O ano de 2024 está sendo marcado por importantes pleitos eleitorais pelo mundo. Assistimos a eleição para o parlamento europeu e presidências do México, da Índia, da Rússia e teremos a dos Estados Unidos. O que temos visto são eleições polarizadas e líderes que mostram uma inclinação ao protecionismo em muitos casos.
No parlamento europeu, apesar do centro manter a maioria do parlamento, houve um aumento da participação da direita, o que pode resultar em uma escalada protecionista para os agricultores europeus e um fortalecimento dos subsídios.
Contudo, isso também pode uma diminuição de preocupações até então latentes do parlamento, como o EUDR (Regulamentação Europeia de desmatamento). A Rússia, grande player no agronegócio mundial, está muito voltada para seus assuntos internos.
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Já no México, outro grande produtor, a candidata do ex-presidente venceu as eleições. Nos últimos anos, o México vem se mostrando um grande e importante parceiro para o agronegócio brasileiro, graças à ação de Lopez Óbrador, que promulgou legislação com a retirada de impostos de importação e a facilitação comercial para algumas commodities.
O intuito do presidente era diminuir a inflação sobre os alimentos em seu país, o que resultou no estreitamento da parceria com nosso país; hoje exportamos algumas proteínas e aumentamos o comércio em outros produtos.
A Índia e a China, apesar de grandes produtores de alimentos, têm o grande desafio de alimentar mais de um bilhão de bocas cada um.
Já na mais antiga democracia do mundo, até o momento, o ex-presidente Donald Trump tem se saído melhor nas pesquisas de intenção de voto. Mas, o que um eventual retorno de Trump pode resultar no comércio global? Um Estados Unidos mais voltado para seus assuntos internos, com mais protecionismo e enfraquecimentos dos órgãos multilaterais (que vale ressaltar já vinha ocorrendo em governos anteriores).
E como fica nosso agronegócio nesse contexto? Brasil tem grandes desafios e oportunidades dentro desse novo rearranjo. Estreitar relações com parceiros antigos e preencher espaços são essenciais sempre.
Estamos surfando em boas relações internacionais, o que tem resultado, junto com o bom trabalho da equipe internacional do Ministério da Agricultura, na abertura de inúmeros mercados para nossos produtos agropecuários.
Mas, para que possamos acessar ainda mais mercados e de forma competitiva, é vital que nosso país se volte para a celebração de grandes acordos comerciais. Precisamos negociar acordos de livre comércio com grandes players globais.
Estamos atrasados dentro desse novo rearranjo global. Os últimos acordos que o Mercosul finalizou foi com Singapura, Egito, Israel e Palestina. Recentemente o Mercosul abriu consultas para analisar um potencial acordo com bloco com Emirados Árabes, mas ainda precisamos pensar mais longe, quem sabe num eventual acordo com a gigante China.
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Enquanto isso, grandes acordos vão sendo concluídos. Acordos entre grandes economias, modernos e amplos, entre eles estão o Acordo Amplo e Progressista de Associação Transpacífico (CPTPP) e a Parceria Regional Econômica Abrangente (RCEP), os quais instituem em seus instrumentos de solução de controvérsias dentro de suas cláusulas, deixando todo o imbróglio da paralisação do órgão de solução de controvérsias da Organização Mundial do Comércio (OMC) obsoleto.
Somos competitivos dentro do agronegócio global e conseguimos contribuir para alimentar o mundo, contudo, para que isso ocorra de maneira mais eficiente precisamos de acesso a mercado, de tarifas competitivas e de requisitos justos e equilibrados. Assim, temos que correr para alcançar nossos concorrentes globais e quem sabe sonhar com o Mercosul entrando em acordos grandes e relevantes como a RCEP e o CPTPP.
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* Claudia Costa é advogada, com LL.M. em direito internacional e produtora rural. Atualmente é coordenadora do Comitê de Relações Internacionais e diretora da Sociedade Rural Brasileira. Possui experiência em comércio internacional e órgãos multilaterais.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.