A salada está pronta. O que tem a ver o “No Farm, No Food”, uma expressão que se transformou em um movimento dos produtores nos EUA; o Congresso Brasileiro dos Produtores de Algodão, em Fortaleza (CE), que reúne 3 mil pessoas, começou na segunda-feira (3) e termina hoje (5), e o humorista Fausto Carvalho, criador de 36 personagens com duas décadas de carreira, mas que estourou nas redes sociais com o Faria Limer Jorginho e seu bordão “o beach venceu”? Para uma geração disposta a conversar com a sociedade urbana, tem tudo a ver. Porque os espaços nas cidades precisam ser ocupados e vale levar educação, informação, conceitos e crenças por caminhos que incluem até o humor.
“O agro tem uma força muito grande, mas a gente ainda não conseguiu se comunicar com o pessoal que não entende ele”, diz Heitor Goeller, do Grupo Girassol, produtora de sementes que nasceu em Pedra Preta, na região da Serra da Petrovina, em Mato Grosso. “Mesmo tendo alguns movimentos, o agro ainda é muito mal falado, principalmente pelo pessoal da Faria Lima, e por isso mesmo a ideia é mudar a cabeça desse pessoal.” Claro que ele se refere ao público frequentador e não ao mercado financeiro.
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Goellner tem 23 anos, se formou em administração e deve ser preparado para o movimento de sucessão no Grupo Girassol. Há quatro anos, junto com o diretor de marketing, Rodrigo Campos, surgiu a ideia de fazer algo e o projeto ficou na cabeça, amadurecendo. No congresso do algodão, os sócios fizeram um pré-lançamento do No Farm, No Food, que estará na rua até a virada do ano, promete Goellner. “Queremos um movimento forte com esse mote que já gringo e que fala tudo: Sem fazenda, sem comida. Que é o que a gente pensa. O No Farm, No Food é um manifesto.”
Ele começa com a apresentação de uma linha de vestuário com tecidos de algodão e lyocell, que é uma fibra de celulose regenerada. O Brasil é uma referência global na produção da fibra e se tornou na safra 2023/24 no maior exportador global deste ciclo, com 2,7 milhão de toneladas de pluma vendidas. No caso do No Farm, No Food, parte da renda da venda do vestuário que entrar para sustentar o movimento será revertida para o projeto de educação da ABAG-RP (Associação Brasileira do Agronegócio de Ribeirão Preto), o “Agronegócio na Escola”, o mais antigo do setor e que é desenvolvido desde 2001.
Goellner conta que a indicação foi feita pelo professor Marcos Fava Neves, um dos cientistas internacionais que mais estuda o agro global, sendo seu mais recente projeto a criação da Harven Agribusiness School, também em Ribeirão.
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Para Campos, que atua na área de marketing há mais de uma década, as parcerias são uma parte importante do que eles chamam de manifesto. “Elas servem para valorizar o agronegócio nas escolas municipais, curso de comunicação social”, diz ele. “Para essas pessoas entenderem profundamente o que tem por trás do agronegócio.”
Para Goellner, o vestuário é importante por ser um porta-estandarte, mas comunicar é o grande desafio. “Precisamos chamar o pessoal da cidade para desmistificar o campo, porque se a gente fosse isso realmente que falam da gente, a gente teria mesmo que ir para o confronto para mudar a cabeça deles. Mas como a gente não é, na conversa a gente consegue resolver e sem lacração”, diz ele.
Mas o humor já está na agenda. O humorista Fausto Carvalho, que é neto de cafeicultores de Cafelândia, no interior paulista, levou seu personagem “Jorginho” por dois dias ao público do congresso do algodão. O personagem é um deslumbrado que faz sátira aos “faria limers” e que caiu no gosto de um público onde, somente no Instagram, reúne 3 milhões de pessoas, além de quase 1 milhão no TikTok – suas duas principais redes –, sem contar a audiência que traz a programas diversos.
No youtube, por exemplo, sua entrevista ao The Noite, de Danilo Gentili, já rendeu 1,1 milhão de visualizações. “Tenho que crianças e o agro me descobriram”, diz ele. Carvalho conta que por acaso começou com os neloristas da HRO Excellence, do pecuarista Helio Robles de Oliveira, para um projeto com gado de seleção. “Foi indicação de um amigo”, diz Fausto. “O agro vivencia o campo de uma forma diferente, são muitas empresas familiares, com uma geração de sucessores”. O nelorista também é sucessor, como Goellner, de Sylvio Propheta de Oliveira, empresário que entrou na pecuária lá na década de 1970.
Por isso, nos projetos do setor, conta Fausto, estuda cada cadeia de produção da qual vai fazer as sátiras com seu personagem. Por exemplo, com histórias do tipo “da semente ao suéter”, peça de roupa que o personagem Jorginho usa para caricaturar uma “Faria Limer” que, por sinal, público que também o segue nas redes. No caso do leilão da HRO, ele vendeu 33% de sua bezerra “Beach” de dentro do tatersal, com o animal e seu bordão “o beach venceu”.