A expressão “Síndrome do Cachorro Vira-Lata”, cunhada por Nelson Rodrigues na década de 1950, retrata um sentimento de inferioridade em relação a outros países, especialmente os desenvolvidos. Essa mentalidade, que enxerga o Brasil como incapaz de competir globalmente, também influencia os produtores rurais.
O viés do produto estrangeiro
Agricultores brasileiros frequentemente escolhem insumos e maquinários estrangeiros, mesmo quando existem alternativas nacionais de qualidade igual ou superior. Essa preferência deriva de um viés inconsciente que associa produtos importados a maior qualidade, reforçado por campanhas publicitárias de multinacionais com alto poder de investimento.
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Segundo a ABIMAQ, 40% das máquinas agrícolas utilizadas no Brasil são importadas, apesar de alternativas nacionais igualmente eficientes e adaptadas às condições locais.
O impacto da carga tributária
A indústria nacional enfrenta um dos maiores níveis de tributação do mundo. Tributos como o IPI podem aumentar em até 15% o custo final de produtos nacionais, dificultando sua competitividade frente a equipamentos estrangeiros. Enquanto isso, concorrentes como os Estados Unidos oferecem incentivos fiscais e subsídios, agravando o desequilíbrio.
Potencial inexplorado do Brasil no agro
Com 20% da biodiversidade global, o Brasil possui uma vantagem única para desenvolver tecnologias agrícolas adaptadas às condições tropicais. Isso se reflete no mercado de bioinsumos, que cresce a uma taxa anual de 30%, liderado por empresas nacionais que aliam alta produtividade e sustentabilidade.
Economia circular no agro brasileiro
Para consolidar o Brasil como potência agrícola global, é necessário fomentar uma economia circular, com produtores adquirindo insumos nacionais, fortalecendo a cadeia produtiva local e reduzindo a dependência de mercados externos. Um estudo da CNI aponta que cada R$ 1 investido em produtos nacionais gera R$ 3,20 na economia, comparado a apenas R$ 1,80 em produtos importados.
Superando a síndrome
Superar a “Síndrome do Cachorro Vira-Lata” é essencial para o Brasil liderar o fornecimento global de alimentos. Valorizar o que é produzido no país não só fortalece a economia, mas também consolida o Brasil como referência em sustentabilidade e inovação. Exemplos não faltam: empresas de bioinsumos já exportam para mais de 30 países, provando que qualidade e competitividade brasileiras podem triunfar no mercado global.
*Talita Cury é sucessora e faz parte do conselho de administração do Grupo Santa Clara. Também está à frente das relações institucionais da empresa, da estruturação da pasta ESG, do planejamento estratégico, da sucessão familiar dos negócios, além de atuar nos comitês de riscos e de crédito&cobrança. Há 20 anos no setor, ela é advogada com especialização em Direito do Agronegócio e MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas.
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