Quando vivemos dentro da nossa bolha, perdemos a perspectiva do que está realmente acontecendo ao redor, no país e no mundo. Para alguém que trabalha no agronegócio, receber o convite da WPP, a maior holding de publicidade do mundo, veio como uma boa oportunidade de sair da minha bolha. Estive recentemente no Stream, um evento da WPP, que é a maior empresa de publicidade global em receita, empregando ao redor 162 mil pessoas em 3.000 escritórios em 110 países. O Stream reúne durante 3 dias, 250 formadores de opinião, pensadores, criativos, líderes de agências e clientes, ao lado de empresas como Google, Amazon, Netflix, Globo, Uber, TikTok, Spotify, Hogarth, Paramount, Mercado Livre, Amazon Ads Meta.
Na abertura, 10 pensadores independentes são convidados para uma apresentação que dará o tom do restante do encontro. Quando a Juliana Gouveia e Paula Puppi me convidaram para estar entre os 10 pensadores, fiquei empolgada com a oportunidade de levar o agronegócio para este público. O agro dividiu o palco e as discussões com Gleydis Saldanha, falando sobre Washington Olivetto; Andrea Bisker, que trouxe a Economia Prateada; Guilherme Freire, abordando filosofia; Vicente Carrari Rodrigues, com música; Regina Augusto, falando de mercado; Eduardo Mitelman, sobre IA; Lais Orrico, sobre liderança, e Dilma Campos, com liderança improvável, além da reconstrução do RS, entre tantos assuntos e pessoas relevantes.
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Compartilhei dados sobre a agropecuária brasileira que muito pouca gente fora do setor tem conhecimento. Como, por exemplo, que o Brasil saiu de importador de alimentos básicos na década de 1970 para um dos maiores exportadores mundiais. Que nossa produção de grãos saltou de 30 milhões de toneladas na década de 1970 para 317 milhões de toneladas em 2024. Um aumento de 950%, produzido em 9% do território nacional. Como o Brasil liderou a produtividade agropecuária entre 187 países, segundo o USDA, a produtividade cresceu 4,2%, enquanto o aumento de área foi de 1,6% nos últimos 30 anos. Demonstrando a eficiência do setor.
No pilar econômico, o PIB da agropecuária acumula evolução de 39% nos últimos dez anos, enquanto o PIB geral subiu 5,5% nesse período. Saindo de 25 bilhões para 160 bilhões de dólares vendidos ao mundo, trazendo renda, dignidade e oportunidades. O IDH nas cidades onde o agro se instala é mais elevado do que nos estados onde elas se localizam, o que reforça a contribuição do setor para a melhoria das condições sociais e econômicas do país.
Na área ambiental, 33% de toda a área preservada no Brasil se encontra dentro de propriedades rurais. Os produtores seguem o Código Florestal que exige preservação de 80% de sua propriedade em áreas de florestas, 35% no Cerrado e 20% nas demais regiões. Em média, o produtor rural brasileiro usa 50% de sua área e preserva os outros 50%. Produtores preservam 219 milhões de hectares, equivalente a R$ 3,1 trilhões, segundo a Embrapa. O Brasil é líder mundial no uso de bioinsumos. O Brasil possui o maior programa de Agropecuária de Baixo Carbono do mundo.
Esses esforços sustentáveis fazem parte de uma nova face do agronegócio, que de acordo com Roberto Rodrigues é a ferramenta para combater os quatro modernos “Cavaleiros do Apocalipse”: Segurança alimentar, Segurança energética, Desigualdade social e Mudanças climáticas. O Brasil é um dos poucos países que têm a possibilidade de aumentar a produção de forma sustentável, sem a expansão de novas áreas.
Compartilhei com o público, que sinto uma desconexão entre o que acontece no campo e o que chega a sociedade, como o cidadão comum não recebe estas informações e que enxergo aí uma oportunidade para as empresas de publicidade e para o país. Percebo que não há a compreensão da realidade do campo e sinto que temos um desafio. Com a COP30 batendo à nossa porta, precisamos de um discurso único para o setor, consequentemente para a nossa economia e para o Brasil. Precisamos cobrar do estado um firme combate ao desmatamento ilegal que mancha o nome do agro e do país.
Ampliar o círculo de contatos para o âmbito maior do que o seu mercado de trabalho pode ser uma grande surpresa. Quando finalizei a minha fala, vieram as palmas, elogios e questionamentos positivos e admirados não a mim, mas ao setor do agro. A informação foi bem recebida por um público interessante e questionador. Nos dois dias que se seguiram, compartilhei a discussão com Ana Moises, do Linkedin, levando uma perspectiva de como as agências e empresas podem usar o agro como ferramenta para melhorar a imagem do Brasil.
Temos em mãos uma significativa oportunidade de reposicionar o agronegócio como um exemplo de sustentabilidade, mostrando para o mundo a realidade dentro das porteiras, das práticas modernas, ao compromisso com o meio ambiente, atualizando desta maneira o discurso sobre a produção agrícola no Brasil e destacando nosso país como um líder mundial em agropecuária sustentável.
*Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio.
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