O valor e a longevidade de uma empresa estão ligados à sua capacidade de contribuir para o desenvolvimento sustentável. A afirmação é de Guilherme Leal, um dos cofundadores da gigante de cosméticos Natura, durante o painel “Redefinindo o Impacto dos Negócios”, parte da programação do evento Expert XP ESG 2021, realizado pela XP Investimentos ao longo desta semana para debater temáticas de empreendedorismo e liderança associadas à responsabilidade ambiental, social e de governança (resumidos pela sigla em inglês ESG).
“Para cuidar de uma empresa é necessário dar atenção ao todo – caso contrário, não teremos nada. Ao longo dos anos, mudamos nossa maneira de produzir e de nos relacionar com comunidades, fornecedores e colaboradores. O nosso sucesso se deve a esse compromisso histórico”, continuou o executivo, que participou da discussão ao lado de Paul Polman, ex-CEO da Unilever e fundador da Imagine, fundação dedicada a erradicar a pobreza e controlar as mudanças climáticas. Leal lembrou que a Natura, que completa 52 anos em 2021, começou a operar essa transformação logo depois da Conferência Eco-92, no Rio de Janeiro, em 1992, que definiu os deveres das empresas com o planeta. E garante que essa decisão foi essencial para o crescimento da companhia.
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Em uma conversa descontraída, Polman e Leal compartilharam suas experiências e perspectivas em relação às maneiras como as empresas podem promover mudanças positivas para o mundo, em direção a uma economia regenerativa. Polman lembrou dos anos em que esteve à frente da Unilever e dos projetos voltados à saúde e ao desenvolvimento social e sustentável. Para o executivo, todas as empresas têm o dever de fazer a diferença na vida das pessoas. “Não é mais aceitável ou estratégico desconsiderar os interesses de seus stakeholders ou focar neles apenas num contexto de curto prazo. Não é apenas uma questão de sobrevivência, mas também de dever das companhias com os valores humanos”, disse.
O cofundador da Natura também defendeu que a sustentabilidade vai muito além de proteger uma floresta. “Ela consiste em unir a iniciativa privada e o poder público para promover melhorias sistêmicas na educação e na qualidade de vida no país”, disse Leal. Ao concordar, Polman argumentou que as empresas precisam ser protagonistas de mudanças, de modo que seus lucros sejam usados para solucionar problemas globais. E exemplificou, revelando que as marcas da Unilever que abraçarem projetos de impacto social viram seus rendimentos aumentarem.
“Em vez de ganhar dinheiro, o propósito das marcas era conquistar um lugar na sociedade. Ao mesmo tempo em que vendíamos produtos para limpar vasos sanitários, também assumíamos projetos de construção de banheiros para populações carentes. Ao vender sabonetes, adotamos medidas educativas para ensinar as crianças a lavarem as mãos para se proteger de doenças. Assim, melhoramos a conexão das marcas com as pessoas e elas passaram a crescer rapidamente e se tornaram mais lucrativas.”
PERSPECTIVAS PARA A ECONOMIA REGENERATIVA
Guilherme Leal aproveitou a ocasião para ressaltar que, apesar da incessante destruição de patrimônios naturais, os seres humanos ainda podem causar impactos positivos ao planeta, por meio de soluções regenerativas. De acordo com o executivo, a alta produção de alimentos pelo agronegócio, a geração de energias renováveis e os cuidados com a biodiversidade são oportunidades para o Brasil contribuir para a regeneração da vida no planeta.
Polman enfatizou que, se as empresas trabalharem em grupo em prol da economia regenerativa, podem surgir mudanças rápidas e eficazes contra as mudanças climáticas e as desigualdades sociais. “Esses problemas não podem ser resolvidos no mesmo nível que foram criados. É fundamental que trabalhemos juntos para encontrar soluções e isso exige parcerias, não apenas entre as empresas, mas também com a sociedade civil e os governos.”
Para chegar nesse nível, o executivo destacou necessidades como regulamentação das atividades industriais, investimentos na agricultura regenerativa para recuperar a saúde dos solos e assegurar a proteção da biodiversidade e incentivos para mercados pouco poluentes. Segundo ele, as empresas serão bem-sucedidas se enxergarem esses desafios de modo construtivo e oportuno.
Os executivos também discutiram as dificuldades de consolidar o ESG no Brasil e concordaram que o êxito dos empreendedores em ações de sustentabilidade depende da convergência de interesses com a população e o governo. Caso contrário, o Brasil permanecerá obsoleto em comparação com os demais países.
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“Podemos perder a chance de criar uma economia mais verde e justa, capaz de trazer benefícios imediatos. Cerca de US$ 600 milhões serão perdidos, além de milhões de empregos. Se não aproveitarmos essa oportunidade, o país ficará para trás. As cadeias de fornecimento serão interrompidas, uma vez que empresas no mundo todo já não querem apoiar governos e negócios envolvidos com desmatamentos e estão exigindo iniciativas sustentáveis e tecnologias avançadas”, alertou Polman.
Guilherme Leal manifestou otimismo ao apostar na capacidade de liderança das novas gerações de empreendedores brasileiros, que estão engajados no propósito de uma nova economia, cada vez menos dependente do carbono e amparada em recursos renováveis. E ressaltou o dever das empresas e da sociedade de construir condições mais favoráveis ao desenvolvimento sustentável. “As grandes mudanças que o mundo precisa devem partir da cidadania. As pessoas precisam reconhecer suas responsabilidades e cultivar novos pontos de vista. Desse modo, todos serão capazes de redesenhar a realidade.”
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