Como vice-presidente global de relações institucionais, reputação e sustentabilidade da BRF, Grazielle Parenti, de 51 anos, conquistou mais do que esperava de si mesma. Seu cargo foi criado recentemente, em janeiro de 2021, especificamente para acelerar a agenda ESG da gigante de alimentos. Atualmente uma representante feminina na alta liderança, iniciou sua trajetória cercada de dúvidas em um ambiente majoritariamente masculino. Agora, é o seu momento de ditar metas ambiciosas.
“Queremos triplicar o tamanho da empresa. Com isso, também triplicaremos nosso impacto social”, diz a executiva, revelando o seu primeiro grande projeto no cargo. O plano “Visão 2030”, anunciado no final do ano passado, prevê investimentos de R$ 55 bilhões e receita anual superior a R$ 100 bilhões até 2030. “Aumentar o tamanho da companhia é agir com protagonismo. O Brasil tem uma oportunidade gigantesca com o ESG. Temos como produzir de forma sustentável, então podemos dar um show no ramo alimentício”, destaca.
Hoje, à frente de um grande projeto, Grazielle faz questão de ressaltar a importância de seguir os próprios instintos. Foi só quando decidiu mudar de área, depois de 15 anos de atuação em marketing, que ela teve a oportunidade de escrever um novo capítulo em sua vida profissional. Mas, é claro, tudo aconteceu naturalmente. “Embora eu seja uma pessoa que gosta de planejamentos, também aceito que a vida me leve”, revela, com humor.
Quando seu então chefe no Grupo Votorantim pediu que acompanhasse uma discussão no Congresso Nacional sobre o transporte de cargas, Grazielle viveu um desses momentos em que parece que a vida nos leva pela mão. “Sou gaúcha, mas fui criada em Brasília. Acho que a política sempre foi um ponto de curiosidade para mim”, brinca a executiva. “Eu me encantei pelo trabalho”, lembra. A partir daquele momento, decidiu que aproveitaria seus instintos e investiria no setor governamental e institucional, ainda que fosse algo pouco conhecido no Brasil. “Não era uma área estabelecida por aqui, então eu fui estudar e me especializar nos Estados Unidos e na Europa.”
Poliglota, com fluência em quatro idiomas além do português, a executiva entendeu que ter uma mente diversa e ativa era a melhor estratégia para ser uma boa profissional nesse novo mundo. “Sou uma pessoa ligada em tudo, o que me ajuda no trabalho”, destaca. Após um tempo no exterior, voltou ao Brasil e passou por empresas como a fabricante londrina de bebidas Diageo e o conglomerado norte-americano de alimentos Mondelez. Nessas duas experiências, mergulhou mais a fundo em uma temática que começava a se popularizar nas companhias: a sustentabilidade.
O agora famoso ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa, do inglês) se tornou, então, parte da rotina de Grazielle, fazendo com que ela se aproximasse das associações de classe. Desde aquela época, a executiva participa da ABIA (Associação Brasileira de Indústria de Alimentos) – onde é presidente do conselho -, da Aliança Empresarial de Mulheres do BRICS e do conselho empresarial do G20. Seja pelas novas experiências associativas ou não, Grazielle começou a sentir que precisava atuar em uma empresa essencialmente brasileira. “Nessa área, é importante fazer parte da cultura da companhia. Eu estava sentindo falta de um ecossistema local”, explica.
Como se os seus pensamentos fossem ouvidos, a BRF, multinacional brasileira do ramo alimentício, surgiu em sua vida com uma proposta – que Grazielle aceitou com entusiasmo. Em janeiro de 2019, começou a atuar na área governamental da empresa. Em 2020, ganhou um instituto próprio e, em 2021, finalmente assumiu o cargo de vice-presidente de relações institucionais, reputação e sustentabilidade. “Sou a única mulher do comitê executivo. E a primeira a ser promovida a vice-presidente. Mas, claro, não serei a última”, diz com seu bom humor, inspirando-se no discurso de Kamala Harris, primeira vice-presidente dos Estados Unidos.
“Sempre tive certeza da minha vontade de deixar um legado. Tenho duas filhas e sou uma das poucas mulheres desse setor. Essa questão do espaço feminino é muito importante para mim”, revela. “Quando eu investi na área governamental, era cercada de homens. Já me confundiram com a secretária deles ou esposa. Hoje, a presença feminina cresceu, mas ainda pouco nos altos cargos. Estar sentada em uma cadeira de vice-presidência abre novas possibilidades para os próximos anos.”
Mais do que a representatividade feminina, Grazielle também acredita no impacto de sua visão sobre diversidade e sustentabilidade. “Atualente, a união entre política pública, comunicação e agenda ESG faz muito sentido. A pessoa que trabalha com isso precisa acumular várias competências para que saiba lidar com diferentes clientes e funcionários”, ressalta ela, que valoriza a presença de sua equipe nessa estratégia. “Ninguém é todo poderoso, precisamos delegar funções. Para isso, é essencial um time diverso e desenvolvido.”
O resultado de um trabalho em equipe
A visão da companhia para 2030 é uma estratégia de fôlego, que pretende se realizar por completo apenas daqui uma década e depois de muito investimento em novos mercados e formas de produção. No entanto, nesse meio tempo, enquanto a empresa não triplica seu tamanho e impacto social, o ESG ainda assim precisa se movimentar. Em 2020, por exemplo, a pandemia do novo coronavírus fez com que as necessidades sociais se intensificassem, o que colocou a BRF numa posição de protagonismo para mitigar danos.
“Fizemos doações de alimentos que totalizam 4 milhões de refeições. No total, destinamos R$ 100 milhões para combater os efeitos da pandemia no mundo inteiro”, conta Grazielle, que ressalta a presença da empresa em outros países. “Além do Brasil, ajudamos países como Turquia, Arábia Saudita e Omã.” Mais do que isso, 2020 fez com que a agenda de sustentabilidade fosse acelerada e a empresa passasse a contribuir com o Pacto Global, iniciativa proposta pela ONU para encorajar a adoção de políticas de responsabilidade social corporativa e sustentabilidade.
“Temos mais de 20 compromissos de sustentabilidade. De uso de recursos ambientais a bem-estar animal”, ressalta a executiva, que se orgulha de revelar que as metas estão sendo colocadas em prática. “Estamos trabalhando em um plano estratégico com ações reais, não em uma carta de intenções. Se queremos triplicar o tamanho da empresa, precisamos agir desde já. Construir o avião enquanto voamos”, completa.
“Estar à frente desse setor em um momento como o que estamos vivendo faz com que eu precise me beliscar algumas vezes”, desabafa a executiva, que enxerga com grande responsabilidade o seu papel. “De certa forma, eu sou um modelo para outras pessoas, principalmente mulheres. É meu momento de agir com sensibilidade e saber equilibrar as necessidades do mundo no tsunami ESG que estamos vivendo”, completa. “Inovação não é apenas fazer foguete. Estamos aprendendo isso agora.”
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