“A liquidez no agro está espremida”, diz Ricardo França, superintendente executivo e head de agronegócios do Santander, banco com uma carteira de R$ 53,7 bilhões em 2023. Mas, para a Agrishow, a estimativa é manter o mesmo desempenho da feira do ano passado e fechar R$ 2 bilhões em negócios. A Agrishow – 29ª Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação, que começou no domingo (29), vai até a sexta-feira (3), em Ribeirão Preto (SP).
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Mas qual a estratégia do banco para não baixar a guarda e manter o prumo nos negócios? Para o executivo, o banco tem como competir com as linhas oficiais. “Eu consigo fazer, hoje, com financiamento de 5 ou 7 anos, uma linha precificada igual à do BNDES ou muito similar”,diz ele.
No Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social a taxa de juros da nova linha apresentada, a CPR BNDES, será composta pela remuneração básica do BNDES de 1,3% ao ano, com uma remuneração do agente financeiro de até 4,3% ao ano e pelo referencial de custo financeiro. “Hoje, a tesouraria do Santander consegue fazer melhor. Estamos liberando qualquer montante que o produtor vier buscar. Não temos nenhuma restrição de alocação para fazer um financiamento.”
Além disso, França dá como exemplo de competitividade do Santander ainda ter, quase no final do ciclo 2023/24 uma linha de Pronamp a 8% de juros, para produtores que faturam até R$ 3 milhões “No caso dos recursos obrigatórios, trabalhamos com planejamento, não esgotando esses recursos com 3 ou 4 meses, para ter sempre um pouco de subsídio”, diz ele.
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França admite, no entanto, que “não é um momento tranquilo”, principalmente para a soja. “Tudo o que vimos no ano passado, em termos de margens superando grandes números, esse ano não estamos vendo” por causa da baixa liquidez trazida por agricultores que têm sofrido com a quebra de safra e recuo internacional nas cotações dos grãos.
“Há 8 anos que a gente não vê um ajuste de liquidez tão drástico. O agro estava pujante, sempre para cima. Em 2023 houve uma alavancada no preço da soja e agora esse recuo. É claro que pega muita gente de surpresa, porque o mercado ninguém precifica”, diz França, embora o banco já tivesse o cenário no radar. “E num ano com duas variáveis juntas. Onde toda vez que a gente vê uma quebra de safra, se vê um aumento de preço; e toda vez que se vê um aumento de safra, se vê uma queda no preço, agora elas vieram ao mesmo tempo.”
Uma das hipóteses levantadas para o preço em baixa da soja, mesmo com quebra de safra, foi o desempenho da Argentina. No ano passado, os argentinos colocaram no mercado 21 milhões de toneladas da oleaginosa e em 2024 estão despejando acima de 50 milhões de toneladas. “Para o Brasil, neste ano temos a La Niña, o que é animador, mas enquanto ainda não conseguimos precificar a safra.”
Saindo da seara do custeio, onde estão concentradas as linhas de crédito, França afirma que em relação às linhas de investimento, houve uma inversão do papel do Santander na Agrishow. “Nós invertemos a mão, porque vínhamos para a feira somente para o financiamento de máquinas, como colheitadeira, plantadeira, trator, pulverizador. Fomos para o custeio, mas há sim demanda”, diz ele.
Como, por exemplo, a venda de aeronaves, explica ele. “Tem produtor que está fazendo investimento como esse, ou aquele que pegou uma nova área, tem produtor com necessidade de trocar o equipamento. E a hora é agora. Tanto que foi recorde de vendas no ano passado, mas para esse a gente espera sim uma queda, também, de até 15%”, diz França. Para chegar aos R$ 2 bi esperado na Agrishow, uma das ferramentas que o executivo aposta é o consórcio, em que o produtor pode retirar a compra dentro de 180 dias.