Agricultores bloquearam várias estradas em toda a França nesta quarta-feira (24) para pressionar o governo a flexibilizar as regulamentações do comércio exterior e protegê-los das importações baratas e aumento dos custos de produção.
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Provocando engarrafamentos com longas filas de tratores nas rodovias, além de pilhas de feno jogadas em frente a órgãos públicos, os agricultores disseram que os protestos continuarão enquanto suas exigências não forem atendidas, num momento em que um novo primeiro-ministro, Gabriel Attal (partidário do presidente francês, Emmanuel Macron), acaba de assumir.
Muitos produtores do maior produtor agrícola da União Europeia enfrentam dificuldades financeiras e dizem que seus meios de subsistência estão ameaçados, pois os varejistas de alimentos estão aumentando a pressão para baixar os preços após um período de alta inflação.
“Nossos custos continuam aumentando e isso não é levado em conta no que nos é pago”, disse o produtor de leite Pascal Le Guern em um bloqueio de estrada em Plouisy, na Bretanha, no oeste da França.
Os agropecuaristas citam um imposto do governo sobre o combustível para tratores, importações baratas, problemas de armazenamento de água, pressões de preços dos varejistas, burocracia e regras ambientais entre suas queixas.
Arnaud Rousseau, chefe do poderoso sindicato agrícola FNSEA, disse à France 2 TV que o grupo publicaria dezenas de demandas específicas até o final do dia.
Temendo uma repercussão da agitação dos agricultores na Alemanha, Polônia e Romênia, o governo francês já adiou um projeto de lei agrícola destinado a ajudar mais pessoas a se tornarem agricultores, dizendo que reforçará as medidas e flexibilizará algumas regulamentações.
Segundo a imprensa francesa, Macron também está preocupado com o crescente apoio dos agricultores à extrema-direita antes das eleições para o Parlamento Europeu em junho.
Um pequeno grupo de produtores franceses também protestou perto da sede do Parlamento Europeu, em Bruxelas.
“Eles nos impõem padrões cada vez mais draconianos, mas, por outro lado, nossos produtos não são protegidos”, disse Philippe Thomas, de 57 anos, um agricultor de cereais de La Meuse, no leste da França.
À medida que o Acordo Verde de políticas ambientais da UE é implementado, o aumento do trabalho e dos custos dos agricultores precisa se refletir nos preços dos produtos, disse Thomas Waitz, parlamentar da UE Verde da Áustria, que também é agricultor e apicultor.
Ele pediu que a UE, formada por 27 países, se certifique de que os produtos importados também tenham que atender a altos padrões ambientais para evitar a concorrência desleal.
França apoia Embrapa na capacitação de indígenas
No Brasil, as relações com a França ganharam força. A Embrapa anunciou hoje um programa de aprendizado online chamado “Semeando Florestas em Terras Indígenas” para ajudar as comunidades amazônicas a reflorestar terras degradadas na floresta tropical e fora dela.
A iniciativa, que conta com o apoio do governo francês, foi lançada pelo cacique kayapó Raoni Metuktire, um incansável ambientalista da Amazônia, e pelo cacique Almir, do povo suruí.
O curso da Embrapa se concentrará em capacitar formas de coletar, germinar e armazenar sementes de árvores. Módulos posteriores mostrarão como construir estufas para cultivar mudas de espécies de árvores locais e, por fim, como plantá-las.
O objetivo é incentivar dezenas de aldeias na Amazônia e em outros lugares a plantar um milhão de árvores por ano, disse a Embrapa.
O programa tem a intenção de recuperar terras florestais degradadas, destruídas por incêndios florestais, madeireiros e garimpeiros ilegais, além de invasores de terra que derrubaram árvores para abrir caminho para pasto de gado.
“Eu estou pensando que reflorestar a floresta, semear a floresta, é para ter que equilíbrio do clima para nós. É isso que eu penso: (para) ter menos calor, precisamos de árvores para ter uma terra mais com temperatura amena”, disse Raoni à Reuters.
O cacique Almir disse que o programa começará com 10 territórios indígenas, incluindo o Parque Nacional do Xingu, a primeira reserva do Brasil cercada pela agricultura comercial, e a maior delas, a Terra Yanomami na fronteira com a Venezuela, que tem as terras mais degradadas devido à mineração.
Para Almir, o reflorestamento irá reduzir a degradação das terras indígenas e, em última análise, contribuir para que o Brasil atinja suas metas de desaceleração das mudanças climáticas.
“Vai recuperar as terras indígenas da degradação e depois vai ajudar bastante atingir a meta do próprio governo brasileiro no combate às mudanças climáticas”, disse, em entrevista.