilaria
Ao ser questionado se é um aficionado por uísque, o eterno canddie não titubeia. “Os uísques que bebo são de destilarias iniciantes que me inspiraram”, diz Clement. “Destilaria Kilchoman, uma pequena destilaria agrícola em Islay; a Destilaria Lark, na Tasmânia, e outra pequena destilaria agrícola, aqui em Fife, chamada Daftmill. Outra que me inspirou foi a Destilaria Arran, que provavelmente foi a primeira da nova onda de jovens destilarias. Então, tendo a ser leal a eles e à safra atual ao lado de Kingsbarns, sendo também muito fã de Ardnamurchan na costa oeste, e também de Harris em Tarbert.”
Mas Clement decidiu deixar de trabalhar na destilaria em 2017 e agora está de volta como caddie de golfe e passeios. Isso é algo que ele realmente sentiu falta. “Senti muita falta de ser caddie e não houve um dia em que eu não estivesse pensando nisso. Atualmente, há cerca de 300 caddies em Saint Andrews e acho que temos cerca de 150 em Kingsbarns. Carregamos duas vezes por dia e você pode ganhar bem com isso. Há muitos profissionais desiludidos e pessoas próximas da aposentadoria que estão embarcando na atividade. É uma mistura de estudantes da Universidade de Saint Andrews e aposentados, e provavelmente temos um núcleo de 30 a 40 pessoas como eu, que fazem isso desde os 12 ou 13 anos de idade.”
“A vida de um caddie é bastante intensa, de 4 a 5 horas com o golfista”, acrescenta. “Quer dizer, é fácil carregar a mala e dar as distâncias, mas o que faz um bom caddie é ser capaz de dizer a coisa certa na hora certa e não dar muita informação, e também saber realmente o que faz em termos de condições do vento, do terreno, a leitura dos greens. Eu adoraria ser um profissional de golfe, mas nunca fui bom o suficiente. E não gostava de trabalhar como assistente profissional. Então, para mim, ser caddie era a segunda melhor opção porque me permitia estar lá no campo de golfe.”
*Jim Dobson é colaborador da Forbes EUA, baseado na Grécia. Escreve sobre histórias de pessoas e lugares. (tradução: ForbesAgro)