Os Jogos Olímpicos terminaram e, pelos próximos quatro anos, todos os grandes protagonistas desta edição que terminou no dia 11 de agosto, em Paris, terão tempo para treinar, mas também para se fazer algumas perguntas. A carreira de um esportista tem um prazo relativamente curto. Para muitas lendas, esta foi última edição. E então, a pergunta legítima sobre o que virá depois certamente já passou ou passará pela cabeça de muitos. E o que isso tem a ver com o campo e a produção de alimentos por meio da agricultura regenerativa?
Alguns se tornarão treinadores de equipe esportiva, outros talvez entrem em uma federação nacional, e alguns farão como na história a seguir, encontrando uma nova profissão completamente diferente da esportiva, mas na qual poderão se dedicar com o mesmo foco e mentalidade vencedora.
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Esta é a história do italiano Fabrizio Bartoli, que, após uma carreira como atleta profissional se redescobriu chef, criando um dos restaurantes mais ousados da Toscana, onde a matéria-prima é produzida localmente e, na terra da bisteca, ele oferece um fine dining vegetariano.
A carreira esportiva
Fabrizio Bartoli sempre teve uma paixão inata pelo esporte, desde jovem, quando iniciou sua carreira como uma promessa do tênis. Cedo, ele mostrou um talento que o levou a ingressar no circuito sub-16 e na seleção italiana. Um futuro promissor que foi interrompido bruscamente por um grave acidente.
Apesar disso Bartoli não perdeu seu espírito competitivo e vontade de desafiar a si mesmo. Descobriu uma nova paixão pela montanha, dedicando-se ao alpinismo com a mesma determinação que havia mostrado no tênis, enfrentando os Alpes Dolomitas, os Andes e chegando até os picos do Himalaia. Mas, embora a montanha fosse inspiradora, para um verdadeiro atleta faltava uma parte: o chamado da competição. Por isso, mais uma vez, Bartoli decidiu se testar ainda mais, desafiando seus limites físicos com uma nova disciplina, na verdade, três.
Aos 25 anos, Fabrizio se dedicou completamente ao Xterra Triatlo, uma modalidade que combina natação, mountain bike e corrida cross-country. O Xterra Triatlo é conhecido por ser extremamente desafiador, exigindo dos atletas que se destaquem em três disciplinas diferentes e enfrentem terrenos acidentados e condições ambientais difíceis.
Os eventos Xterra ocorrem frequentemente em locais espetaculares, mas desafiadores, como montanhas, florestas e praias ao redor do mundo, o que adiciona um nível extra de dificuldade à competição. Bartoli foi imediatamente atraído pela complexidade e dureza desse esporte, começando a praticá-lo profissionalmente. Sua dedicação e talento rapidamente o fizeram se destacar no circuito internacional. Ele participou de dois campeonatos mundiais de Xterra Triatlo, nos quais conseguiu se classificar consistentemente entre os 15 melhores atletas do mundo. Esse sucesso não só testemunhou suas habilidades, mas também sua extraordinária capacidade de resiliência e adaptação.
Mas, enquanto viajava pelo mundo, sua mente pensava no futuro. Para isso, paradoxalmente, voltava ao passado, para os seus avós, que na Toscana lhe haviam transmitido a paixão pela cozinha e o ensinaram a cozinhar. Em cada lugar do mundo onde as competições o levavam, das Ilhas Havaí à Malásia, o atleta passava horas conhecendo a comida local, as tradições e as preparações. De volta à Itália, quando pendurou as chuteiras, já sabia exatamente o que queria fazer.
O nascimento da Osteria Ancestrale e da horta do Podere Arduino
Após sua longa e diversificada carreira esportiva, Bartoli sentiu a necessidade de voltar às raízes, à terra e à cozinha. Ele retornou à Toscana, à propriedade da família, e junto com Martina Morelli deu vida ao Podere Arduino, situado entre Castagneto Carducci e Bolgheri, epicentro de um ambicioso projeto de agricultura sustentável e regenerativa, além de ser um laboratório de cozinha inovadora e vegetariana.
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A expressão disso é, obviamente, o restaurante de fine dining Osteria Ancestrale, o carro-chefe do Podere Arduino. No local, Bartoli aplica uma filosofia culinária que valoriza ingredientes cultivados (ou produzidos, como no caso dos queijos) a poucos metros de distância, seguindo os princípios da agricultura orgânica regenerativa.
Entre os grandes desafios de Bartoli está o de cozinhar o máximo possível no fogo, na grelha ou sob as brasas, refinando técnicas ancestrais de preparo. Uma escolha tão radical que o Podere Arduino não tem gás encanado. Os pratos assim preparados estão reunidos em dois menus de degustação chamados “Arche” e “Physis”, nos quais geralmente levam o nome do ingrediente principal, como o “Tomate”, uma deliciosa entrada que brinca com a acidez, ou o surpreendente “Beterraba”.
Criação respeita o bem-estar animal
A propriedade tem oito hectares. Uma das produções mais aguardadas é a das oliveiras. São quatro variedades: Leccino, Moraiolo, Frantoio, Coratina. Elas estão no local há três “gerações”: as “centenárias”, plantadas muito antes de Agostino Arduino Bartoli, avô do ex-atleta, decidir adquirir as terras na década de 1950. As “adultas”, plantadas pelo próprio Agostino, e os “pequeninas”, plantadas pelos atuais donos em 2016.
Nos últimos anos foram plantadas cerca de 500 frutíferas, incluindo antigas variedades nativas de Castagneto-Bibbona. Esta floresta de árvores altas, além de proteger as plantações, é o habitat para polinizadores e insetos antagônicos que atuam no lugar dos pesticidas. contribuindo para o bem-estar de todos os produtos. Os pratos que saem da cozinha têm essa lógica: são feitos com os que estiver disponível.
Os princípios da agricultura orgânica regenerativa
Bartoli diz que sua produção, de animais a hortaliças, tem cinco princípios. Confira quais são eles:
REGENERAÇÃO do solo, promovendo a fertilização com minerais, partes orgânicas naturais e microbiológicas, para reativar os ciclos naturais por meio de uma ação combinada de práticas agrícolas que implicam na redução do processamento e a implementação de técnicas biológicas nutricionais que visam proteger a riqueza biológica do solo.
PRESERVAR e aumentar a biodiversidade dos ecossistemas, criando ambientes hospitaleiros para espécies que contribuem para a vitalidade biológica, como minhocas e polinizadores de árvores e plantas.
A INTEGRAÇÃO da criação extensiva de animais de pasto, que ele considera fundamental para a proliferação e preservação do solo.
REVERTER AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS com uma agricultura de baixo impacto ambiental, que promova processos naturais, como o sequestro de carbono.
AUTOPRODUÇÃO e autonomia energética, com especial atenção à redução de resíduos e à sua reutilização interna.