A multinacional suíça de alimentos Nestlé apresentou ontem (16) um plano global para apoiar e acelerar a transição a um sistema alimentar regenerativo. Com isso, proteger e restaurar o meio ambiente, melhorar os meios de subsistência dos agricultores e aumentar o bem-estar das comunidades agrícolas. A Nestlé pretende envolver no projeto cerca de 500 mil agricultores e 150 mil fornecedores, além de investir 1,2 bilhão de francos suíços (US$ 1,28 bilhão na cotação de hoje), nos próximos cinco anos para estimular a agricultura regenerativa em toda a cadeia de fornecimento da empresa.
“Por meio de parcerias de longa data com comunidades agrícolas em todo o mundo, pretendemos aumentar nosso apoio às práticas agrícolas que são benéficas para o meio ambiente e para as pessoas”, disse Mark Schneider, CEO da Nestlé. “Para podermos fazer uma transição justa, é vital apoiarmos os agricultores em todo o mundo que assumem os riscos e custos associados à evolução para a agricultura regenerativa.”
O anúncio está sendo feito antes da Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU (Organização das Nações Unidas) em Nova York, como parte da contribuição da empresa ante os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) a serem alcançados até 2030. O projeto também se alinha ao recente relatório do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudança Climática que mostra a crise climática se intensificando.
“Sabemos que a agricultura regenerativa desempenha um papel fundamental na melhoria da saúde do solo, restaurando os ciclos da água e aumentando a biodiversidade no longo prazo”, disse Paul Bulcke, presidente do conselho da Nestlé. “Esses resultados formam a base da produção sustentável de alimentos e também contribuem fundamentalmente para alcançarmos as nossas ambiciosas metas climáticas.”
Para estimular a agricultura regenerativa em toda a cadeia de fornecimento da empresa serão utilizadas três alavancas para dar suporte aos agricultores:
• Ciência e tecnologia de ponta com assistência técnica: Um exemplo é a atual rede de especialistas em P&D e os agrônomos. A Nestlé está desenvolvendo variedades de café e cacau com maior rendimento e menor impacto ambiental, avaliando novas soluções para reduzir as emissões na cadeia de abastecimento de lácteos. Além disso, a empresa oferece treinamento agrícola e ajuda os agricultores na troca de informações e melhores práticas de manejo.
• Apoio a investimentos: A transição para a agricultura regenerativa vem com riscos iniciais e novos custos. A empresa apoiará os agricultores coinvestindo com eles, facilitando empréstimos ou ajudando-os a obter empréstimos para equipamentos específicos. Também trabalhará com parceiros para financiar projetos-piloto para testar e aprender a melhor forma de promover a agricultura regenerativa.
• Pagamento de prêmios por produtos agrícolas regenerativos: A empresa oferecerá prêmios por diversas matérias-primas produzidas usando práticas de agricultura regenerativa e comprará quantidades maiores.
Para a Nestlé, as práticas agrícolas regenerativas mais importantes promovem o aumento da biodiversidade, a conservação do solo, a regeneração dos ciclos da água e a integração da pecuária. A agricultura é responsável por quase dois terços das emissões totais de gases de efeito estufa da Nestlé, com laticínios e pecuária respondendo por cerca de 50% desse total. No setor de laticínios, por exemplo, a Nestlé está avaliando ciência e tecnologia de ponta para reduzir as emissões nas fazendas.
A empresa começará a trabalhar com 30 fazendas de laticínios de referência em 12 países para testar práticas agrícolas renováveis, ecológicas e escalonáveis que ajudem a atingir emissões zero de gases de efeito estufa. A empresa também está trabalhando com agricultores para selecionar e cultivar variedades de leguminosas nutritivas e saborosas para serem usadas como alternativas ao leite.
Brasil na pauta da agricultura regenerativa
No Brasil, a Nestlé emprega 30 mil pessoas e possui 20 unidades agroindustriais. A empresa possui algumas iniciativas que já trilham o caminho das tecnologias regenerativas, em busca de minimizar o impacto ambiental no uso dos recursos naturais, ter eficiência e produtividade, além do direcionamento de financiamentos e investimentos para uma economia circular e de baixo carbono.
Um dos exemplos é o Nescafé Plan, programa de sustentabilidade na lavoura (o maior do mundo na cafeicultura), que está completando dez anos. As transformações dos processos no campo têm o objetivo de alcançar a meta de até 2022 ser a primeira marca de café torrado e moído carbono neutro do país.
Na cadeia do leite, a Nestlé e a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) firmaram esse ano uma parceria para pesquisa e desenvolvimento das primeiras fazendas de produção de leite Net Zero e baixo carbono no país. Serão 20 propriedades produtoras de leite que receberão suporte técnico e recomendações para iniciarem a jornada de conversão e redução de carbono. Essa iniciativa é desenvolvida de forma paralela à primeira parceria fechada com a Embrapa, em fevereiro, para a criação do primeiro protocolo nacional para pecuária de leite de baixo carbono, o que envolve olhar para diferentes frentes da produção em questões como manejo do solo, transporte, bem-estar animal e descarte de resíduos.
Também se encontra em estudo uma calculadora que mostrará o balanço de carbono equivalente das propriedades leiteiras em diferentes biomas e sistemas de produção para obter o perfil de emissões de cada propriedade, o que vai possibilitar a criação de planos individualizados de atuação para redução em cada uma delas. A Nestlé anunciou ainda que 100% das fazendas leiteiras fornecedoras terão gestão hídrica até 2022, com indicadores de eficiência monitorados via app, em linha com as diretrizes do Programa de Práticas Sustentáveis, que estimula a produção de leite de forma sustentável e o mais próxima possível do estado natural.
Em 2020, a Nestlé também se tornou a primeira empresa láctea a atuar com os produtores para a economia de água, pagando bônus no preço do leite ao pecuarista comprometido com as boas práticas hídricas. Ao final do ano, as 60 fazendas leiteiras participantes do programa economizaram cerca de 19 milhões de litros de água, o equivalente a uma redução de 8% na comparação com 2019.
Outro exemplo vem da cadeia de cacau. Por meio do programa de certificação Nestlé Cocoa Plan, a empresa olha para questões como produção em áreas livres de desmatamento e uso de sistemas agroflorestais, sem utilização de defensivos agrícolas, ênfase na produtividade e rentabilidade das lavouras, atendimento a critérios de qualidade e conformidade social e ambiental dos fornecedores. No Brasil, a empresa aumentou o número de propriedades rurais no programa de 270, em 2019, para 1.093 em 2020, utilizando o geomonitoramento, no Espírito Santo, São Paulo, Bahia, Pará e Rondônia. A meta é ter 100% da cadeia de fornecimento de cacau brasileira certificada até 2025.
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