
O óleo de soja caminha para ganhar ainda mais participação na composição de matérias-primas utilizadas para a produção de biodiesel no Brasil, com a colheita de uma safra recorde e devido a crescentes exportações de sebo bovino, que acabam limitando a oferta desse outro importante insumo para produtores locais do biocombustível.
A avaliação é da Argus, empresa especializada em preços e serviços de consultoria, que aponta os Estados Unidos como o grande demandante do sebo bovino brasileiro, pela maior valorização dessa matéria-prima naquele país pelo sistema de créditos para biocombustíveis com insumos mais sustentáveis.
Tais exportações estão impulsionando as cotações do resíduo da indústria frigorífica nacional, que normalmente é mais barato do que o óleo de soja. “O sebo bovino está mais caro que o óleo de soja, tanto no mercado interno como para exportação”, afirmou o gerente de Desenvolvimento de Negócios da Argus, Amance Boutin, em entrevista à Reuters.
Ao final da semana passada, o óleo de soja no mercado interno foi cotado a R$ 6,7 reais por tonelada (em São Paulo, com imposto), versus R$ 6,950 reais/tonelada do sebo, na mesma base. Já na exportação, essa gordura bovina foi cotada a 1.080 dólares por tonelada — alta de cerca de 20% ante abril de 2024 –, enquanto o derivado da oleaginosa estava em 1.035 dólares/tonelada, segundo dados da Argus.
O óleo de soja responde por ao menos 75% das matérias-primas do biodiesel, segundo dados mais recentes de fevereiro da agência reguladora ANP, que também inclui volumes do derivado da oleaginosa na categoria “outros materiais graxos”, com parcela de 13%. Já o sebo bovino detém uma fatia de 6%.
Mas a participação do óleo de soja foi menor no passado, enquanto a do sebo foi maior, destacou Boutin.
Em fevereiro de 2024, o óleo de soja respondia por 71,7% da produção de biodiesel, enquanto o sebo bovino representava 7%; um ano antes, em 2023, o primeiro atendia 64% e o segundo, quase 10%.
Exportações de óleo de soja e sebo
Enquanto perde participação no mercado interno, a exportação de sebo bovino do Brasil atingiu quase 45 mil toneladas em março, praticamente o triplo das 16 mil toneladas do mesmo período do ano passado, com grande parte do volume sendo destinado aos Estados Unidos, segundo dados citados pela Argus.
O mercado dos EUA paga um prêmio pela gordura bovina para a produção de biocombustíveis, já que o sistema de créditos dos EUA remunera melhor o produto pela menor pegada de carbono.
O volume exportado pelo Brasil no mês passado foi o segundo maior da história, perdendo apenas para agosto de 2024, que registrou 56 mil toneladas, destacou a Argus.
A exportação de sebo bovino brasileiro, que era de 245 mil toneladas em 2023, passou para 320 mil toneladas em 2024, disse Boutin, com base nos números do governo brasileiro. No primeiro trimestre, somou 78 mil toneladas, ante 74 mil no mesmo período do ano passado.
“No trimestre, tem um aumento pequeno, mas a tendência é aumentar”, afirmou o especialista, ressaltando que a demanda dos EUA pelo resíduo garante um prêmio para o produto.
Para ele, apesar das incertezas sobre a continuidade do apoio do governo dos EUA aos biocombustíveis, na gestão Donald Trump, as importações estão acontecendo, mesmo com tarifas.
Ele disse que, com base na política da gestão anterior, muitas indústrias fizeram investimentos para usar mais produtos como o sebo como matéria-prima, e estão pressionando o governo Trump para manter o sistema.
De outro lado, com o óleo de soja mais competitivo para ganhar fatia na produção de biodiesel do Brasil, a disponibilidade desse derivado da oleaginosa para embarques ao exterior fica um pouco mais reduzida.
O Brasil, segundo exportador global de óleo de soja, atrás da Argentina, tendo a Índia como destino principal, deve exportar 1,4 milhão de toneladas do produto derivado da oleaginosa em 2025, com ligeira alta ante 2024, segundo os últimos dados da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).
Boutin frisou que, com uma safra recorde no Brasil, haverá disponibilidade de soja “muito grande”, o que permite o atendimento da demanda por biodiesel, mantendo exportações do óleo.