Há um ditado que prega: “Aqueles que não aprendem com a história estão condenados a repeti-la.” Será esse o caso com o vírus H5N1 da gripe aviária, que tem se espalhado entre aves há anos, atingiu bovinos leiteiros no início deste ano e, mais recentemente, no último mês, foi detectado em suínos, nos EUA? Está se repetindo com a gripe aviária os mesmos erros cometidos antes e durante a pandemia de Covid19? Ou a situação atual do H5N1 é suficientemente diferente do coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2) para não precisarmos nos preocupar com a palavra que começa com “p”?
Até outubro, a influenza aviária, nas Américas, atingiu 19 países que notificaram surtos em aves domésticas e silvestres, totalizando 2.987, dos quais 2.238 surtos ocorreram em aves domésticas e 749 em aves silvestres. Além disso, oito países e territórios relataram 694 surtos de H5N1 em mamíferos. No caso do Brasil, não houve nenhuma notificação por parte de granjas comerciais. Os casos confirmados ocorreram principalmente em aves silvestres, especialmente migratórias.
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Hoje, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) atualmente classificam o risco à saúde pública da gripe aviária como baixo. No entanto, não há garantia de que isso permanecerá assim para sempre. Eis o que sabemos no momento sobre o H5N1:
O H5N1 Tem Sido um Problema Entre Aves por Anos
Ele é chamado de gripe aviária porque é um tipo de vírus influenza inicialmente identificado como se espalhando entre aves. Embora sua disseminação no mundo venha se intensificando nos últimos anos, o vírus H5N1 existe há muito mais tempo. Por exemplo, um surto em Hong Kong em 1997 envolveu 18 infecções de animal para humano e seis mortes. Houve também duas mortes humanas logo após o H5N1 surgir entre aves silvestres na Ásia, em 2003.
Nos últimos anos, o vírus recebeu mais atenção por causa do impacto na indústria avícola dos EUA, infectando ao menos 45 rebanhos comerciais e 30 rebanhos domésticos, totalizando mais de 22,37 milhões de aves desde abril de 2024, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
Este H5N1 foi classificado como altamente patogênico em função de sua capacidade em causar doenças e mortes entre aves. Tais mortes, junto com o abate de rebanhos para conter a disseminação do vírus, já afetaram os humanos ao causar escassez e aumentar os preços de aves e ovos no país
O H5N1 Tem Se Espalhado Entre Bovinos Desde Março
No início deste ano, ocorreu um momento de surpresa quando bovinos leiteiros começaram a ser infectados nos EUA. Isso demonstrou a capacidade do vírus de sofrer mutações ao ponto de infectar outros animais. Desde que foi detectado entre bovinos, em março deste ano, o vírus se espalhou para ao menos 440 rebanhos leiteiros em 15 estados norte-americanos, segundo o USDA.
O vírus foi encontrado no leite de vaca, embora não haja motivo para pânico se o leite for devidamente pasteurizado ou a carne bovina adequadamente preparada. No entanto, isso não torna a disseminação do vírus entre vacas algo insignificante.
Gripe Aviária em Suínos Levanta Preocupações de Ressortimento
Em 30 de outubro de 2024, o USDA relatou pela primeira vez um caso de H5N1 em um suíno nos EUA, em uma fazenda doméstica no Oregon. Isso aumentou as preocupações porque os vírus da influenza tendem a trocar material genético mais rapidamente em suínos do que em aves, um processo chamado de ressortimento genético, um tipo de recombinação não clássica. Isso pode resultar em combinações genéticas completamente novas, potencialmente tornando os vírus mais perigosos, inclusive para humanos. Essa alta taxa de ressortimento entre suínos foi o que levou à pandemia de H1N1 em 2009.
Ressortimento Entre Suínos e a Pandemia de H1N1 em 2009
O evento de ressortimento entre suínos em 2009 resultou em um vírus H1N1 capaz de infectar humanos, causando 60,8 milhões de casos, 274.304 hospitalizações e 12.469 mortes nos EUA, além de 284.400 mortes globalmente. Embora menos devastadora que a Covid19, que causou mais de 7 milhões de mortes no mundo, a pandemia de H1N1 foi um lembrete dos perigos das mutações virais.
O risco com o H5N1 é que, como um vírus novo, ele pode provocar uma resposta imunológica desorganizada em humanos, com consequências imprevisíveis. Portanto, há uma preocupação real de que possa ocorrer uma pandemia.
Repetindo Erros da Covid-19 com o H5N1
Até agora, houve 55 casos confirmados de H5N1 em humanos nos EUA, a maioria relacionada a contato direto com animais infectados. Não há evidências claras de transmissão entre humanos. No entanto, mutações no vírus podem alterar isso, aumentando o risco de transmissão direta entre humanos.
Embora ainda seja incerto o que acontecerá com o H5N1, uma coisa é clara: os EUA não estão fazendo o suficiente para prevenir ou se preparar para outra possível pandemia. A falta de sistemas abrangentes de vigilância e relatórios de vírus respiratórios e as deficiências no sistema de saúde pública continuam a ser problemas graves. Além disso, o investimento em pesquisas sobre o H5N1 ainda é insuficiente, e a desinformação científica continua a dificultar os esforços de combate a doenças.
Além disso, o vírus tem recebido pouca atenção de líderes políticos. Falar sobre preparação não significa causar pânico, mas sim investir em estratégias preventivas antes que uma crise ocorra. Embora seja cedo para declarar uma pandemia, é urgente colocar atenção na preparação e em medidas preventivas para evitar que o H5N1 se torne um problema maior no futuro.
*Bruce Y. Lee é colaborador da Forbes EUA. Escreve sobre saúde, medicina, bem-estar e ciência.
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