
Se você estiver na Europa e com vontade de tomar um café em alguns subúrbios de Dublin, pode recebê-lo em casa por meio de um drone. Em um centro comercial, um funcionário da startup local Manna coloca um copo de café quente de uma cafeteria próxima em um compartimento de carga removível equipado com uma bateria nova, encaixa-o na máquina voadora autônoma e ela decola. Em menos de três minutos, o drone baixa a bebida por um cabo até o seu quintal.
O café é o item número 1 entregue pela Manna, que afirma que a demanda por café pela manhã e à tarde, junto com um projeto inteligente de drone, estão ajudando a manter um ritmo constante de entregas, operando com menos funcionários e drones do que concorrentes com bolsos mais polpudos, como Amazon, Alphabet e a unicórnio Zipline.
Essas empresas gastaram centenas de milhões de dólares tentando fazer as entregas por drones decolarem, mas o ousado fundador da Manna, Bobby Healy, afirma que a sua é a única empresa que obtém lucro em cada entrega. (Amazon, Alphabet e Zipline se recusaram a comentar.)
Todo esse dinheiro não representa uma vantagem, afirma Healy, em um setor emergente onde, segundo ele, os fatores-chave são desenvolver uma aeronave barata e confiável, operá-la com o menor número possível de pessoas e convencer os reguladores de que é seguro voar em bairros residenciais. “Não é necessário um investimento massivo. O que é necessário é uma enorme quantidade de tempo, construção de confiança e horas de voo”, disse ele à Forbes.
Sua empresa levantou apenas US$ 60 milhões, incluindo uma nova rodada de financiamento de US$ 30 milhões (R$ 171 milhões na cotação atual) anunciada na quarta-feira (26/3), liderada pelas firmas Molten Ventures e Tapestry VC, que avaliou a empresa em mais de US$ 150 milhões (R$ 855 milhões). A Forbes estima que a receita da Manna no ano passado foi igualmente modesta: US$ 6 milhões (R$ 34 milhões).
Até agora, a empresa completou 200 mil entregas desde seu lançamento em 2020 — muito menos do que os concorrentes: a Zipline fez 1,4 milhão, principalmente de suprimentos médicos na África, enquanto a Wing realizou 450 mil na Austrália, nos EUA e no Reino Unido, e a Amazon afirma vagamente ter feito “milhares”.
Mas Healy, que anteriormente fundou a empresa de tecnologia para aluguel de carros CarTrawler, afirma que, após anos aperfeiçoando sua aeronave e modelo operacional, a Manna está pronta para um crescimento exponencial, com planos de expandir o serviço nos subúrbios de Dublin este ano para áreas com população total de 1,1 milhão.
Ele afirma que 42% das residências nos bairros de Dublin atendidos já usaram o serviço pelo menos uma vez. E agora, segundo Healy, o crescimento das bases de entrega por drones de três para onze ajudará a Manna a aumentar as entregas para uma taxa anual superior a 1,5 milhão — um ritmo que nenhuma outra empresa de entrega por drones alcançou até o momento.
A Manna também planeja expandir suas operações na Finlândia, onde atualmente realiza 100 entregas por dia na cidade de Espoo, e se expandir para outras partes da Europa, aproveitando um marco regulatório da União Europeia que entrou em vigor em 2023. Healy afirma que a lentidão da Administração Federal de Aviação (FAA) dos EUA para criar suas próprias regras torna muito difícil operar nos Estados Unidos por enquanto, por mais que o país seja o maior mercado potencial para a Manna e seus concorrentes, por causa da riqueza e do nível de consumo dos americanos. A Manna já operou nos subúrbios de Dallas, junto com a Wing e a Amazon, mas a FAA atualmente só aprova testes de entrega por drones caso a caso.
“A ironia das ironias é que a Europa é o único lugar onde se pode operar um negócio de entrega por drones hoje, porque tem uma regulamentação concreta e escalável”, disse Healy. “Qualquer um que esteja nos Estados Unidos agora está, no mínimo, três anos atrás da Manna.”
Sempre que os EUA implementarem regras, Healy diz que a Manna estará pronta para aproveitar, com um sistema de entregas testado em campo. Na região de Dublin, a Manna opera a partir de estacionamentos de centros comerciais, onde duas de suas plataformas de pouso de drones ocupam cerca de cinco vagas. Quando os lojistas locais recebem pedidos de comida, livros ou ferramentas, eles levam os produtos até a área de pouso da Manna, onde um funcionário os carrega em um compartimento removível que também contém a bateria do drone.
A “troca a quente” da bateria em cada entrega permite que cada drone da Manna, desenvolvido internamente, realize oito entregas por hora em uma área com raio de até três milhas (4,8 quilômetros), segundo Healy. De acordo com ele, os drones de concorrentes, com baterias integradas, como os da Wing e Zipline, só conseguem fazer 1,4 entrega por hora por causa do tempo necessário para recarregar.
Um único funcionário da Manna, fazendo as cargas em uma base com oito aeronaves, pode realizar de 25 a 30 entregas por hora, com um tempo de giro de 60 segundos, segundo Healy. E os drones da Manna voam de forma autônoma, com até 20 deles monitorados remotamente por um único funcionário na sede. Com o trabalho representando cerca de 50% dos custos da Manna, o resultado dessa operação enxuta é que a empresa conseguiu reduzir os custos para cerca de US$ 4 por entrega — e Healy acredita que será possível chegar a US$ 1 com maior volume.
Esse tipo de custo pode tornar a entrega por drones mais barata do que o transporte terrestre nos subúrbios, argumenta Healy, onde os entregadores precisam percorrer distâncias maiores com menos itens. A consultoria McKinsey estima que a entrega de um único pacote por carro ou van em um percurso de cinco milhas custa entre US$ 9 e US$ 11.
Robin Riedel, co-diretor do Center For Future Mobility da McKinsey, acredita que a entrega por drones deve se expandir dramaticamente nos próximos anos. Porque ele não acha que a regulação seja uma barreira tão grande nos EUA quanto Healy sugere. “É muito mais sobre como construir um modelo operacional que possa escalar e, depois, realmente colocá-lo em prática”, disse ele.
Riedel afirmou também que um diferencial serão as parcerias comerciais. O Walmart fez parceria com a Wing para testar entregas por drones em áreas próximas a Ft. Worth, no Texas. A Manna está agora mirando em aplicativos de entrega, onde o valor cobrado dos clientes para receber comida por drone é o mesmo do transporte por terra. A empresa anunciou acordos este ano com a Wolt, braço internacional da DoorDash, e com a Just Eat. Healy disse que um acordo com outro grande aplicativo de entrega está quase fechado, o que colocará a empresa nas telas de três dos cinco maiores apps do setor, que juntos somam bilhões de entregas por ano.
Trabalhar com aplicativos de entrega permitirá que a Manna escale mais rapidamente do que firmar parcerias com lojistas um a um, disse Healy, e garante toda a demanda que puder atender. “Agora é um gol de placa para nós.”