As exportações de café do Brasil em 2024 superaram 50 milhões de sacas de 60 kg pela primeira vez na história, com impulso dos embarques de grãos verdes arábicas e canéforas, enquanto o maior exportador global ocupou mercados de produtores asiáticos, como Vietnã e Indonésia, de acordo com dados do Cecafé divulgados na quarta-feira (15).
Em dezembro, o país exportou 3,81 milhões de sacas de 60 kg de todos os tipos do produto, queda de 8,1% em relação ao mesmo mês de 2023. Mas no ano passado completo a exportação fechou em 50,443 milhões de sacas, alta de 28,5% ante 2023, com embarques para 116 países, segundo o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil).
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Em meio a preços historicamente elevados, exportadores e produtores do Brasil aproveitaram para ampliar seus embarques, apagando com folga o recorde anterior de 2020, de 44,7 milhões de sacas de café.
“Esse resultado foi puxado pelos embarques recordes das variedades arábica, que cresceram 20% ante 2023, e, principalmente, canéfora, que avançaram 98% no comparativo anual”, afirmou o presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, em nota.
No acumulado dos 12 meses de 2024, a exportação de café arábica somou 36,95 milhões de sacas, o que equivale a 73,2% do total embarcado pelo Brasil, com alta de 19,8% na comparação com 2023.
Os embarques de cafés canéforas (conilon e robusta) aumentaram 97,9% ante 2023, para um recorde de 9,356 milhões de sacas.
O café solúvel teve seu segundo melhor desempenho anual na história com exportações de 4,09 milhões de sacas (equivalentes), avanço anual de 13%, e o produto torrado e moído registrou embarques de 48.687 sacas.
A receita alcançou o melhor desempenho na história do levantamento do Cecafé, puxada pelos recordes apurados em café verde e solúvel, além dos preços mais altos.
Os embarques de janeiro a dezembro do ano passado renderam US$ 12,515 bilhões ao Brasil, avançando 55,4% sobre 2023 e 35,4% em relação ao recorde anterior, registrado em 2022.
Segundo Ferreira, a performance histórica em volume e receita das exportações brasileiras reflete o cenário do mercado global, que vive momento de oferta restrita e a consequente elevação dos preços da commodity.
“Grandes produtores como Vietnã e Indonésia tiveram safras menores devido a adversidades climáticas. O Brasil, mesmo com uma colheita aquém do seu potencial, produziu o suficiente para honrar seus compromissos e, ainda, preencher a lacuna deixada pela falta de robusta dos concorrentes asiáticos”, afirmou ele.
O presidente do Cecafé notou que, com o consumo mundial se mantendo aquecido, “foi natural o aumento dos preços e o crescimento dos ingressos com nossos embarques”.
Exportação para produtores e China
Com uma oferta menor em países como Vietnã e Indonésia — que colaborou para preços recordes no mercado internacional — e um consumo global firme, o Brasil elevou exportações de café verde até mesmo para nações produtoras, que realizam depois a industrialização do produto.
Os embarques para o México, por exemplo, aumentaram 140,6% em 2024 em relação a 2023, para 1,3 milhão de sacas, segundo dados do Cecafé.
Para o Vietnã, o maior produtor de café canéfora, que sofreu com uma oferta menor no ano passado, o Brasil ampliou as exportações em 364,8%, para 681,6 mil sacas.
Para a Índia, as exportações brasileiras aumentaram quase 1.600%, para cerca de 284,2 mil sacas, enquanto os embarques para a Indonésia somaram 203,4 mil sacas, alta de 7,2%.
As exportações para a Colômbia, outro importante produtor, registraram queda de cerca de 63%, para 407 mil sacas, com uma recuperação na safra do país sul-americano.
Mas foram os tradicionais compradores, como Europa e Estados Unidos, que elevaram fortemente as importações do café brasileiro, sustentando o crescimento dos embarques.
As exportações aos EUA aumentaram 34% em 2024, para 8,13 milhões de sacas, enquanto os embarques para a Alemanha aumentaram mais de 50%, para 7,6 milhões de sacas, entre outros países europeus, que registraram forte crescimento.
Mesmo a Rússia, em guerra com a Ucrânia, dobrou suas importações do produto brasileiro em 2024. Os embarques aos russos somaram 1,37 milhão de sacas.
A surpresa negativa foi a China, que cresceu fortemente as exportações em 2023, mas reduziu o ritmo em 2024. As exportações ao gigante asiático caíram de 1,5 milhão de sacas para 989 mil sacas no ano passado, segundo dados do Cecafé.
“Mas a expectativa a médio e longo prazo é extremamente positiva, a China alterna momentos de incremento de volume e eventualmente uma redução no ritmo”, disse Ferreira, explicando a redução em 2024, mas acreditando em maiores embarques ao país asiático em 2025.
Ele crê ainda que o Brasil não baterá, em 2025, os recordes de 2024, diante da expectativa de uma safra menor de arábica.