O crowdfunding Arara Seed nasceu de olho no potencial do agro brasileiro, em junho de 2022. Localizado em Ribeirão Preto (SP), na maior região canavieira do mundo e uma das cidades mais ricas do país, um time de jovens do agro acredita tem uma meta ambiciosa. Até 2030, o objetivo do crowdfunding é captar R$ 200 milhões, disse à Forbes o administrador Henrique Galvani, 30 anos, seu co-fundador e CEO. Equity crowdfunding é um tipo de captação de recursos visando investimentos em startups.
Galvani foi listado como um talento do agro na mais recente lista Forbes Under30, um projeto que nasceu para mostrar jovens empreendedores em 15 áreas de atividade, como economia, entretenimento, Influenciadores & Gamers, finanças, marketing & publicidade, entre outros. A categoria agro foi criada na edição de 2023, anunciada em dezembro.
-
Siga a Forbes no WhatsApp e receba as principais notícias sobre negócios, carreira, tecnologia e estilo de vida
No ano passado, a Arara Seed captou R$ 2,3 milhões — a meta era R$ 4,5 milhões — por meio de crowdfunding com 90 investidores. Os recursos foram aplicados em três agtechs. Desde sua criação, a Arara Seed avaliou 220 agtechs e gerou, além do equity público, R$ 10,2 milhões com um aporte fora das rodadas coletivas. “Quem originou a (captação) privada foi o próprio crowdfunding. Investidores vieram a nós e acabamos entendendo que fazia mais sentido uma rodada privada pelo tamanho do cheque”, conta Galvani.
O equity privado deve responder por R$ 60 milhões da meta final (R$ 200 milhões) da Arara Seed. Se possível, até mais. Em um setor regulado pela CVM (Comissão de Valores Imobiliários), e num país onde atualmente existem mais de 1,7 mil agtechs, segundo o Radar Agtech Brasil, Galvani explica nesta entrevista os desafios de unir, por meio do financiamento coletivo, investidores com recursos e interesse em negócios que prometem, mas não têm capital. Confira a entrevista com o Under30:
Quais são os planos de investimento da Arara Seed? A gente está muito animado neste ano. Agora, em fevereiro, vamos lançar a rodada de uma startup de carbono e vai ser bem legal. Tem tudo a ver com o que a gente acredita. Ela é uma greentech, ou melhor, uma climate tech. Para 2024, nossa pretensão é pelo menos dobrar o volume de captação do que foi o ano passado. Chegar a algo próximo de R$ 6 milhões e investir pelo menos em mais cinco negócios. Com as boas perspectivas de uma taxa de juros prevista a 9% no final do ano, isso vai deixar um pouco mais atrativo os investimentos alternativos.
Leia também:
- Arara Seed capta R$ 1,8 milhão para a agtech Agroboard
- 5 previsões para alimentos e tecnologias agro em 2024
- Número de agtechs cresce 8% no Brasil e chega a 1.703 em 2022
Onde imagina que seu negócio estará daqui a cinco anos? Estou muito otimista e feliz com o nosso caminho. Imagino que estaremos próximos da meta de R$ 200 milhões e nos posicionando como o principal crowdfunding do agro no Brasil, com a regulação da CVM avançando bastante, principalmente no quesito de liquidez para o investidor, que hoje é um desafio desse mercado. A CVM faz um trabalho incansável no mercado de capitais, particularmente no corner fund.
Qual o seu espelho, como mentor? Meu mentor é meu sócio Rodrigo Barbetti. Ele é o cara que eu mais admiro ultimamente, junto com o Fernando Rodrigues, da Rural Ventures (fundo para startups do agro).
Recomendaria um livro de cabeceira para empreendedores? Com certeza “The hard things about the hard things”, que traduzido se chama “O lado difícil das situações difíceis” (escrito por Ben Horowitz, um dos empreendedores mais respeitados e experientes do Vale do Silício).
Pode contar um pouco de sua trajetória? Sou de Morro Agudo, cidade do interior de São Paulo, de 30 mil habitantes. Com 17 anos fui fazer intercâmbio em Lincoln, Nebraska, nos Estados Unidos. Fiz o colegial, voltei e mudei para Ribeirão Preto com o objetivo de encontrar melhores oportunidades.
Em 2013, ingressei no programa de treino do Grupo BLB Brasil, uma firma de auditoria e consultoria. Eu só atendia clientes do agro, desde usinas de açúcar e álcool, agropecuária, pequenos e médios produtores, revendas agrícolas. Em 2018, fui fazer outro intercâmbio de cerca de três meses na Califórnia, dessa vez em San Diego.
Foi lá que me deparei com o mercado de venture capital. E daí, junto com um sócio da BLB, fundamos a BLB Ventures, que é uma venture builder. Foi o começo de todos os negócios, inclusive a Arara Seed. Fundei a BLB Venture em 2019 e em 2022 desloquei-a para a Arara Seed com o objetivo de criar o maior crowdfunding do agro do país.
O que é empreender na sua visão? Resiliência, e diria muito tapa na cara, muita vontade de fazer acontecer. E no dia a dia, também a execução vai contar muito mais que os planejamentos.
Quais conselhos daria para um jovem decidido a seguir seus passos? A principal recomendação seria a resiliência mesmo. Deve-se estar muito disposto a ouvir ‘não’, porque muita gente acha que o empreendedor vai ganhar dinheiro logo de cara. No final das contas, ele é o último a sair do negócio, é o último a receber alguma grana que entra, principalmente quando se escolhe empreender num mercado de tecnologia, como é o nosso caso.
Quais são as três atitudes de um jovem empreendedor para obter sucesso? Estar antenado com o mercado, muito networking e não esquecer a nossa saúde física e mental.
Como gerenciar a saúde mental e lidar com estresse? Meu gatilho é o exercício físico. Hoje pratico natação e corrida, só falta incluir a bike para virar um triathlon. Junto com os exercícios físicos, meus principais gatilhos são amigos e namorada. Ah, e faço parte de uma banda de música onde toco ukelele, como hobby.
Qual é o seu principal desafio no trabalho nos dias atuais? Justamente, conciliar a saúde física e mental, com a atenção que a gente tem de dar ao time (atualmente são oito pessoas), e aos negócios. É um desafio conciliar tempo e agenda.
Quando começou lá atrás, qual foi o maior deles? Sair da condição de CLT (carteira de trabalho) para empreender. A gente não sabe um terço do que é gestão. É a transição de trabalhar para alguém e agora trabalhar em um projeto próprio.
Como observa a evolução do mercado agrícola brasileiro? de modo geral e dentro do seu segmento? De um dos maiores importadores de alimentos do mundo para, agora, um dos maiores exportadores, o agro evoluiu muito no Brasil. Liderando na produção de carne, café, milho, soja, ali bem perto dos Estados Unidos, estamos bem posicionados. Estamos com a faca e o queijo na mão. Principalmente pela produtividade, pelas reservas de matas e a capacidade de preservar, porque isso tem muita relação também com o que se discute agora, que é o clima.
Então, o Brasil não só entra com essa função de alimentar o mundo, mas também de preservar o mundo. E nós, com a Arara Seed, que tem a missão de democratizar o acesso aos investimentos em startups do agro, entendemos que o crédito tem um papel fundamental no agronegócio, tanto para a aplicação de novas tecnologias, quanto também para fomentar e aumentar nossa produtividade.
Qual nota daria para ESG no agro brasileiro, considerando o conjunto ambiente, social e governança? Daria nota 8 para o ESG do agro brasileiro. Porque o país é um dos pioneiros em adoção de biológicos na produção e um dos países que mais têm reservas no mundo. São cerca de 20% obrigatórios como reserva legal até 80%, e isso representa uma das políticas ambientais mais auto suficientes do mundo.
Por que eu não daria uma nota maior? Porque a agropecuária ainda tem muito a evoluir, principalmente com essas tecnologias, visto que se fala muito das emissões de gases de efeito estufa. Praticamente o país equalizou a quantidade de bovino versus habitantes. Acredito que ainda há uma evolução relevante para ser feira na agropecuária. Mas estamos no caminho certo.
Quais pautas considera prioritárias para o setor? Regulação do mercado de carbono. Precisamos de uma atenção maior para isso. Vejo que estamos caminhando para o mercado voluntário de carbono e acredito que isso é uma tendência a seguir. Também as regularizações do CAR (Cadastro Ambiental Rural). As notícias recentes são de que a regularização tem um percentual muito baixo. Estamos falando de uma casa decimal desses regularizados no Brasil. É uma atenção que a gente precisa ter.