A Amaggi, empresa criada pelo gaúcho André Maggi, um dos desbravadores do Centro-Oeste nos anos 1980, e que hoje pertence aos seus cinco filhos, entre eles Blairo Maggi, que por duas vezes foi governador de Mato Grosso e ex-ministro da agricultura, apresentou hoje (16), uma ousada agenda ambiental para zerar as emissões de GEEs (gases de efeito estufa) em todas as suas operações, incluindo os fornecedores indiretos. As diretrizes fazem parte dos novos compromissos e metas ESG (ambiental, social e governança) da empresa.
A Amaggi é hoje uma potência que se aproxima dos R$ 20 bilhões de receita anual com a produção de grãos, fibras e sementes, como soja, milho e algodão; com a originação, processamento e comercialização de grãos e insumos, além de transporte fluvial e rodoviário de grãos, operações portuárias, mais geração e comercialização de energia elétrica renovável. São cerca de 350 mil hectares de terras próprias e 7,7 mil funcionários. A empresa, que entrou no Forbes Agro 100 e que seus controladores estão na lista Forbes dos maiores empresários, está entre as maiores do setor, com operações também fora do país. São 74 unidades, entre fazendas, portos, armazenagem, em 42 municípios de nove estados. Em 2020, a empresa comercializou 13,9 milhões de toneladas de grãos em todo o mundo, incluindo sua produção e de terceiros. “Compromisso não é apenas uma assinatura”, diz Juliana Lopes, diretora de ESG, comunicação e compliance da Amaggi. “É preciso capacidade de entrega e escalabilidade.” A executiva destaca o desafio de lidar com incertezas para se atirar em um futuro longo, mas diz que há uma certeza entre as lideranças de que “correr é fundamental”.
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O novo compromisso “Rumo a Uma Cadeia de Grãos Livre de Desmatamento e Conversão de Vegetação Nativa” reúne desafios relacionados a florestas, clima, ética, governança e direitos humanos. Em relação a desmatamento, atualmente a Amaggi possui todos os fornecedores diretos dos biomas Amazônia e Cerrado rastreados e monitorados. Para 2022 o compromisso se estende a fornecedores de todo o país, incluindo os indiretos. Em 2025 a régua sobe para todas as localidades nas quais a empresa atua, chegando a 100% da cadeia de grãos livres de desmatamento e conversão de vegetação nativa. O projeto da empresa está em linha com o movimento global Race to Zero, liderado pela ONU (Organização das Nações Unidas).
No relatório de progresso sobre o desempenho de 2020 para os dois biomas estão 15.251 CARs (cadastro ambiental rural), 31% acima de 2019. Os CARs representam 5.322 propriedades rurais monitoradas e que fornecem grãos e fibras à Amaggi, 30% acima do ano anterior. São 15,3 milhões de hectares de terras (+16%), dos quais 5,9 milhões (+19%) são áreas de vegetação nativa preservadas. O acompanhamento dessas propriedades mostra que 99% dos fornecedores diretos rastreados e monitorados e 30% dos indiretos. No caso das terras próprias, a Amaggi está em conformidade desde 2008 para livre de desmatamento e conversão de áreas. “Já atingimos 99% de zero desmatamento e conversão na cadeia rastreada no último ano, somos líderes mundiais em certificações socioambientais e temos uma produção agrícola de ponta, benchmarking para muitos países”, pontua Juliana.
A partir deste inventário, a empresa estabeleceu ações para chegar a emissões líquidas zero até 2050 (NetZero emissions). Mas quer apertar o passo. Por isso, até 2035 estão as estratégias de descarbonização e neutralizações residuais baseadas em SBTi (Science-Based Targets) initiative que, trocando em miúdos, significa investir em agricultura regenerativa e de baixo carbono. Os relatórios de progresso vão acompanhar os desdobramentos das práticas de descarbonização e como elas ocorrem em toda a cadeia. Eles também servem de documentação internacional e dão subsídios para as demandas de clientes internacionais. Por exemplo, se um comprador de soja quiser saber qual era o status de uma determinada área em 2015, 2010 ou qualquer outra data, será possível prestar tal informação.
A Amaggi também apresentou o upgrade de um programa lançado em 2017, o Origins, uma plataforma atestada por terceira parte que monitora a origem e a rastreabilidade de todo o processo das cadeias de grãos. “Claro que ESG inclui demonstrações, relatórios de sustentabilidade, mas estamos falando além disso. Na área financeira significa transparência e comunicação”, afirma Dante Pozzi, há 10 anos na empresa e atual CFO da Amaggi. “É um processo de aprendizagem que só se consegue através da transparência.” Nessa trajetória o executivo cita como exemplo de negociação a concessão de financiamento no valor de US$ 209,5 milhões (cerca de R$ 1 bilhão) por meio da IFC (International Finance Corporation) e dos bancos Rabobank e Santander, para projetos de expansão e melhoria da cultura do algodão. O acordo saiu em maio.
A engenheira agrônoma Fabiana Alves, diretora executiva de Corporate Clients do Rabobank Brasil, afirma que os compromissos públicos assumidos pelas empresas do setor passam a ser essenciais no cenário de ESG e que “abraçar agendas” nas quais os processos de transparências são perceptíveis para a sociedade faz parte das políticas que mudam o setor. “O agronegócio é extremamente dependente dos recursos naturais”, diz a executiva. “Não há futuro sem agro e não há agro sem ESG.” Para dar suporte aos compromissos, além da presença das instituições financeiras, a Amaggi tem um amplo leque de parcerias, entre elas com a TNC (The Nature Conservancy), o PCI (Produzir, Conservar e Integrar), com a Coalizão Brasil. Na área da pesquisa estão Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Nas inovações no campo e certificações estão a Fundação Mato Grosso, a UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), a empresa de biotecnologia TMG, a Proterra, a RTRS (Round Table on Responsible Soy Association), entre outras.
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