Aos seis anos de idade, Fábio Alperowitch, cofundador e atual diretor da gestora FAMA Investimentos, criou, na escola, a Sociedade Paulista dos Amigos do Verde. A brincadeira de criança transformava os integrantes do clube – todos amigos de Alperowitch -, em fiscais da natureza autorizados a chamar a atenção de quem pisasse na grama do colégio. Uma atitude pequena, mas que já mostrava a predisposição do executivo em lutar pela preservação do meio ambiente.
Hoje, Alperowitch leva suas práticas sustentáveis para muito além da gestora de investimentos fundada em 1993, de acordo com os pilares ESG (ambiental, social e governança, da sigla em inglês). Para comemorar a chegada do filho Harry, que nasceu em março do ano passado, o gestor passou a compensar as emissões de gases do efeito estufa e deu, de presente à criança, 2 mil créditos de carbono, avaliados em R$ 200 mil. O volume, adquirido da fintech ambiental MOSS, é suficiente para neutralizar as atividades de Harry por duas décadas, com base em atividades diárias, como ir à escola, viajar e comer. “A gente precisa ser consciente e pragmático. Eu descarbonizei a vida dos meus filhos até os 20 anos de idade. Nesse período, eu terei um papel fundamental em educá-los sobre a importância de se ter uma vida mais sustentável”, afirma.
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Luis Adaime, fundador e CEO da MOSS, explica que a compensação de carbono é cada vez mais frequente entre millennials e jovens consumidores, que exigem que as empresas mitiguem os danos ambientais da cadeia de produção. “Não é à toa que vemos o movimento ESG tão forte. Essa tendência vai se fortalecer à medida que os millenials ganharem poder aquisitivo e passarem a ser o grupo demográfico mais relevante globalmente”, diz.
Criada em março de 2020, a MOSS vende tokens de créditos de carbono em blockchain para pessoas físicas que queiram compensar suas emissões de gases poluentes. Em pouco mais de um ano de operação, a fintech já movimentou mais de 1 milhão de toneladas de CO2 e transferiu US$ 10 milhões para projetos de conservação da Floresta Amazônica.
Adaime explica que, geralmente, os millennials estão à frente nessa mudança de comportamento em prol da preservação do meio ambiente. “Eles são um grande vetor nesse processo de transformação, pois estão obrigando os mercados a firmarem um compromisso e a buscarem soluções e novos modelos de negócios mais sustentáveis.” Em 2018, 52% das pessoas entre 18 e 34 anos apostam em fundos sustentáveis e se mostraram mais propensas a se importar com as emissões de carbono do que indivíduos acima dos 65 anos, segundo uma pesquisa realizada pela Schroders, multinacional britânica de gerenciamento de ativos.
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Além de tornar a vida do filho carbono zero até a fase adulta, Alperowitch adotou outras medidas para reduzir suas próprias emissões de poluentes. Sua casa, por exemplo, é abastecida com energia solar. Ele se dedica à reciclagem correta e à reutilização máxima dos produtos que usa e aderiu ao movimento Segunda Sem Carne para reduzir o consumo de alimentos de origem animal.
Assim como Fábio Alperowitch, o automobilista Cacá Bueno, pentacampeão da Stock Car, também está trabalhando para compensar suas pegadas de carbono. De acordo com a MOSS, entre altas velocidades, trocas de marchas e pausas para o abastecimento, os carros de Fórmula 1 liberam cerca de 500 kg de dióxido de carbono por corrida. Em 2019, os modelos da categoria lançaram mais de 255 mil toneladas de CO2 na atmosfera no final da temporada, segundo dados da FIA (Federação Internacional do Automóvel).
Na temporada de 2019/2020, Cacá Bueno participou do Jaguar I-Pace e Trophy, categoria do automobilismo com carros de turismo 100% elétricos, que emitem menos poluentes para a atmosfera e operam a partir de baterias recarregáveis, de energia renovável. Hoje, o atleta reconhece que, embora sejam uma alternativa mais sustentável do que os veículos convencionais, os modelos elétricos não podem ser a única saída para combater os problemas ambientais. “Eles trazem grandes benefícios, mas não podemos deixar tudo para eles. Existem alternativas em soluções de energia, precificação e infraestrutura, entre outras”, argumenta.
Nesse contexto, em parceria com a fintech ambiental, Cacá desenvolveu um projeto para neutralizar todas as emissões de poluentes que gera nas pistas. Conforme o levantamento da MOSS, o atleta correrá 23 eventos em 21 finais de semana ao longo de 2021 pela Stock Car, Endurance Brasil e Porsche Cup Endurance Series. A empresa estima que serão necessários pouco mais de 1.700 créditos de carbonos para a compensação total das atividades do piloto, avaliados em, aproximadamente, R$ 154.700 mil. “Essa é uma oportunidade de mostrar que, independentemente do estilo de vida e da profissão, é possível fazer algo pelo planeta. Fico muito feliz de, como ser humano, estar fazendo a minha parte”, diz o piloto.
O fundador da MOSS reconhece que o Brasil está dando os primeiros passos em direção à sustentabilidade, mas diz que ainda há muito a ser feito. Um relatório de 2020 da Schroders mostrou que o Brasil poderia se tornar a Arábia Saudita do crédito de carbono. Segundo a gestora britânica, o país poderia certificar 1,5 bilhão de toneladas por ano, 300 vezes mais do que o patamar atual. “Com o mercado já devidamente regulado, o governo fica com a faca e o queijo na mão. Bastaria ampliar o marco regulatório”, diz.
Segundo o empreendedor, para convencer as pessoas a fazerem parte deste movimento é preciso mostrar que preservar o meio ambiente será lucrativo para o país. “O nosso potencial neste mercado é gigantesco. A economia brasileira poderia crescer até 7% só com o crédito de carbono. E ainda tem todos os mercados que vão nascer em decorrência da preservação.”
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