Produzir menos lixo, conhecer a origem e os processos de fabricação dos produtos que compramos e saber os impactos que eles causam ao longo de toda sua vida útil, da extração da matéria-prima ao descarte final, são algumas das atitudes que fazem parte do consumo consciente. Vivemos em um país que se consome bastante carne, não à toa, a quantidade e a qualidade do nosso rebanho é uma das maiores do mundo. Temos espaço, pasto, clima e uma série de vantagens como poucos países no mundo.
Eu cresci ouvindo que para um bom churrasco a picanha não poderia ficar de fora. Mas, quantos tipos de carne você existem? Um boi pesa aproximadamente 500kg. Um Wagyu chega até os seus 1000kg. E vale um dado interessante: quantas picanhas esse boi entrega? Duas. Sim, duas, que somam aproximadamente 3 a 4kg, a depender da genética e do peso do animal. Imagine se todos os consumidores optarem por comer só picanha? Quantos bois seriam necessários? Mais do que isso: seria sustentável consumir apenas picanha?
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Além das questões culturais – na Argentina, por exemplo, a picanha não é nem de perto a protagonista do churrasco -, o Nelore foi por muitos anos uma raça predominante na pecuária brasileira. Hoje através do melhoramento genético e do cruzamento industrial a qualidade do animal passou a ser superior e consequentemente o aproveitamento e qualidade desses cortes também.
O conceito de qualidade da carne envolve vários aspectos inter-relacionados e dependentes de todas as etapas da cadeia produtiva desde a seleção genética, o nascimento do animal, até o abate, preparo e consumo do produto final. A carne saborosa, suculenta e macia é resultado de uma soma de fatores das características do animal, como a carcaça, processos industriais e de preparo.
Por esta razão, nosso parâmetro qualitativo deve ser baseado principalmente em fatores associados à maneira como a carne é produzida, como manejo, bem-estar animal, nutrição e sustentabilidade. Há ainda de se considerar outros parâmetros importantes tais como preço, oferta e disponibilidade da carne.
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Existem mais de tipos de 40 cortes bovinos e 90% deles são indicados para grelhar. Aquela lenda de “carne de primeira e de segunda” é ultrapassada e não se aplica a uma boa genética, produção criada com manejo correto, nutrição completa, bem-estar animal e sustentabilidade. Alguns dos melhores chefs e restaurantes de São Paulo entenderam isso e substituíram, por exemplo, o tradicional filé mignon por patinho, ou coxão mole para o tradicional filé tártaro. O chef do restaurante Kotori, Tiago Bañares é um exemplo deles.
A renomada chef de cozinha Renata Braune serviu durante um evento um sashimi de coxão duro Wagyu selado e foi aplaudida em pé. O pobre “acém”, que já foi menosprezado, hoje, se transformou, em um glorioso “Denver Steak” disputadíssimo. Na Franca a tradição de consumir miúdos (bochecha,língua) existe há décadas. Atualmente, o brasileiro está aprendendo a consumir esses produtos também.
Ao lidar no dia a dia com novos hábitos, comportamentos e crenças dos seus consumidores as empresas devem começar a desempenhar um novo papel na sociedade: o de educar. Em algum momento, os consumidores irão entender que o que realmente importa agora não é o que importava há 10 anos atrás.
O consumidor consciente sabe que tem um grande poder em suas mãos ao escolher um produto e pode transformar a sua compra em um ato de reconhecimento de boas práticas sustentáveis. Só assim, tomando decisões conscientes em cada uma dessas fases, poderemos comparar e escolher a melhor opção.
* Amália Sechis tem 37 anos e é bacharel em direito pela Fundação Armando Álvares Penteado, empresária e criadora da marca BeefPassion, produtora de carne bovina brasileira que em 2015 a recebeu o certificado internacional da Rainforest Alliance, tornando-se a primeira empresa produtora de carne brasileira a alcançar a certificação de agricultura sustentável.
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