Mecanismos de crédito de carbono e pagamento por serviços ecossistêmicos despontam como alternativas viáveis para reduzir as emissões de gases de efeito estufa associadas à produção de commodities no Mato Grosso. Um estudo recente aponta que a combinação de diferentes instrumentos financeiros pode viabilizar a conservação e o restauro de áreas agrícolas no estado, ampliando a sustentabilidade da atividade agropecuária.
“Às vezes, conseguimos implementar alguma ação no campo, mas o custo é alto e o mercado não paga o suficiente. Para reduzirmos a dependência de doações e investidores, precisamos fazer com que essas ações se paguem através de seus próprios resultados de redução de emissões”, destaca Fernanda Xavier, coordenadora regional do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) no Mato Grosso.
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O estudo, intitulado “Alavancando instrumentos de carbono para sustentabilidade financeira em uma iniciativa de paisagem de soja”, foi desenvolvido pela Proforest, em parceria com IPAM, Estratégia PCI (Produzir, Conservar e Incluir) e Produzindo Certo. O financiamento foi realizado pelo Land Innovation Fund, por meio do projeto “Paisagens Sustentáveis e Inteligentes para o Clima no Oeste de Mato Grosso”. Os pesquisadores sugerem a adoção de uma combinação de instrumentos financeiros para fomentar paisagens sustentáveis em maior escala.
Dados do MapBiomas, rede da qual o IPAM faz parte, revelam que, desde 1985, o Mato Grosso perdeu 23 milhões de hectares de vegetação nativa — cerca de 32% de toda a cobertura original do estado. No mesmo período, as áreas de pastagens e lavouras cresceram na mesma proporção, alcançando 23 milhões de hectares, um aumento de 130%. Essa transformação no uso do solo tem impactado diretamente a produção agropecuária, com eventos climáticos mais frequentes, como chuvas irregulares, quebras de safra e secas prolongadas.
A iniciativa Paisagens Sustentáveis no Oeste de Mato Grosso busca ampliar a produção agrícola sustentável no estado, conciliando conservação da vegetação nativa e inclusão de pequenos agricultores e comunidades tradicionais. Atualmente, o projeto está alinhado à Estratégia PCI, que tem como objetivo captar recursos para a otimização da produção agrícola em Mato Grosso. As ações ocorrem em seis municípios da região.
O estudo também aponta desafios para a efetivação desses instrumentos financeiros. A maior parte das ferramentas de benefícios por emissões evitadas ainda enfrenta inseguranças jurídicas e falta de institucionalização. Iniciativas como o REDD+ Jurisdicional têm se mostrado eficazes no financiamento de conservação, mas não se aplicam diretamente a atividades de restauro e agricultura regenerativa. Além disso, a variação dos valores de pagamento — entre US$ 10 e US$ 150 — contribui para a instabilidade financeira de alguns projetos, reforçando a necessidade de combinação de múltiplas ferramentas para garantir a viabilidade econômica das iniciativas.
“Uma única ferramenta não pode suprir todas as demandas. Sabemos que a conservação é relativamente barata e o crédito de carbono consegue cobrir esses custos. No entanto, quando falamos de restauro e agricultura regenerativa, o mercado de carbono sozinho não supre a demanda. O custo da implementação e o preço pago pelo carbono, muitas vezes, não se alinham. Por isso, defendemos o uso combinado de ferramentas para equilibrar esse déficit”, explica Pauline Denis, gerente de projetos e coordenadora climática da Proforest.
As atividades da iniciativa incluem conservação e restauro em fazendas de soja, promovendo a geração de créditos de carbono por emissões evitadas, redução e remoção de gases de efeito estufa em áreas preservadas. Dessa forma, busca-se fortalecer um modelo de produção mais resiliente às mudanças climáticas, garantindo ao mesmo tempo a conservação da vegetação nativa e condições favoráveis ao cultivo.