Tarsila do Amaral não apenas pintou o Brasil. Ela o revelou ao mundo em cores vibrantes e formas que traduzem a alma de um país plural e potente. Nesta sexta (17), completa 52 anos de sua morte. Mas reverenciar Tarsila é falar de vida. Ícone do modernismo, suas obras são um tributo à nossa cultura, história e, de maneira surpreendente, à agricultura e à vida rural que moldam nosso chão e nossa gente.
Filha de fazendeiros, Tarsila, nascida em 1886, cresceu cercada por plantações e horizontes que pareciam infinitos no interior paulista. Foi nesse Brasil rural — um país em transformação, impulsionado pela economia cafeeira e pela expansão ferroviária — que ela encontrou sua primeira inspiração. Em suas obras, transformou essas paisagens em símbolos da identidade brasileira, unindo arte e terra com sensibilidade única.
Obras que Retratam a Vida no Campo
Algumas das telas mais marcantes de Tarsila homenageiam o Brasil rural. Cachoeira (1923) exala a grandiosidade da natureza, enquanto A Caipirinha (1923) nos transporta à simplicidade da infância, com bonecas feitas de mato — um retrato doce de quem vive do campo. Em Fazenda (1924) e Café (1925), ela imortalizou o trabalho e a riqueza da terra brasileira, exaltando quem a cultiva.
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E o que dizer de Abaporu (1928), sua obra mais icônica? Com pés robustos fincados no solo, é impossível não enxergar ali, entre outras interpretações, a força do agricultor brasileiro — enraizado, resiliente e olhando para o horizonte com a confiança de quem carrega um futuro fértil.
Essa obra foi comprada em 1995 pelo colecionador argentino Eduardo Costantini por US$ 2,5 milhões em um leilão da Christie’s. Na época, foi um recorde nacional. Hoje, é avaliada em mais de US$ 45 milhões, sendo a pintura brasileira mais valorizada no mundo. Em 2020, A Caipirinha quebrou recordes ao ser arrematada por US$ 10,85 milhões, tornando-se a obra de arte mais cara já vendida no Brasil.
Tarsila, o Agro e o Protagonismo Brasileiro
O agronegócio brasileiro, assim como a obra de Tarsila, é feito de raízes e visão. Enquanto muitos artistas de sua época olhavam para a Europa em busca de inspiração, Tarsila olhou para dentro, para o coração do Brasil, encontrando ali um universo de potência criativa e produtiva. Sua brasilidade transbordava não apenas em suas telas, mas também em seus gestos. Uma curiosidade que nos orgulha é que, em suas viagens internacionais, Tarsila costumava levar cachaça como presente aos amigos — um brinde genuíno às nossas tradições e à riqueza cultural de sua terra natal.
Hoje, o Brasil ocupa posição de destaque no agronegócio mundial. Exportamos não apenas alimentos, mas histórias, trabalho duro e inovação. A conexão com Tarsila é uma lembrança poderosa: nossa agricultura é mais do que números, é identidade.
Assim como o Movimento Antropofágico, liderado por Tarsila e Oswald de Andrade, nos ensinou a “devorar” influências externas e recriá-las de forma genuína, o agro pode transformar críticas e desafios em oportunidades. Restrições internacionais, como os casos recentes envolvendo Carrefour e Danone, são convites à inovação, sustentabilidade e à criação de uma narrativa única — como a que Tarsila construiu em suas mais de 2.300 obras.
As Mulheres e os Jovens no Campo
Para as mulheres e jovens que hoje assumem papéis crescentes no agronegócio, conhecer Tarsila é redescobrir suas próprias raízes. Suas telas mostram que o campo não é apenas trabalho, mas também poesia. Não é só produção, é transformação.
Tarsila foi uma mulher à frente de seu tempo, que tropeçou, caiu e se levantou inúmeras vezes, mas manteve a serenidade diante dos desafios. Seu legado inspira agricultoras modernas, que equilibram tradição e tecnologia, liderança e sensibilidade, desafios e recomeços. Assim como ela desafiou padrões na arte, essas mulheres reimaginam o papel do campo na construção de um Brasil cada vez mais pujante.
Uma Reflexão Contemporânea
Em 17 de janeiro de 1973, o Brasil perdeu Tarsila, e, 52 anos depois, seu legado permanece. Ela foi a primeira a enxergar o potencial profundo do Brasil, assim como o agro se tornou, com o tempo, uma das maiores potências do mundo. E se olhássemos para a agricultura como ela olhava para o Brasil?
Com olhos que enxergam além do óbvio, que veem beleza na simplicidade e potencial nas adversidades. Assim como Tarsila valorizou e transformou a cultura brasileira em arte, nós também precisamos valorizar e transformar o agro — enfrentando desafios como sustentabilidade, rastreabilidade, desmatamento e imagem — com a precisão e paixão que ela dedicava a sua arte.
Celebrar Tarsila, Celebrar o Brasil, Celebrar o Agro
Celebrar Tarsila do Amaral é celebrar um Brasil que conecta o campo à cultura, o chão que nos sustenta ao espírito que nos move. E você? Já parou para admirar a conexão entre arte e agricultura? Descubra Tarsila, descubra o Brasil — promova nossa brasilidade, nossas cores, raízes e potência com o vigor de quem transforma desafios em oportunidades.
*Simone Silotti é produtora rural, palestrante e consultora no agro. Founder da Vale Louros e do #FaçaumBemIncrível. Tem MBA em gestão de projetos pela USP/Esalq. Já recebeu vários prêmios, entre eles o Internacional Líder da Ruralidade do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).