
Ao longo dos anos, as discussões sobre o desperdício de alimentos mudaram. No início, a ideia era conscientizar as pessoas de que a perda de alimentos era real e que precisava ser enfrentado. Organizações de todo o sistema alimentar se dedicavam a medir a escala desse problema.
Atualmente, quem está envolvido nessa cadeia provavelmente já sabe que nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de um terço dos alimentos não é consumido. Se o desperdício de alimentos fosse um país, ele seria o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa, ficando atrás apenas da China e dos EUA.
Dana Gunders, especialista no setor e presidente da ReFED, organização dedicada a reduzir o desperdício de alimentos, diz que se criou um status quo em que as discussões sobre o tema precisam ser “parte padrão de qualquer conversa sobre sustentabilidade alimentar.”
Neste momento, o debate deve incluir a capacitação de pessoas para agirem e terem recursos necessários para isso. Hoje, há mais organizações comunitárias e startups concentradas em criar soluções criativas para o desperdício de alimentos do que nunca. Não há mais desculpas para ignorar esse problema.
Empresas de resgate de alimentos, como a Food Recovery Network, presente em campi universitários nos Estados Unidos, a Rescuing Leftover Cuisine, em Nova York, a Oz Harvest, na Austrália, e a mexicana Cheaf, estão recuperando excedentes e destinando-os a pessoas em situação de necessidade.
Em vez de descartar a produção remanescentes de fazendas ou restos de vegetais frescos cortados, a empresa estadunidense Matriark Food os transforma em produtos saudáveis e com baixo teor de sódio, como molho de tomate e caldo de legumes, que são destinados a escolas, hospitais e bancos de alimentos.
O ato de jogar fora os mesmos alimentos — borra de café, talos de ervas, uma salada que esqueceu na geladeira — pode dar espaço ao reaproveitamento deles. O livro “You Can Cook This! Turn the 30 Most Commonly Wasted Foods into 135 Delicious Plant-Based Meals” (Você Pode Cozinhar Isso! Transforme os 30 Alimentos Mais Desperdiçados em 135 Deliciosas Refeições à Base de Plantas) mostra caminhos para transformar “sobras” em refeições.
Aplicativos em diversos países também conectam pessoas a soluções contra o desperdício de alimentos. Na França, o Magic Fridge permite encontrar e compartilhar receitas com os ingredientes que você já tem em casa. Na Índia, o Seva Kitchen usa o engajamento coletivo para distribuir alimentos em tempo real.
Para consumidores, a empresa Mill, nos EUA, desenvolve recicladores de alimentos para uso doméstico. Para produtores, a ColdHubs cria estações frigoríficas por energia solar, disponíveis 24 horas por dia, para aumentar a vida útil dos alimentos e reduzir perdas pós-colheita.
Para líderes e governantes, o Global Food Donation Policy Atlas serve compila ações para reduzir a perda de alimentos e combater a fome.
Apenas conscientizar sobre o desperdício de alimentos não é mais suficiente. É preciso fornecer às pessoas as ferramentas necessárias para combatê-lo. Ao fazer isso, é possível tornar os sistemas alimentares melhores e mitigar efeitos das mudanças do clima, além de tornar o mundo mais nutrido, justo e equitativo.
* Danielle Nierenberg é colaboradora da Forbes EUA, onde escreve sobre questões relacionadas aos sistemas alimentares e agricultura.