
Enquanto a população dos Estados Unidos tenta digerir as tarifas de 25% contra o México e o Canadá que o presidente Donald Trump anunciou nesta quarta-feira (4), e enquanto assistiam ao seu primeiro Discurso do Estado da União de seu segundo mandato, os analistas de mercado que acompanham a oferta de alimentos no país começavam a fazer contas.
Por exemplo, as importações de tomates frescos ou resfriados em 2024 totalizaram US$ 3,63 bilhões. Os fornecedores passam por países como Canadá, Guatemala e República Dominicana, mas o grande fornecedor aos EUA é o México, com uma fatia de US$ 3,12 bilhões de comércio.
No caso das importações de cenouras, nabos e outras raízes comestíveis foram importados produtos no valor total de US$ 273 milhões, dos quais o México respondeu por US$ 133 milhões e o Canadá US$ 106,47 milhões. Pequenas quantidades foram originadas em outros países, como Guatemala (8,2%), Israel (1,9%) e Coreia do Sul (0,91%).
Confira, a seguir, considerando 2024, o peso de México e Canadá para os produtos hortifrutis importados pelos EUA:
* 99% dos tomates foram do México (86%) e do Canadá (13%).
* 99% da alface foram do México (88%) e do Canadá (11%).
* 88% das cenouras foram do México (49%) e do Canadá (39%).
* 70% dos abacates foram do México.
* 67% dos morangos, mirtilos, framboesas e amoras foram do México (63%) e do Canadá (4%).
* 60,7% de todas as cebolas e alhos foram do México (52%) e do Canadá (8,7%).
* 57,8% de todos os feijões verdes e ervilhas foram do México (56%) e do Canadá (1,8%).
Mostrar as importações de frutas e vegetais faz sentido neste momento porque a inflação, e especificamente o custo dos alimentos, foi amplamente considerado um fator na corrida presidencial de 2024 entre o presidente Trump e a então vice-presidente Kamala Harris. É algo que os consumidores percebem toda vez que pegam uma cesta de compras ou puxam um carrinho nos estacionamento dos supermercados.
Essas tarifas também afetarão exportações e importações em vários pontos de passagem da fronteira, particularmente em Pharr, no Texas, e em Laredo, mas também incluindo Nogales, no Arizona, e a fronteira ao sul de San Diego, na Califórnia.
Já se falou muito, entre analistas de mercado, sobre o impacto de longo alcance das tarifas impostas ao México e ao Canadá, os dois maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos, do ponto de vista das exportações dos EUA para esses países. Qual seria, então, o impacto se amplas tarifas retaliatórias fossem implementadas?
Mas, em vez de focar nas exportações mais valiosas – o que teria mostrado claramente o impacto que as tarifas terão na indústria automotiva –, aqui vai uma análise de todas as categorias individuais para ver até que ponto elas afetariam o comércio de exportação dos EUA e quantos diferentes tipos de negócios seriam impactados em todo o país. O que está claro é que o México ou o Canadá ficaram em primeiro lugar em 72% das categorias de exportação.
Antes disso, é recomendável avaliar quanto uma guerra comercial com o México e o Canadá seria mais perigosa em comparação com a já existente com a China, precisamente por causa da força das exportações dos EUA com seus parceiros do Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA), o tratado de livre comércio que modernizou o antigo acordo, chamado Nafta, que vigorava desde 1994.
Embora as exportações dos EUA para a China tenham crescido rapidamente na última década, a porcentagem das exportações em relação ao comércio total ainda fica atrás da média dos EUA com o mundo, enquanto México e Canadá estão na média ou acima dela.
Em resposta às tarifas de 25% de Trump, que entraram em vigor nesta quarta-feira (4) contra os dois maiores parceiros comerciais do país, o Canadá anunciou que imporá tarifas aos Estados Unidos em retaliação. O México indicou que tomará uma decisão até o final de semana.
Além disso, Trump:
*Impôs tarifas sobre aço e alumínio, essenciais para a indústria automotiva e outros setores;
*Anunciou que navios cargueiros representando empresas chinesas ou fabricados na China teriam que pagar para entrar nos portos marítimos dos EUA;
*Está estudando tarifas “recíprocas” contra os demais países do mundo que, na visão da Casa Branca, não comercializam de forma justa com os Estados Unidos;
*Está considerando tarifas sobre veículos de passageiros globalmente.
Há um movimento de analistas no país já estimando o impacto das tarifas sobre o México e o Canadá. Certamente, o mercado de ações está demonstrando descontentamento. Mas o que é considerado o mais prejudicial é a incerteza o que está ocorrendo no país, com as atuais medidas, e a diminuição da confiança que os aliados mais fortes dos Estados Unidos sempre tiveram e como isso se dará nos próximos anos.
* Ken Roberts é colaborador da Forbes EUA. Escreve sobre comércio e política comercial há cerca de duas décadas com foco nos impactos das decisões em Washington, Pequim, Cidade do México, Ottawa, Tóquio, Berlim, Genebra ou Bruxelas. Acompanho commodities como soja, petróleo e ouro.