Em um mundo cada vez mais focado na sustentabilidade e nos recursos renováveis, as demandas em torno do impacto ambiental da mineração de bitcoin chegou a um país que serve de exemplo do que pode acontecer cada vez com mais frequência. Conhecida pelas suas paisagens deslumbrantes e fontes de energia renováveis, a Islândia emergiu como líder global na mineração de bitcoin. No entanto, o país encontra-se numa encruzilhada, enfrentando uma decisão que poderá remodelar as suas prioridades futuras: o equilíbrio entre abraçar a mineração de bitcoin e garantir a sustentabilidade alimentar.
-
Siga a Forbes no WhatsApp e receba as principais notícias sobre negócios, carreira, tecnologia e estilo de vida
A primeira-ministra da Islândia, Katrín Jakobsdóttir, destacou recentemente o dilema da nação. Por um lado, a Islândia possui um fornecimento abundante de energia renovável, o que a torna um centro atraente para os mineradores de bitcoin. Por outro lado, o país enfrenta desafios na auto-sustentação da sua produção alimentar, dependendo fortemente das importações para necessidades básicas, como cereais e vegetais.
Embora a Islândia seja conhecida pela sua abundância de energias renováveis, a sua forte dependência das importações de alimentos pinta um quadro contrastante da sua auto-suficiência.
De acordo com o The Observatory of Economic Complexity, a Islândia reexporta aproximadamente US$ 234 mil (R$ 1,1 milhão na cotação atual) em frutas tropicais, mas importa um valor surpreendente de US$ 9,28 milhões (R$ 46,2 milhões), revelando uma grande lacuna na sua balança comercial alimentar. Esta dependência das importações para as necessidades básicas mostra a necessidade de soluções para melhorar a sustentabilidade local.
Um exemplo é a Bitcoin Brabant, na Holanda, destacando a sinergia entre a mineração de bitcoin e as práticas sustentáveis. Ao utilizar o excesso de calor gerado pela mineração de bitcoin, otimizam o uso de energia renovável e fornecem uma solução de aquecimento econômica para empresas e estufas.
Leia também:
- Com disparada do bitcoin, investidores aguardam pela “temporada de altcoins”
- Valor de mercado do bitcoin supera US$ 1 trilhão pela primeira vez desde 2021
- Bitcoin renova máxima histórica com aumento do apetite de investidores
Os seus projetos demonstram a mudança de métodos de aquecimento convencionais para uma solução mais sustentável, alimentada por energia solar, reduzindo a pegada de carbono e os custos de energia.
Esta abordagem holandesa apresenta um modelo viável para a Islândia, mostrando como a integração da mineração de bitcoin com fontes de energia renováveis pode contribuir para a sustentabilidade ambiental, ao mesmo tempo que apoia a agricultura local e reduz a dependência das importações de alimentos.
A história do empresário Kamil Brejcha, baseado em Praga, também oferece uma contra narrativa convincente à ideia de que a mineração de bitcoin e a sustentabilidade ambiental podem coexistir. A abordagem de Brejcha aproveita o excesso de calor da mineração para cultivar “criptomatos”, demonstrando uma relação simbiótica entre tecnologia e agricultura. Isto desafia a percepção da mineração como inerentemente um desperdício e apresenta um modelo de como a mineração e a agricultura podem criar benefícios mútuos.
O projeto é mais do que uma experiência peculiar; mostra o potencial para criar um ciclo energético sustentável. Eles utilizam 100% de energia produzida a partir de bio-resíduos para abastecer as operações de mineração e empregar o excesso de calor para a agricultura em estufa. Esta abordagem destaca as preocupações ambientais associadas à mineração e contribui para a produção de alimentos, oferecendo uma solução para uma das questões prementes da Islândia.
Em 2022, as importações de frutas tropicais da Islândia saíram principalmente da Holanda, Peru, Dinamarca, Colômbia e Costa Rica. Ao adotar soluções semelhantes, a Islândia poderia reduzir significativamente as milhas aéreas nas importações.
A utilização do calor residual da mineração de bitcoin apresenta uma oportunidade para as empresas. Ao aproveitar o excesso de calor gerado pelas operações mineiras, as empresas melhoram a sua sustentabilidade ambiental e libertam fluxos de receitas adicionais. Esta abordagem destaca o potencial da mineração de bitcoin para contribuir positivamente para a viabilidade econômica e para o cuidado do ambiente, oferecendo um modelo para indústrias conscientes da sustentabilidade em todo o mundo.
A Islândia está na vanguarda destas oportunidades. Em vez de encarar a mineração de bitcoins e a sustentabilidade alimentar como objetivos mutuamente exclusivos, o país tem potencial para liderar pelo exemplo, mostrando ao mundo que é possível aproveitar a tecnologia e os recursos renováveis.
É importante reconhecer a necessidade de priorizar a produção de alimentos em vez da mineração de bitcoins com os abundantes recursos energéticos da Islândia. Embora a sustentabilidade alimentar seja crítica, o desvio de energia da mineração de bitcoin ignora os benefícios potenciais e econômicos. O foco da Islândia na utilização do seu excedente de energia para a mineração de bitcoins alinha-se com as suas competências tecnológicas e oferece oportunidades para o crescimento econômico sustentável. A Islândia tem potencial para optimizar a sua utilização de energia verde, fortalecer a sua produção agrícola e solidificar a sua posição como um centro líder para a mineração de bitcoin.
A Islândia e outros países sinalizam que a oportunidade está diante do “nariz” de todos. E é um apelo para que se repense a forma como é abordada a intersecção entre tecnologia, sustentabilidade e desenvolvimento econômico. Com as estratégias certas, a Islândia poderia ter o melhor dos dois mundos, provando que, com inovação e visão, não tem de ser uma escolha entre bitcoin e pão – pode ser ambos.
*Susie Violet Ward é colaboradora da Forbes EUA. É jornalista especializada em bitcoin com foco em educação e análise financeira. Também é diretora de mineração e sustentabilidade da plataforma Bitcoin Policy UK.