A crescente crise de saúde mental entre produtores rurais ao redor do mundo reflete fatores complexos e específicos para o setor agrícola. No Brasil, o tema parece ainda ser um tabu, ou não desperta a atenção necessária para um problema latente: como ter saudabilidade em um setor que hoje trabalha de forma frenética e que enfrenta pressões fortes, como ocorre nas atividades urbanas.
Entre os principais motivos da pressão no trabalho rural estão as finanças, as incertezas climáticas, o isolamento social e a escassez de recursos de apoio mental em áreas rurais. Esses desafios, que são observados em diversas partes do mundo, apresentam nuances regionais, mas trazem preocupações semelhantes sobre o bem-estar dos agricultores.
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O contexto local e as políticas públicas têm peso, destacando a necessidade de abordagens multifacetadas que integrem apoio psicológico, recursos comunitários e políticas de suporte específicas para o setor agrícola. Países como EUA, Austrália e Reino Unido têm uma pauta nacional para a saúde mental no campo, mas eles também enfrentam estigmas.
Nos Estados Unidos, questões como o endividamento dos produtores, junto com a volatilidade dos preços das commodities – que não é uma exclusividade – mais o isolamento, contribuem para o estresse psicológico, além do estigma ainda presente que impede os produtores de buscar ajuda. Os altos custos e a falta de disponibilidade de serviços de saúde mental em áreas rurais são fatores adicionais que agravam essa situação. Organizações como a American Farm Bureau busca pela acessibilidade ao tratamento dos produtores, com programas de conscientização e suporte local.
De acordo com a Rural Health Information Hub (Centro de Informações sobre Saúde Rural), que é apoiado pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) dos EUA, a pandemia da Covid-19 acentuou as condições de saúde mental e que nos últimos anos os recursos desenvolvidos pelo Cornell Small Farms Programa tem sido robustecidos para ajudar os produtores e suas comunidades.
Na Austrália, uma pesquisa mostra que muitos agricultores sentem-se desvalorizados pelo público e desamparados em termos de apoio governamental. Além das pressões econômicas, políticas públicas consideradas insuficientes geram frustração e aumentam o impacto na saúde mental.
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O Relatório Nacional de Bem-Estar do Agricultor, encomendado pela Norco – a maior e mais antiga cooperativa de laticínios de propriedade de agricultores da Austrália – em parceria com a Federação Nacional de Agricultores, descobriu que nos últimos anos, quase metade dos agricultores do país (45%) sentiram-se deprimidos, com quase dois terços (64%) sentindo ansiedade. Para um em cada sete (14%), é uma experiência frequente. A cooperativa Norco, vem adotando abordagens comunitárias, formando redes de apoio entre agricultores para promover diálogos abertos e capacitar membros para identificar sinais de estresse entre colegas.
No Reino Unido, as mudanças nas políticas agrícolas após o Brexit, que impactam diretamente o rendimento das propriedades, somam-se às preocupações sobre as condições climáticas adversas e ao isolamento vivido nas áreas rurais.
Uma pesquisa da Farmer and Rural Perceptions of Mental aponta que Quase dois em cada cinco adultos que vivem nas zonas rurais afirmam que os seus familiares (36%) e pessoas da sua comunidade local (38%) atribuem uma quantidade razoável de razões ligadas à ansiedade do negócio para a procura de tratamento ou ajuda para a saúde mental. E mais, a maioria (59%) dos habitantes de áreas rurais afirma que existe pelo menos algum estigma em torno do stress e da doença mental nas comunidades em que atuam.
A procura por ajuda também é uma barreira: a maioria diz sobre o alto custo do tratamento (66%), acessibilidade (56%), disponibilidade (55%), constrangimento (52%) e o estigma (51%) seria uma barreira se procurassem ajuda para um problema de saúde mental.
A pesquisa mostra que, embora existam iniciativas de suporte, como as oferecidas pela National Farmers Union, as barreiras culturais e a centralização dos serviços de saúde dificultam o acesso ao tratamento para os agricultores, especialmente em um contexto onde a saúde mental ainda é um tema sensível.
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