A Morgan State University, uma faculdade pública historicamente negra em Baltimore, nos Estados Unidos, sempre enfrentou dificuldades financeiras, mas isso mudou em dezembro de 2020. O telefone tocou no escritório de desenvolvimento da Morgan, era um representante de MacKenzie Scott, atualmente a 19ª pessoa mais rica do mundo com um patrimônio líquido de US$ 59 bilhões. Scott desejava doar US$ 40 milhões para a Universidade e, ao contrário de muitas doações filantrópicas para instituições de ensino superior, o dinheiro de Scott vinha sem amarras: a instituição poderia fazer o que quisesse com o capital.
“Quando desliguei o telefone, tive que me recompor”, disse o presidente da Morgan, David Wilson. “Fiquei muito emocionado. Até chorei.” Wilson diz que planeja adicionar 95% da doação de MacKenzie a outra doação, de US$ 100 milhões, que ajudará a financiar bolsas de estudo, pesquisa acadêmica e novos programas de inovação, incluindo o trabalho em igualdade sanitária e mobilidade intergeracional. “Não queremos gastar o dinheiro imediatamente”, diz ele. “Queremos investir ao longo de décadas.”
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O Morgan State é uma das cerca de 780 organizações a receber parte dos US$ 8,5 bilhões doados por MacKenzie em três rodadas desde julho de 2020. Grupos em todo o país receberam fundos e em uma variedade de áreas: saúde pública, educação, artes, equidade racial, mudanças climáticas e mobilidade econômica. MacKenzie impressionou bastante o mundo da filantropia, mesmo quando evitou os holofotes e não falou com repórteres. Ela não parece ter um escritório ou mesmo um endereço de correspondência para sua filantropia, em vez disso, atua por meio da empresa sem fins lucrativos Bridgespan.
Cada doação vem acompanhada de uma publicação em seu perfil no Medium, que inclui um pequeno ensaio explicando sua visão sobre a filantropia ao lado da lista de grupos que receberam fundos.
A postagem de 15 de junho de Scott trouxe a explicação mais detalhada de sua filosofia filantrópica até o momento: “tentar doar uma fortuna que foi possível por sistemas que precisam de mudança”. Ela gentilmente também repreendeu a mídia por prestar mais atenção à sua riqueza do que às organizações que recebem dinheiro.
O valor total de suas doações em 2020 superou os US$ 5,1 bilhões em doações concedidas pela Fundação Bill e Melinda Gates em 2019, uma das principais organizações filantrópicas do mundo. Mackenzie é signatária do Giving Pledge, o que significa que ela é uma das bilionárias comprometidas a doar metade de sua riqueza durante a vida ou após a morte.
A doação de MacKenzie em julho de 2020 não poderia ter chegado em momento melhor para o Accion Opportunity Fund, um fundo de empréstimos para pequenas empresas na Califórnia com foco em mulheres e negros. Um aporte de US$ 15 milhões por MacKenzie – a maior doação individual nos 27 anos de história da Accion – foi imediatamente alocada em um fundo de ajuda aos atingidos pelo coronavírus. “Um presente como este para uma organização sem fins lucrativos equivale a um bilhão de dólares”, disse a presidente-executiva da Accion, Luz Urrutia, à Forbes.
O fundo de ajuda contra a Covid da Accion provou ser fundamental para um de seus clientes de longa data, o chefe de cozinha Reign Free. Dois empréstimos anteriores da Accion permitiram à Free expandir seu negócio, o The Red Door, de alguns funcionários e uma van em 2011, para dezenas de funcionários e uma cozinha de aproximadamente 464 mil m² antes da pandemia. Mas a Red Door foi duramente atingida pela Covid-19. Os eventos corporativos e o sustento da empresa secaram da noite para o dia. Free foi forçada a demitir funcionários. O negócio estava à beira do precipício.
O apoio veio do fundo da Accion, ajudando Free a impulsionar seu modelo de negócios. Em vez dos tradicionais eventos corporativos presenciais, a The Red Door começou a fornecer comida para conferências virtuais, fazendo entregas nas casas dos participantes.
O país enfrentava a pandemia enquanto ela continuava a criar pratos da marca feitos com ingredientes orgânicos locais, entregando caixas de presente personalizadas e refeições prontas para cada participante da conferência. “Esses são os tipos de histórias que o capital de MacKenzie conseguiu impulsionar”, diz Urrutia.
“Acreditamos que as equipes com experiência na linha de frente dos desafios saberão melhor como colocar o dinheiro em bom uso”, disse MacKenzie em uma das suas publicações no Medium. Em última análise, diz a presidente-executiva da Accion, “a filantropia de MacKenzie dá a impressão de que ‘você e sua equipe sabem como aplicar melhor os dólares'”.
Favianna Rodriguez também trabalha para impulsionar comunidades pretas. Ela teve uma infância difícil, crescendo como filha de imigrantes peruanos na área da baía de São Francisco da década de 1980, em meio ao início da guerra contra as drogas e da era do encarceramento em massa. Seu bairro foi assolado pela poluição e violência das gangues.
A fuga para Favianna daquele ambiente veio por meio da arte, permitindo que ela se expressasse através da pintura de murais e confecção de pôsteres sobre justiça social. Ela achava que havia encontrado a vocação de sua vida, mas faltavam oportunidades. Então ela se inscreveu para uma escola de arte, mas foi rejeitada.
Quando chegou à idade adulta, ela percebeu que a indústria criativa – Hollywood, museus, dança, televisão – eram dirigidas por homens brancos, que detinham todo o poder de financiamento. Ela então plantou as sementes em 2011 do que se tornou o Centro de Poder Cultural, apoiando pessoas pretas que trabalham na interseção de arte e ativismo. Mas o momento que Favianna esperava veio duas semanas atrás, quando MacKenzie doou US$ 11 milhões ao grupo.
“Não é apenas um momento significativo para mim, mas é um momento para instituições de arte em um momento em que fomos devastados pela pandemia”, comenta. Favianna já está colocando os fundos para funcionar: US$ 8 milhões serão “redistribuídos” para apoiar artistas negros da rede.
Os fundos restantes irão para iniciativas como bolsas para artistas, apoio para pessoas pretas e LGBTQIA+ que tenham como objetivo entrar em Hollywood e atuar nas produções.
“Minha esperança é que o estilo de doação de MacKenzie inspire o setor filantrópico a apoiar visões grandes e ousadas”, acrescentou ela. “Não temos muito tempo. Estamos olhando para a crise pandêmica, para a crise econômica, para a crise climática e também para a desigualdade racial. Temos que acelerar. Temos que dar um salto quântico”.
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