Foi um longo dia de trabalho, o jantar está na mesa ou você se senta para relaxar com uma taça do seu vinho favorito. Nesses momentos, raramente passa pela cabeça questionar o tipo de vinho que comprado, de onde ele vem ou como as garrafas afetam o meio ambiente. Tudo o que interessa nesse momento é que a bebida seja agradável ao paladar. Mas, e se você soubesse mais sobre seu vinho, ele não se tornaria mais saboroso? E se houvesse uma empresa fazendo uma revolução nesse setor antigo da economia? Você prestaria atenção?
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De acordo com a recrutadora de mercado e consultoria norte-americana Zippia, apenas 17,8% dos produtores de vinho são mulheres e, dessa porcentagem, apenas 1% é de negras. Por isso, Sarah Hoffman, Kendra Kawala e Zoe Victor, cofundadoras da marca de vinho Maker Wine, assumiram a missão de melhorar essas estatísticas.
A marca premium de vinhos enlatados amplifica a voz e produtos de vinícolas lideradas por mulheres e pertencentes a minorias. As sócias levantaram US$ 2,3 milhões (R$ 11,2 milhões na cotação atual) com investidores e operadores como a Pear VC, Marcy VP e Chainsmokers.
Hoje, a empresa domina as vendas online de vinhos enlatados, ostentando mais de 40 mil membros em sua comunidade online e dois mil membros no Can Club, tudo isso alimentado por uma experiência tecnológica exclusiva. A Maker tem 12 vinhos com notas acima de 90 pontos e 43 medalhas de ouro de competições como a SF Chronicle Int’l Wine Competition, a Sunset Int’l Wine Competition e a Sommelier’s Challenge e outras.
Além disso, a companhia faturou cerca de US$ 5 milhões (R$ 25 milhões) desde o seu lançamento e vendeu mais de 350 mil latas em 2023, consagrando-se como a maior varejista online de vinho em lata. A empresa começou a nascer em 2018, ainda quando as sócias estavam na faculdade.
“Para nós, desde o início era importante destacar diversos produtores de vinho de uma forma que mostrasse, e não apenas contasse. Era nisso que acreditávamos e queríamos nos apoiar. Em essência, nosso produto tem como objetivo tornar o vinho mais inclusivo — tudo, desde a forma como você o bebe até quem você está apoiando”, diz Sarah Hoffman. “À medida que você aprende mais sobre o setor, uma porcentagem muito pequena de produtores de vinho são mulheres, e uma porcentagem ainda menor é de mulheres negras. E, pela natureza do que estávamos fazendo, encontramos bolsões de produtores diversificados.”
Hoffman iniciou sua carreira gerenciando orçamentos de marketing multimilionários. Mais recentemente, ela trabalhou na Eventbrite e na agência Right Side Up, uma consultoria de marketing de crescimento que impulsiona marcas como a StitchFix e Masterclass. Quando decidiu que queria fazer um mestrado, Hoffman conheceu Kendra Kawala na Stanford Business School. Foi nesse ambiente que elas se conectaram por meio da profunda paixão das duas pelo setor de alimentos e bebidas.
Kawala construiu sua carreira inicial como consultora de gestão de saúde no Huron Consulting Group. Ela se especializou em operações, inovação e vendas B2B. Por exemplo, fechou e liderou o maior projeto de consultoria da Huron, com uma venda de mais de US$ 100 milhões. Mas depois de se mudar para a Califórnia, para cursar a faculdade de administração de empresas, e conhecer de perto a complexa dinâmica do setor de vinhos, ela sabia que queria trabalhar nessa área.
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“Foi a primeira vez que me apaixonei pelo processo autêntico de produção de vinho e pelo que ele realmente é”, afirma Kawala. “Pensei: ‘Isso tem um lugar no mundo; as pessoas deveriam conhecer vinhos e produtores de vinho mais diversificados’.”
Enquanto Hoffman e Kawala continuavam pesquisando o mercado, elas fizeram um curso chamado Global Dynamics of the Wine Industry (Dinâmica global do setor de vinhos). O professor desse curso acabou se tornando um dos primeiros investidores-anjo da Maker. Foi nessa época que as duas conheceram Zoe Victor, por meio da rede de alunos de Stanford. Ela entrou na empresa depois de construir uma carreira de sucesso em tecnologia de consumo. Victor liderou a estratégia corporativa e as operações comerciais em empresas como a Xbox e, depois, a Maker.
Após fundar a empresa, um dos principais desafios desse trio de mulheres foi quebrar o estigma do vinho enlatado. “Em poucas palavras, o que ouvíamos em conversas era: ‘Isso não vai funcionar. Vocês são loucas'”, conta Kawala. “Estávamos tentando mostrar que as latas poderiam ser de alta qualidade e convencer as vinícolas independentes a nos deixar usar não apenas seus vinhos e sua genialidade, mas também suas marcas e histórias. Também tentamos convencer as pessoas de que elas estão prontas para comprar vinho de uma nova maneira, em um novo lugar, online.”
Hoffman e Kawala testaram sua ideia por meio de pesquisas com os clientes. Após isso, começaram a desenvolver a marca e a entrar em contato com os produtores, que queriam ver inovação nas embalagens. A equipe da The Maker’s concentrou-se na criação de uma lata que não permitisse exposição à luz, oxidação ou vinhos arrolhados, para não afetar o sabor. As latas totalmente recicláveis e sem rolha também têm uma pegada de carbono menor do que as garrafas.
Para as cofundadores, era importante trazer à luz produtoras de vinhos com pouca visibilidade e sub representadas. Terah Bajjelieh, proprietária e produtora de vinhos da Terah Wine Co., por exemplo, ficou intrigada com a missão da Maker em apoiar mulheres produtoras por meio de vendas diretas e compartilhamento das marcas e histórias numa escala maior.
“É empolgante ver uma startup liderada por mulheres em rápido crescimento no setor de bebidas que teve conquistas tão notáveis em um período de tempo relativamente curto”, diz Bajjelieh. “De acordo com o Battonage Forum, 30% das empresas americanas são de propriedade de mulheres, enquanto apenas 14% das vinícolas femininas têm uma enóloga líder. Se pudermos colaborar e nos elevarmos mutuamente, isso é poderoso.”
Desde o lançamento em 2020, a Maker expandiu-se rapidamente, mostrando que qualquer mercado pode sofrer mudanças. Hoje, à medida que as cofundadoras continuam a desenvolver sua marca, elas se concentram em algumas diretrizes que passam adiante para as parceiras e parceiros no negócio:
• Não espere muito tempo para agir com base numa ideia. Sempre haverá pessoas que lhe dirão que ela nunca funcionará. E daí? Vá em frente.
• Escolha parceiros ou cofundadores que sejam bons jogadores de equipe e que enfrentarão as tempestades com você; dedique o tempo necessário para verificar os estilos de trabalho, a ética e os hábitos antes de assumir um compromisso vitalício.
• Retribua. Você nunca erra ao apoiar os outros.
“Como profissional de marketing, adoro momentos mágicos com o produto”, diz Hoffman. “Todos se lembram daquele primeiro momento em que tomam uma taça de vinho e pensam: ‘Ah, eu realmente gosto disso. Entendo como o vinho pode ser uma arte e uma coisa especial’. Acho que o segundo momento é quando você percebe que pode tomar uma taça de vinho realmente excelente, não apenas de algumas marcas estabelecidas, mas desses produtores artesanais que têm uma história especial para contar.”
*Cheryl Robinson é colaboradora da Forbes EUA, autora da série de livros infantis “The Happy Habits Club”, doutora em educação em liderança organizacional e apresentadora do podcast Embrace the Pivot.(Tradução: ForbesAgro)