As indústrias de máquinas agrícolas de origem asiática, que há muito tempo criaram raízes no Brasil, disputam um mercado em que as importações da China e seus vizinhos ainda são a menor parte, cerca de um quarto do total vendido no país, ou para ser mais exato, 24,6% no ano passado. Mas, com unidades próprias por aqui, elas têm adotado novas estratégias para aumentar a sua presença no mercado interno.
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A exemplo da gigante sul-coreana LG Eletronics, uma multinacional de produtos variados que faturou US$ 70 bilhões (R$ 370 bilhões na cotação atual) em 2023, e que tem um braço dedicado à produção de tratores, a LS Tractor, com fábrica em Garuva (SC). No ano passado, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), mesmo com queda em relação a 2022, a receita líquida total do setor foi de R$ R$ 73,7 bilhões e uma fatia cada vez maior desse bolo é o que querem os asiáticos.
Uma das estratégias são as parcerias. No início de maio, a LS Tractor anunciou um acordo com a fabricante brasileira de implementos agrícolas Motocana, de Piracicaba (SP), visando acoplar em seus tratores novos equipamentos. Já a subsidiária da chinesa Xuzhou Construction Machinery Group (XCMG), com sede na província de Xuzhou, aposta na chamada linha amarela, de maquinário destinado à construção civil, mas também útil nas lavouras e florestas.
Atualmente, há 34 fabricantes asiáticas em operação no Brasil, de acordo com a Abimaq. A LS Tractor faturou globalmente US$ 5 bilhões (R$ 25 bilhões) no ano passado — 7% do valor gerado pela holding LG — e tem três fábricas no mundo. Mas a do Brasil tem sido colocada em evidência. A fábrica, que produz para toda a América Latina a partir daqui, também vende para a África. Para construir a unidade foram necessários três anos de negociação entre os dois países, em 2013. Hoje, saem da linha 3,2 mil tratores por ano, mas a capacidade instalada é de até 5 mil unidades.
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“Já foram vendidos no país 30 mil tratores”, diz o engenheiro agrícola Astor Kilpp, um dos mais antigos na empresa, desde 2016, e que comanda o setor de produtos e marketing da LS Tractor no país. No caso da parceria com a Motocana, agora, os tratores já sairão de fábrica equipados com os componentes hidráulicos da brasileira, para atividades como o pinçamento, colheita e carregamento de produtos silvipastoris e madeireiros, entre outros. “Essa é a estratégia atual para a ampliação da nossa base de negócios”, afirma Kilpp.
Renato Campos, diretor da Motocana, diz que a estimativa com a nova parceria é vender acima de 200 equipamentos hidráulicos por ano. “Nessa faixa de potência em que estamos atuando com a LS, de 80 a 100 cavalos, podemos atender vários segmentos, canavieiro, florestal, carregamento de madeiras, sucata…”, diz ele. “E o mesmo equipamento pode estar no trator agrícola, mas também num caminhão.”
Mas a presença dos equipamentos asiáticos não é somente por meio das fábricas já instaladas no país. As importações vêm ganhando peso, em um cenário muito particular. Em 2023, o Brasil comprou da Ásia o equivalente a US$ 276,3 milhões (R$ 1,4 bilhão), com alta de 5% em relação ao ano anterior, segundo o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). Isso representa 15% do total de máquinas agrícolas adquiridas no país no ano passado – a estimativa para esse ano é que fique próximo de 14%.
Enquanto isso, as exportações ao oriente representam 5,4% do total de máquinas vendidas ao exterior: US$ 104,1 milhões (R$ 529,8 milhões) em embarques no último ano, com leve alta de 1,3% anual. “O setor brasileiro importa mais equipamentos de grande porte e exporta, em maior parte, equipamentos de pequeno porte”, diz Cristina Zanella, gerente de economia e estatística da Abimaq. Não à toa, o setor brasileiro tem um déficit neste setor de US$ 172,2 milhões (R$ 912,6 milhões) na relação com a Ásia. No total, para todos os mercados e grupos exportadores, o superávit comercial do segmento girou em torno de US$ 400 milhões (R$ 2 bilhões).
Os asiáticos começam a ser notados por essa particularidade, a das pequenas máquinas, e estão cada vez mais interessados no potencial desse mercado, por exemplo, em vender para a agricultura familiar. Uma presença deste calibre foi a estatal chinesa YTO, que participou em abril pela primeira vez da Agrishow, a principal feira de tecnologia do país, realizada em Ribeirão Preto (SP), justamente oferecendo máquinas de baixo custo para pequenos e médios produtores.
A empresa está trazendo ao país motores a partir de 24 cavalos de potência, até 240 cavalos, e também planeja vender tratores. “As empresas asiáticas que investem no Brasil têm um potencial muito parecido e concorrem com as grandes indústrias”, diz Zanella, se referindo aos grandes grupos, como John Deere, AGCO e CNH Industrial.
No caso da chamada linha amarela das máquinas (construção civil) para o agronegócio, as asiáticas também estão na corrida por uma fatia do mercado, tanto de produtos importados como daqueles já nacionalizados. “Dez anos atrás, os produtores rurais usavam apenas tratores e máquinas agrícolas. Hoje, veem vantagem em usar máquinas de construção”, afirma Renato Torres, diretor comercial da XCMG. Segundo ele, a XCMG cresce de 5% a 8% ao ano, num setor que, pontua, é mais estável do que seus outros clientes, por exemplo o da construção. “Em termos de expansão, não há muita crise no agronegócio, diferente da construção civil, que não tem investimento quando falta obra. É mais consistente e estável.”
Das 23 fábricas no mundo, a de Pouso Alegre (MG), instalada há duas décadas, produz 10 mil máquinas por ano. Também na Agrishow, a marca lançou três produtos de olho no agro: uma escavadeira, uma mini-escavadeira e um caminhão elétrico. “Assim como a XCMG, a China enxerga o potencial agrícola do país”, diz Torres. “O Brasil é tido como uma grande economia que oscila pouco graças ao agronegócio, mesmo que haja mudanças no cenário político.”