Em 2023, a Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA relatou a apreensão de mais de US$ 1,5 bilhão (R$ 8,15 bilhões na cotação atual) em itens falsificados. No Brasil, a pirataria, mais o contrabando, causam prejuízos da ordem de R$ 453 bi (US$ 83,4 bi). Produtos falsificados estão entrando nos mercados a uma taxa alarmante, tornando quase impossível distinguir o real do falso.
O Blockchain está desempenhando um papel crucial na autenticação de produtos em diversos setores, desde bens de luxo até a agricultura. À medida que o mundo digital se expande, a necessidade de verificar autenticidade e as fragilidades online nunca foi tão crítica. Seja em bolsas de grife ou itens cotidianos, como os alimentos do dia a dia, os consumidores ficam se perguntando como garantir que suas compras sejam genuínas.
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Blockchain Entra Em Ação Para Combater Fraudes
Para enfrentar a falsificação, as empresas estão adotando a tecnologia blockchain. Ao implementar sistemas de verificação baseados em blockchain, as marcas podem proteger seus produtos e oferecer uma transparência sem precedentes aos consumidores. Uma das principais inovações nesse sentido é o “Passaporte Digital de Produto”.
Entrando em Cena o “Passaporte Digital de Produto”
O Consórcio Aura Blockchain, associação sem fins lucrativos de marcas de luxo que investem em tecnologias para melhorar a experiência do cliente, foi fundado em 2021. Desde então, vem desenvolvendo e promovendo a adoção de “Passaportes Digitais de Produto”, ou DPPs, baseados em blockchain, na indústria de luxo. O DPP da Aura está estabelecendo um novo padrão de confiança do consumidor.
“A Aura cria uma identidade digital para cada produto de luxo, normalmente envolvendo um chip NFC ou um código QR que é embutido ou acompanha o produto”, diz Romain Carrere, CEO do Consórcio Aura Blockchain. A partir dessa identidade digital, a Aura oferece “acesso a informações transparentes do produto, incluindo todo o seu ciclo de vida, informações completas da cadeia de suprimentos, e certificados de autenticação e propriedade do produto.” Carrere destaca que o blockchain não se trata apenas de verificação.
Ele também oferece “narrativas digitais” que ressoam com os consumidores de hoje, voltados para valores. Um exemplo foi a parceria da Aura com a Dior, com o lançamento do tênis B33 de US$ 1.500 (R$ 8.140 na cotação atual), onde os compradores podiam rastrear a jornada do produto desde a produção até a compra.
A Demanda da Geração Z por Autenticidade
A Ernst and Young, uma das principais firmas de contabilidade do mundo, publicou recentemente um estudo revelando uma mudança notável nos valores da Geração Z em comparação com as gerações anteriores. Segundo o relatório, 92% da Geração Z priorizam a autenticidade. A natureza imutável e transparente do blockchain se alinha perfeitamente com esses valores, tornando-o uma ferramenta essencial para marcas que buscam se conectar com consumidores mais jovens.
Blockchain está avançando a indústria agrícola
O blockchain não está apenas transformando os mercados de luxo. Ele também está reformulando a indústria agrícola, proporcionando transparência na cadeia de suprimentos. Por exemplo, o blockchain pode rastrear toda a jornada dos grãos de café, garantindo que os consumidores saibam exatamente de onde vem seu café.
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A Dimitra, uma empresa de tecnologia agrícola, exemplifica isso ao usar blockchain para ajudar agricultores a melhorar suas colheitas e reduzir custos, enquanto oferece transparência aos consumidores. Sua organização “ajuda os agricultores a aumentar a produção, reduzir despesas e mitigar riscos. A Dimitra acredita que todo agricultor de pequena escala, independentemente de sua condição econômica, deve se beneficiar de tecnologia simples, bela e útil.”
Essa aplicação não se limita ao café. Trata-se de remodelar a indústria e elevar a confiança dos consumidores a novos patamares.
Os consumidores podem confiar no processo? O blockchain é mais conhecido como a tecnologia subjacente às criptomoedas. Elas podem ser públicas ou privadas, enfatizando a necessidade de uma verificação cuidadosa dos dados. Essa tecnologia varia amplamente em estrutura, assim como as próprias criptomoedas.
Por exemplo, Bitcoin e Ethereum, as duas maiores blockchains públicas, são fundamentalmente diferentes, embora para o usuário comum possam parecer quase idênticas. Essa distinção ressalta a importância de examinar cada sistema blockchain para entender suas características e aplicações únicas.
Desafios e custos da adoção do blockchain No entanto, implementar a tecnologia blockchain tem um custo elevado. O aumento das despesas de produção e as altas taxas de juros tornam esse processo um grande desafio para empresas que já enfrentam margens apertadas. De acordo com o whitepaper de 2024 da Deloitte e Aura, obstáculos logísticos, complexidades de integração e a necessidade de um forte engajamento com o cliente estão entre os muitos desafios.
Ainda assim, as empresas que adotam o blockchain mais cedo estão melhor posicionadas para liderar em mercados onde transparência e autenticidade são cada vez mais valorizadas. Começar mais cedo pode dar às marcas uma vantagem competitiva crucial.
Os benefícios superam os custos? Apesar dos desafios, o blockchain oferece uma vantagem revolucionária. Ele permite que os consumidores acessem o histórico completo de um produto, desde sua origem até seu estado atual. Essa transparência não só combate a falsificação, como também constrói uma confiança mais profunda com os consumidores.
Como afirma Carrere, “O blockchain pode, inegavelmente, melhorar a relação entre clientes, marcas e seus produtos.” No final, a digitalização de produtos está promovendo uma mudança de paradigma na forma como as indústrias operam, caminhando para um futuro em que a transparência e a responsabilidade estarão na linha de frente da experiência do consumidor.
* Becca Bratcher é colaboradora da Forbes EUA. Escreve sobre a indústria cripto. É uma das autoras de “21 Mulheres no Bitcoin: Uma Introdução à Maior Criptomoeda do Mundo”, que destaca as diversas contribuições das mulheres no espaço do bitcoin.