Foi quase um desastre diplomático.
Alok Sharma, o presidente da conferência do clima da ONU na Escócia, havia convocado a reunião final de representantes de quase 200 países para finalizar o Pacto Climático de Glasgow, um acordo que visa garantir que o mundo ainda tenha uma chance de evitar os piores impactos do aquecimento global.
Era o momento definitivo após semanas de árduas negociações e meses de cuidadosos preparativos. Os delegados na sala plenária da COP26 estavam tirando fotos para marcar o momento histórico.
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Mas, enquanto os enviados se preparavam para tomar seus assentos para assinar o acordo na noite de sábado, uma questão não resolvida sobre carvão ameaçou o futuro da negociação, com a maioria das pessoas na sala sem fazer ideia disso.
China, Índia e outras nações em desenvolvimento ricas em reservas de carvão ameaçavam derrubar o acordo por conta de um termo específico, que pedia aos governos que “eliminassem” o uso do carvão, uma demanda considerada injusta e prejudicial para seu crescimento econômico.
O enviado especial dos EUA, John Kerry, estava trabalhando na sala e soube do dilema enquanto conversava com seu colega chinês Xie Zhenhua. Dias antes, os dois homens haviam agitado a cúpula ao revelar uma declaração conjunta surpresa na qual Pequim prometia aumentar sua ambição de reduzir as emissões.
“Você deveria estar eliminando progressivamente o carvão nos próximos 20 anos, você acabou de assinar um acordo conosco”, disse Kerry a Xie enquanto estavam juntos na movimentada sala do plenário.
Xie, por meio de seu tradutor, respondeu: “Nós dissemos redução gradual.”
Momentos depois, enquanto as delegações de outros países aguardavam a abertura da plenária, Kerry, Xie e seus colegas da União Europeia e Índia deixaram a sala para se reunir em particular. Eles voltaram cerca de 30 minutos depois.
Quando Xie voltou, disse a um repórter da Reuters que “nós temos um acordo” e fez sinal de positivo.
Esse acordo foi apresentado à sala de forma estranha.
Quando Sharma finalmente abriu a reunião e deu início ao processo de assinatura do acordo, China e Índia intervieram. Foi a Índia que apresentou uma proposta de última hora: a “eliminação progressiva” do carvão deveria se tornar uma “redução gradual”, disse o ministro do Meio Ambiente, Bhupender Yadav.
Sharma, de pé no palanque, parecia prestes a chorar. Ele pediu desculpas ao plenário e, em seguida, perguntou se a proposta era aceitável.
Apesar de duras críticas de países, desde a Suíça ao México, que temiam que uma “redução gradual” abrisse as portas para o uso infinito do carvão, nenhum deles estava disposto a deixar Glasgow sem um acordo. E assim ele foi aceito.
Os representantes insatisfeitos foram autorizados a falar. Em seguida, Sharma pediu ao plenário que apoiassem a aprovação do acordo e, sem nenhum delegado realizando objeções formais, ele bateu o martelo para indicar a aprovação.
Questionado sobre ter se exaltado no palco, Sharma disse mais tarde aos repórteres: “Eu dormi cerca de seis horas nos últimos três dias. Mas você sabem, é emocionante, no sentido de que coletivamente, como uma equipe, alcançamos aquilo que eu suspeito que muitas pessoas duvidavam.”
Em um acordo já cheio de concessões, esta foi apenas mais uma.
Para Kerry, que ajudou a intermediar o dilema, foi isso que manteve o Pacto Climático de Glasgow de pé. “Se não tivéssemos feito isso, não teríamos um acordo”, disse ele a repórteres. (Com Reuters)