
A sustentabilidade é um tema amplamente discutido nos dias de hoje e, cada vez mais, se torna um pré-requisito essencial para a produção no agronegócio brasileiro. Nosso país possui um imenso potencial produtivo, o que nos coloca em posição de destaque frente aos principais concorrentes internacionais. Porém, o que muitos brasileiros – e a maioria da população mundial desconhecem – é que muito antes de os conceitos de sustentabilidade serem definidos ou popularizados, a produção no Pantanal já era realizada de maneira intrinsecamente sustentável.
O Pantanal, maior planície alagável do mundo, é uma das regiões mais biodiversas do planeta. Sua ocupação humana data de quase 300 anos, com registros documentados que apontam para o início dessa convivência harmoniosa entre homem e natureza. Desde o princípio, a ocupação foi gradual e fortemente incentivada pelos governos da época.
A chegada dos espanhóis com seus rebanhos trouxe um olhar inovador para a região, revelando um potencial produtivo que não era conhecido até então. Com o passar dos anos, os produtores de gado perceberam a aptidão natural do Pantanal para a criação bovina, que foi sendo explorada de forma sustentável.
Com o avanço do conhecimento e a experiência adquirida ao longo do tempo, os pecuaristas pantaneiros rapidamente identificaram que a produção de bezerros era a atividade mais adequada para o ecossistema local. Esse modelo de produção se consolidou como a base da pecuária pantaneira e permanece até os dias de hoje, sempre pautado por práticas que minimizam os impactos ao meio ambiente.
O lema do Pantanal sempre foi produzir com respeito à natureza. Muito antes de o termo sustentabilidade ganhar espaço no vocabulário global, os pantaneiros já praticavam ações sustentáveis em seu cotidiano. As pastagens nativas, que compõem a base da alimentação do gado, continuam sendo utilizadas, preservando o equilíbrio natural da região.
Além disso, as fontes de água naturais são aproveitadas sem causar danos ao ecossistema. Outro ponto fundamental é a baixa densidade de gado por hectare, o que permite a convivência harmoniosa com a rica fauna selvagem pantaneira.
Essa interação entre práticas tradicionais, preservação ambiental e conhecimento empírico resultou em uma carne com identidade única: a carne pantaneira. Este produto carrega em si um “terroir” especial, que reflete as características do Pantanal e é reconhecido pelo Protocolo de Carne Sustentável do Pantanal.
Esse protocolo assegura que a carne produzida na região atenda a critérios rigorosos de sustentabilidade, valorizando o trabalho de gerações de pantaneiros e garantindo a qualidade do produto final.
O Pantanal não é apenas um exemplo de sustentabilidade econômica e ambiental, mas também um símbolo da preservação cultural. A cultura pantaneira é repleta de saberes empíricos, transmitidos de geração em geração.
O modo de vida do pantaneiro, suas tradições, formas de manejo e respeito ao meio ambiente são parte fundamental da manutenção do equilíbrio na região. A conservação desse conhecimento é essencial para garantir a continuidade da produção sustentável e a preservação do bioma pantaneiro.
Infelizmente, o Pantanal enfrenta desafios crescentes, como queimadas, mudanças climáticas e pressões externas que ameaçam sua biodiversidade. Contudo, a resiliência e o compromisso dos pantaneiros com a sustentabilidade continuam sendo um exemplo inspirador para o mundo. Eles nos ensinam que é possível produzir de forma responsável, respeitando os limites da natureza e preservando o legado cultural de uma região.
Se hoje podemos desfrutar de uma carne pantaneira de alta qualidade e contemplar as paisagens exuberantes do Pantanal, é graças ao cuidado e à dedicação de seus habitantes. A preservação do Pantanal não é apenas uma questão ambiental, mas também cultural e econômica. Proteger esse bioma é garantir que futuras gerações possam continuar se encantando com sua beleza e aprendendo com sua história.
Portanto, o Pantanal não apenas ratifica seu papel como exemplo de sustentabilidade, como também nos convida a refletir sobre a importância de harmonizar desenvolvimento e preservação. O futuro da humanidade depende dessa convivência equilibrada com a natureza, e o Pantanal já trilhou esse caminho muito antes de o mundo começar a discutir essa necessidade.
* Tatiana Scaff é pecuarista, proprietária da Agropecuária Scaff e presidente do Instituto Viva Pantanal. Formada em medicina veterinária pela Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (UNIDERP), ela também possui extensão em marketing do agronegócio pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
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