A COFCO International, gigante do setor de trading e processamento de produtos agrícolas, projeta um potencial aumento da safra de soja e milho do Brasil em 2024/25, enquanto se prepara para operar no próximo ano um novo terminal de exportação, que será um dos maiores do porto de Santos.
Em entrevista à Reuters, o novo CEO de Grãos e Oleaginosas da COFCO International no Brasil, Luiz Noto, reforçou que na próxima safra a empresa chinesa começará a operar a primeira fase do novo terminal no porto de Santos. Quando a segunda fase estiver concluída, em 2026, a capacidade de exportação da companhia passará para 14 milhões de toneladas, ante os atuais de 4,5 milhões de toneladas.
A COFCO não revelou quanto de capacidade adicional terá já em 2025, dizendo apenas que começa a operar no primeiro semestre. O grosso dos volumes deve ser de soja e milho, mas a companhia também deve trabalhar ali com outros produtos que negocia no país, de onde exporta café, açúcar e algodão.
“A COFCO tem um enorme potencial de crescimento e um plano robusto para se tornar cada vez mais relevante nos mercados em que opera na América Latina, especialmente no Brasil”, afirmou Noto, em uma entrevista por email.
“A empresa continuará a investir no país com foco em sua estratégia de aumentar a capacidade de originação com crescimento sustentável de longo prazo”, acrescentou ele, que foi nomeado em maio para o novo cargo na COFCO, após atuar durante 21 anos na concorrente Archer Daniels Midland, onde ocupava a posição de diretor de óleos e biodiesel.
Noto explicou que, no total, a COFCO está investindo US$ 285 milhões (R$ 1,6 bilhão) em duas fases da construção no porto de Santos, o maior da América Latina. A primeira envolve quase 90% das instalações do chamado STS-11. Na segunda fase, será realizada a demolição do T12A e a conexão dos equipamentos com a fase 1.
“A obra está na sua fase 1, de acordo com o contrato e o edital, e o terminal estará pronto para iniciar as operações em 2025. O novo terminal será um dos maiores do Porto de Santos”, destacou ele.
Segundo Noto, o STS-11 será transformado no principal terminal em Santos e “o único a concentrar as operações de todas as cargas da COFCO International”.
“Anualmente, mais de 200 navios serão carregados; mais de 110.000 caminhões serão descarregados, equivalente a mais de 2.250 km com todos os caminhões em fila (distância entre Laos e Xangai), e mais de 85.000 vagões por ano, somando 1.450 km de vagões em fila (distância entre Paris e Kiev)”, dimensionou o executivo.
Próxima safra
Todo o investimento em infraestrutura se dá enquanto a companhia trabalha para originar maiores volumes do Brasil.
Para a temporada 2024/25 de grãos, disse ele à Reuters, “vemos o potencial das safras de soja e milho (do Brasil) serem maiores do que este ano, com crescimento contínuo de área e melhores rendimentos, já que tanto a soja quanto o milho foram impactados por questões climáticas este ano”.
O Brasil, maior produtor e exportador global de soja, tinha potencial de colher algo próximo de 170 milhões de toneladas da oleaginosa em 2024, mas uma seca severa no Centro-Oeste, especialmente em Mato Grosso, afetou as produtividades, enquanto as chuvas excessivas reduziram o potencial do Rio Grande do Sul –a colheita acabou somando 152,5 milhões de toneladas, segundo dados da associação da indústria, a Abiove.
No caso do milho, a safra terá forte recuo, por conta de menor área plantada e menores produtividades, o que vai interferir nas exportações brasileiras, que foram recordes de mais de 55 milhões de toneladas em 2023, quando o Brasil se posicionou como o maior exportador mundial do cereal.
Apesar da queda na safra de soja, destacou Noto, as exportações da oleaginosa estão fortes até agora em 2024. “Vimos exportações acumuladas mais fortes em comparação com 2023”, ressaltou, sem citar números.
“Quanto às exportações de milho, nossos números mostram um volume de exportação menor para 2024 em comparação com 2023, principalmente devido a uma safra menor e a uma demanda doméstica mais forte para o uso de etanol.”
Questionado sobre a demanda chinesa por soja, Noto avaliou que ela “foi muito pontual este ano, acompanhada de crescimento acumulado em relação ao ano anterior”. Ele não elaborou.
“Esperamos que o próximo ano tenha uma tendência similar, pois o Brasil tem o potencial de ser competitivo em mercados de destino se a produção de safra for normalizada”, disse ele, acrescentando que a COFCO prevê ainda “crescimento saudável da demanda de outros países asiáticos”.
Sustentabilidade
O executivo destacou ainda que a companhia está preparada para atender não só novos regulamentos antidesmatamento da União Europeia, como também eventuais exigências da China, que, “como todos os mercados, está buscando um caminho mais sustentável e adaptando seus requisitos junto com as empresas para apoiar o alcance das metas relacionadas ao clima”.
Neste ano, a COFCO fez entrega de 50 mil toneladas de soja livre de desmatamento e conversão (DCF) do Brasil para a China, utilizando um modelo de balanço de massa, que permite o rastreamento de volume de certa quantidade para venda certificada.
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Em preparação para o EUDR (Regulamento de Desmatamento da União Europeia), “a empresa também planeja obter, processar e enviar soja segregada, onde os volumes certificados são mantidos fisicamente separados desde a origem até o processamento, armazenamento e distribuição”, disse Noto.