Você sabia que a primeira denominação de vinho do mundo, baseada em padrões de vento, pode ser encontrada no Condado de Sonoma, na Califórnia. Chamada de “Petaluma Gap”, a denominação recebeu esse nome por causa da abertura incomum nas montanhas costeiras ao longo dessa região fria e selvagem do Oceano Pacífico. A fenda permite que o vento frio e a neblina se precipitem para o interior em direção à cidade histórica de Petaluma, tornando-a um dos locais mais ventosos e com mais neblina para o cultivo de uvas viníferas nos EUA.
“Ainda me lembro de visitar Petaluma Gap e ficar no topo de uma colina”, diz Tonya Pitts, sommelier e diretora de vinhos do One Market Restaurant, em São Francisco. “O vento era tão forte que literalmente chicoteava as videiras de um lado para o outro.”
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No entanto, é esse vento, combinado com a névoa refrescante, que faz de Petaluma Gap um dos melhores lugares para cultivar uvas chardonnay, pinot noir e syrah de clima frio. Isso ocorre porque o vento faz com que as cascas das uvas engrossem, resultando em sabores de frutas mais concentrados, taninos e camadas de textura nos vinhos. Ao mesmo tempo, o clima mais frio e a neblina mantêm a acidez brilhante e o frescor da bebida.
Em função desses fatores, os vinhos da Petaluma Gap AVA – área criada em 2017, com 20 vinícolas que ocupam 1.620 hectares a cerca de 50 quilômetros ao norte de São Francisco – não são apenas distintos no sabor, mas também são especialmente harmônicos com em refeições. Todos os anos, em agosto, os produtores de vinhos e de vinícolas da região promovem o Petaluma Gap Festival do Vento ao Vinho, para mostrar a produção, a estrutura das vinícolas, como a bebida é produzida e uma série de encontros enogastronômicos.
Nós entrevistamos seis sommeliers para saber suas opiniões sobre os vinhos de Petaluma Gap e as dicas de combinações gastronômicas. Os seis sommeliers consultados têm experiência em degustar vinhos da Petaluma Gap visitando a região ou recebendo amostras dos produtores em casa. São eles:
- Eumi Lee, sommelier do Loxahatchee Club em Júpiter, Flórida
- Chris Sawyer, educador de vinhos e ex-sommelier particular da Getty Mansion, na Califórnia
- Andrea Morris, diretora de bebidas e sommelier do Essential by Christophe, em Nova Iorque, NY
- Tonya Pitts, diretora de vinhos e sommelier do One Market Restaurant, em São Francisco, Califórnia
- Devon Jesse, assistente do diretor de vinhos e sommelier da Wrigley Mansion, em Phoenix, Arizona
- David Glancy, mestre sommelier e fundador da San Francisco Wine School, na Califórnia
Pinot Noir e suas combinações com alimentos
Como a pinot noir é provavelmente a uva mais famosa cultivada em Petaluma Gap, todos os seis sommeliers forneceram suas impressões sobre o vinho produzido com essa fruta, juntamente com as suas combinações gastronômicas.
“O pinot noir é a estrela, e eu sou um fã”, diz David Glancy, do Mississípi. “As brisas frescas e a neblina ajudam a preservar a acidez de dar água na boca. Uma ótima combinação gastronômica é o peito de pato grelhado com redução de romã, mas muitas preparações de peixes ou aves gordurosas funcionam bem.”
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Eumi Lee, da Flórida, concorda. “Os pinots não são tímidos. Eles têm a masculinidade de um pommard, mas ainda assim mostram elegância. Tem boa acidez, frutas silvestres frescas e especiarias. Eu o acompanharia com sushi de uni, que é como um melão fresco em sua boca. Acho que as pessoas deveriam parar de evitar as combinações de frutos do mar e tintos.”
Tonya Pitts, de São Francisco, junta-se ao grupo de harmonização de frutos do mar. “Essa região oferece o vinho equilibrado por excelência, com frutas, acidez, mineralidade e camadas de complexidade. Minha combinação favorita seria sardinhas recheadas assadas com tomate, abobrinha, azeitona verde e salsa.” Ela observa que, além do pinot noir, isso também poderia funcionar com o chardonnay e o rosé do Petaluma Gap.
Andrea Morris, de Nova York, descreve os pinot noirs como tendo “um frescor combinado com intensidade de sabor que é incomum na Califórnia”. Ela recomenda “um prato salgado que inclua um elemento doce, como pato com cerejas, que pode ser difícil de harmonizar, mas a fruta madura de um pinot noir de Petaluma Gap dá conta do recado, enquanto a acidez característica impede que a harmonização seja enjoativa”.
Devon Jesse, do Arizona, afirma: “Os pinot noirs têm uma maravilhosa estrutura de taninos elevados e o poder de torná-los excelentes para acompanhar a comida”. Do menu da Wrigley Mansion, ela sugere “nosso peito de pato envelhecido a seco por 14 dias com tamale de huitlacoche, amora em conserva e molho de mel. O sabor frutado do vinho faria com que as amoras se destacassem, e o tanino elevado seria suavizado pelo rico molho de mel”.
Chris Sawyer, morador de Petaluma, concorda com o peito de pato. “Aves são a assinatura de Petaluma. Eu sugeriria uma harmonização com o pato Liberty da própria Petaluma, assado com um au jus de romã.”
Chardonnay e syrah de Petaluma Gap
Duas outras variedades de uvas famosas que prosperam em Petaluma Gap são a chardonnay e a syrah de clima frio. Devon Jesse e Eumi Lee comentaram sobre a distinção dessas duas variedades na região.
“Muitos dos produtores de uvas do chardonnay que provei optaram por usar um mínimo de carvalho francês novo, o que realmente destaca os aromas frescos e saborosos do verdadeiro chardonnay”, afirma Devon Jesse. “Os syrahs tinham uma característica de frutas escuras e, por causa do clima mais frio provocado pela neblina, também tinham sabores e aromas de pimenta preta e carne curada.”
“Os chardonnay são muito cremosos, mas não de uma forma ofensiva. Eles têm um cheiro maduro no nariz, mas no paladar são mais parecidos com Chablis”, afirmou Eumi Lee. “Os syrahs são sensuais, com um toque de acidez que seduz. Eles apresentam um bom equilíbrio entre potência e elegância. Há um toque de hortelã, endro e erva-doce nos vinhos.”
As combinações gastronômicas para os chardonnays Petaluma Gap incluem:
- Vieiras grelhadas na frigideira, risoto com cogumelos selvagens e limão e sopas sazonais (Chris Sawyer).
- Pratos de peixe mais ricos, como salmão grelhado ou até mesmo uma costeleta de porco com maçãs (Andrea Morris)
- Truta Steelhead envelhecida por cinco dias com beurre cancalaise, favas e gel de yuzu (Devon Jesse)
*Liz Thach é colaboradora da Forbes EUA, professora, escritora e consultora de vinhos baseada em Napa e Sonoma, Califórnia. Ela também é presidente do Wine Market Council, empresa sem fins lucrativos que fornece pesquisas sobre hábitos e tendências de compra dos consumidores de vinho nos EUA. (Tradução: ForbesAgro)