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O Brasil deverá colher, em 2025, mais uma supersafra de grãos, prevista pela Conab em 322,3 milhões de toneladas. Caso esse número venha a se consolidar, essa será a maior safra já registrada no país. Por mais animador que esse dado possa parecer, a preocupação com relação à capacidade estática do Brasil de receber esse volume de produção é iminente. A atual capacidade estática de armazenagem a nível Brasil é estimada em 210,1 milhões de toneladas. Essa capacidade estática, contra o volume previsto da safra de grãos, aponta para uma diferença de 112,2 milhões de toneladas entre o que será colhido e o que poderá ser estocado.
O cenário de déficit de armazenagem vem se agravando anualmente no Brasil. O país continua a registrar safras recordes, puxadas principalmente por ganhos de produtividade, mas que não têm sido acompanhadas por investimentos no setor de armazenagem. Nos últimos 15 anos, de 2010 a 2025, a produção de grãos brasileira cresceu em ritmo acelerado a 5,27% ao ano, enquanto a capacidade estática de armazenagem cresceu em média 2,80% ao ano. Isso resultou em um desbalanceamento significativo entre a capacidade estática de armazenagem e a produção de grãos, gerando um déficit de capacidade de armazenamento estático a nível Brasil.
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Esse cenário tende a ser agravado frente às projeções do Mapa para produção de grãos no Brasil para os próximos dez anos. A produção de grãos deverá atingir 379 milhões de toneladas na safra 2033/2034, valor que corresponde a um acréscimo de 27% sobre a safra 2023/24. Caso esse aumento de produção não venha acompanhado do investimento necessário para a adequação da capacidade estática de armazenagem no país, a tendência será da perda de competitividade do agronegócio brasileiro contra seus competidores internacionais.
Na ausência de capacidade de armazéns suficientes para atender à produção, o setor é impactado tanto dentro quanto fora da porteira. A falta de estrutura de armazenagem para o recebimento e processamento da produção pode gerar atrasos na colheita e perdas no campo, comercialização em uma época desfavorável, aumento do valor do frete, congestionamento nos portos de exportação, e a possibilidade de processamento inadequado devido ao alto volume e concentração de grãos por período de safra.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), é necessária uma capacidade estática de armazenagem 20% superior ao volume produzido por determinada região ou país para que se tenha uma capacidade de armazenagem adequada, evitando déficit em caso de superprodução. Isso significa que o Brasil deveria ter atualmente uma capacidade estática instalada de 387 milhões de toneladas para atender aos padrões da FAO, evidenciando um déficit de 176,9 milhões de toneladas.
Uma forma de equalizar o déficit de armazenagem no Brasil é através do aumento da participação da capacidade estática de armazenagem on-farm. Em 2024, a participação da armazenagem on-farm no Brasil foi de 16,83% com relação a capacidade estática total. Esse modelo de armazenagem, muito comum nos principais países competidores do agronegócio mundial, ainda é pouco utilizado no Brasil.
Nos Estados Unidos a participação de armazéns on-farm é de 65%, na Europa 50%, e na Argentina, 40%. O elevado investimento inicial na estrutura e instalações e recursos escassos para linhas de crédito que promovem a construção de armazéns dentro das propriedades rurais são as principais limitações na implementação do armazenamento on-farm no Brasil. Isso aponta para a necessidade de crédito subsidiado, menos burocrático e em maior volume, através de políticas públicas que visam mitigar o déficit de armazenagem no país.
O estudo de viabilidade econômica, vencedor do XX Prêmio Abralog de Logística, elaborado por mim, aponta para a partir de quais níveis de produção, tamanho de área e distância de armazéns comerciais o projeto de armazenagem on-farm se torna viável. Entre os principais resultados do estudo está que áreas mais produtivas oferecem maiores retornos com relação à armazenagem on-farm.
Isso sugere o direcionamento de crédito para construção de armazenagem on-farm para localidades onde há sucessão de culturas, como o cultivo de soja e milho segunda safra dentro da mesma área. Outra solução é o direcionamento de recursos para linhas de financiamento voltadas para construções de condomínios de armazéns. Armazéns construídos nessa modalidade atendem áreas maiores, com maior giro de produto, garantindo a viabilidade do projeto.
*Luiza Fatorelli é graduada em International Business, Finance and Economics pela University of Manchester e mestre em Agronegócio pela FGV, Embrapa e USP. Atua há 10 anos à frente das operações da Fazenda SJ Margarida, em Bela Vista (MS).
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