O metano é um potente GEE (gás de efeito estufa) e contribui significativamente para o aquecimento global. Emitido a partir de uma ampla variedade de fontes, sobretudo combustíveis fósseis, mas também por micróbios. Felizmente, as origens do metano estão sendo estudadas. Isso porque existem aditivos alimentares que, por exemplo, mitigam as emissões dessa molécula presente no arroto da vaca. Grandes laticínios estão instalando cada vez mais digestores anaeróbios que aproveitam o estrume – outro emissor de metano – para gerar energia limpa na forma de eletricidade ou gás natural renovável.
Fontes com volumes relativamente grandes de matéria orgânica, tais como resíduos alimentares, também podem ser tratadas de forma benéfica a partir da digestão anaeróbica. Mas há empresas em busca de soluções. A Bioenergy Devco, de Annapolis, EUA, está aproveitando tecnologias europeias para ampliar a utilização de digestores no mercado norte-americano. Recentemente, eles receberam o prêmio Top Project of the Year no programa Environment + Energy Leader Awards, organizado na Geórgia, por causa de um projeto de bioenergia em Maryland.
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As emissões de metano também são um problema nos arrozais tradicionais. Outro exemplo de solução é o uso da irrigação por gotejamento, em vez de inundação, além de programas de crédito de carbono como o que está sendo oferecido pela Netafim, a fabricante de equipamentos israelense.
Mas há muitas outras fontes de emissões de metano que têm sido mais difíceis de estudar porque estão em ambientes que não são tão acessíveis, incluindo aterros sanitários, usinas de compostagem, pequenas operações com animais e vários tipos de vazamentos de gás natural. Uma empresa chamada Windfall Bio, na Califórnia, vem buscando uma solução inovadora para as diversas fontes de metano, baseada em uma categoria interessante de micróbios chamados “comedores de metano”.
O nome técnico dos organismos é metanotrófico e, na verdade, são bastante comuns na natureza. Eles só conseguem obter a energia necessária para sobreviver e crescer a partir do metano ou metanol – eles não usam açúcares ou gorduras, como a maioria dos outros organismos.
Além disso, podem ser reproduzidos em várias formas e condições, como películas, e depois são colocados em correntes de ar contendo gás metano para “comer” as moléculas e “expirar” carbono. Se o metano for proveniente de uma fonte orgânica, como o estrume, então o CO2 é considerado neutro. E se o metano for proveniente de uma fonte fóssil, o impacto é drasticamente reduzido.
É ótimo ter uma alternativa para se livrar do metano, mas a história fica ainda melhor porque, durante esse processo, alguns micróbios também são capazes de “fixar” o nitrogênio presente na corrente de ar e aproveitá-lo como um nutriente essencial – o que se compara à forma como plantas leguminosas se associam a outros tipos de micróbios para obter nitrogênio, um elemento químico valioso como fertilizante.
A Windfall Bio chama esse processo de “waste to value” (algo como desperdício para valorização): o nitrogênio que os micróbios geram e transformam em proteína pode então ser transformado em um fertilizante natural, de liberação controlada, para qualquer cultura agrícola, além de ser adequado a métodos de aplicação de precisão, como a “alimentação com colher” por meio da irrigação por gotejamento.
A produção não exigirá grandes investimentos porque a Windfall descobriu como cultivar os micróbios em escala, numa base de fermentação que hoje em dia já é utilizada para produzir outros microorganismos, desde levedura de panificação até o “heme” (hemoglobina de soja), o ingrediente secreto da Impossible Burgers, empresa da Califórnia que produz substitutos veganos para a carne bovina.
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A diferença é que esses micróbios são alimentados com metanol em vez de açúcares. Eles também desenvolveram um método para estabilizar as bactérias na forma seca, tendo em vista a distribuição aos clientes. Nesse quesito, a economia na produção de MEMs (sistemas microeletromecânicos) estáveis, de célula inteira, é promissora para uma série de usos potenciais.
A empresa anunciou no primeiro semestre deste ano uma rodada de investimentos de US$ 28 milhões (R$ 148,4 milhões), apenas um ano após a rodada inicial em 2023. Há nove grupos de investidores envolvidos no negócio e o fundo é coordenado pela californiana Prelude Ventures.
Sem nenhum esforço promocional, o Windfall já atraiu o interesse de dezenas de negócios em diferentes setores econômicos e lugares. Por exemplo, a rede varejista norte-americana Whole Foods está interessada em utilizar os MEMs para mitigar as emissões de metano relacionadas ao estrume de pequenas operações leiteiras e, assim, rotular seu leite e outros produtos como amigos do clima.
Outros clientes em potencial incluem gigantes como a fabricante de fertilizantes Wilbur Ellis, da Califórnia, a AmazonAMZN, operadores de aterros sanitários, instalações de compostagem e players de petróleo e gás.
Agora, boa parte do desafio da Windfall Bio é como trabalhar em equipe no desenvolvimento de outras aplicações possíveis do seu produto, coordenando o trabalho de 25 funcionários. É para isso, segundo a empresa, que foi realizada a mais recente rodada de investimento.
* Steven Savage é colaborador da Forbes EUA e escreve sobre tecnologias relacionadas à alimentação e agropecuária. É biólogo formado na Stanford, mestre e Ph. D em fitopatologia.
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