A Zafira Trading, que foi a segunda maior arrematante no leilão de arroz importado para venda à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), afirmou que entrou no certame realizado na véspera visando expandir suas operações nas importações de alimentos.
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A empresa brasileira, que atua em comércio exterior desde 2010, é uma das quatro que arrematou lotes no incomum leilão da Conab, realizado com a intenção de aumentar a oferta do produto básico e evitar impactos no mercado de arroz em função das enchentes no Rio Grande do Sul, o maior produtor do cereal no Brasil.
O gasto apontado pela Conab apenas com a operação de quinta-feira, que deverá garantir a compra de 263,37 mil toneladas de arroz importado, é de R$ 1,3 bilhão, montante que deverá ser dividido entre as arrematantes, conforme a participação de cada uma.
A Zafira arrematou o direito de vender 73,8 mil toneladas, ou 28% do total negociado no leilão.
O maior vencedor do leilão, segundo os dados da Conab, é Wisley A. de Souza, que tem atuação em Macapá no comércio de leite e laticínios.
Souza arrematou o direito de vender para a Conab 147 mil toneladas, ou mais de 50% do total negociado.
Como não atuam no mercado de arroz, os arrematantes vêm sendo questionados pelo setor, notadamente pelo Sindicato das Indústrias de Arroz de Santa Catarina (SindArroz-SC).
Os outros arrematantes, segundo dados da Conab, incluem a ASR Locação de Veículos e Máquinas e a Icefruit Indústria e Comércio de Alimentos, que assim como Souza não responderam imediatamente sobre os planos que envolveram a participação no leilão.
O SindArroz-SC, entidade que se opôs ao leilão de arroz importado, afirmou que o certame “levantou inúmeras suspeitas entre a cadeia produtiva, uma vez que nenhuma das empresas participantes é tradicional do ramo de arroz”.
“Pelo contrário, em sua maioria são registradas como atuantes em áreas extremamente diferentes, como locação de veículos e máquinas, produção de queijo e importação de frutas”, disse o SindArroz.
Pelas regras da Conab, as empresas participantes devem depositar, até a próxima quinta-feira, garantia equivalente a 5% do valor total da operação, para que sua atuação no leilão seja confirmada.
Procurada pela Reuters sobre o assunto, a Conab não fez comentários imediatos.
ZAFIRA QUER CRESCER
A Zafira, que tem matriz em Florianópolis, afirmou em nota que entrou no leilão da Conab “com objetivo de ampliar a sua atuação e sobretudo crescer no segmento de importação de alimentos”, destacando que o seu corpo executivo possui mais de 25 anos de atuação na área.
Rebatendo as críticas, a empresa ressaltou também que conta com “um número expressivo de fornecedores e investidores, que lhe permitiu participar desse leilão em condições competitivas”.
“Estamos trabalhando intensamente para garantir a entrega do produto dentro dos prazos e qualidade solicitados”, disse a empresa.
A Conab deu prazo para os participantes entregarem o produto do leilão até 8 de setembro deste ano, mas dirigentes da estatal acreditam que a entrega poderá ser realizada antes disso, ainda que os arrematantes ainda tenham de importar o arroz.
Apesar da oposição do setor produtivo, que afirma haver oferta suficiente para garantir o abastecimento de arroz ao país, o governo abriu crédito de mais de R$ 7 bilhões para arcar com a compra do cereal importado e posterior equalização de preços nos supermercados, que serão obrigados a vender o produto por R$ 4 o kg.
Para os arrematantes, a Conab pagou cerca de R$ 5 o kg.
A Conab trabalhou inicialmente com a ideia de comprar até 1 milhão de toneladas de arroz para lidar com o que o governo chamou de especulação de preços.
Na véspera, o presidente da Conab, Edegar Pretto, disse a jornalistas que a estatal avaliará o mercado de arroz no Brasil e, se não houver necessidade, “nós não faremos mais compras”. Antes, ele confirmou que Conab realizará, no próximo dia 13, a compra de 36,63 mil toneladas de arroz, em lote residual que não atraiu interesse na quinta-feira.
No acumulado de junho, o preço do arroz em casca posto na indústria do Rio Grande do Sul acumula queda de 1%, segundo dados do Cepea/Irga, após uma alta de mais de 10% em maio, quando o mercado havia sido impactado por temores com a falta do produto devido às enchentes.